Estou com overdose de gente. Natal é tempo de encontrar quem há muito tempo não encontramos. Tios, primos, amigos, aqueles que em algum lugar da vida tiveram muito a ver conosco e que, de algum modo, são estranhos. Ou até, de identidade imposta.
Vejo os rostos tão familiares... tento resgatar alguma coisa que se perdeu, mas não encontro mais.
O discurso sem discurso. Os fatos sem a menor importância. Contam o que aconteceu no ano que se passou. Os fatos. O que se conquistou. O que se perdeu. As anedotas - dos outros. Mas... e o que mais?
O que se passa ao seu redor?
De que vale o último prêmio que conquistou? Passou...
De que vale o carro que comprou? Bateu...
Ou o anel de zilhões de dólares que ganhou do marido? Se seu amor está agora passando o natal com a esposa grávida...
Se o espírito de natal, talvez, for pretexto para reencontrar quem amamos, por que fazemos tanta questão de deles nos distanciar?
Um oi sincero, olhos nos olhos, olhos de quem baixa a guarda e expõe toda a alma, e olhos atentos de quem quer acolher isento de qualquer preconceito. O que te fez saltar do tempo corrido e visitar toda a infinidade do mundo - o que te fez, em um instante, devastar seu passado, acolher o futuro e, de soslaio, varrer o tempo da humanidade? Ou, o que te roubou aquela lágrima no canto dos olhos?
O que te perturba? Ou, por que não mais perturba?
Ou será
que a aflição do Natal vem justamente pq tudo isso pode ganhar a superfície? E o que faremos com o sobrenadante? Não dá mais para afundar...
Tudo bem. Passa. Vem o carnaval, e tudo fica como antes, até voltar toda essa ansiedade que simula o fim do mundo.
..e que começa com as primeiras luzinhas clandestinas nas ruas escuras.
Pascal: "Les hommes sont si nécessairement fous que ce serait être fou par un autre tour de folie de n’être pas fou’. (...) Il faut faire l’histoire de cet autre tour de folie, de cet autre tour par lequel les hommes, dans le geste de raison souveraine qui enferme leur voisin, communiquent et se reconnaissent à travers le langage sans merci de la nonfolie...”
domingo, 26 de dezembro de 2010
sábado, 18 de dezembro de 2010
verde/vermelho
"... na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, amando-te e respeitando-te por todos os dias da nossa vida"
A felicidade estava estampada no rosto dos recém-casados. Partiram para a fase de brincar de casinha. O espaço era o mesmo de hoje, mas vazio. Esperavam o início do mês e partiam para as casas de decoração, Leroy Merllin, Telhanorte, C&C, atrás de móveis, luminárias, espelhos, louças, roupa de banho, roupa de cama, armários... tintas... cores! Ela amava verde. Ele, vermelho. Para ela, hipermétrope, tudo ficava mais nítido no verde. Para ele, míope, no vermelho era tudo mais brilhante. O contraste era mais nítido nas cores contrastantes.
E isso é fato! A ciência explica.
Mas sempre entravam num acordo. Ela ajustava o foco e curtia as linhas no vermelho. Ele, um homem de visão, desejava enxergar o porvir, e corrigia a miopia - até o verde lhe ficava nítido!
Assim, aquele sofá vermelho que ele escolhera estava ótimo para ela.
E, aquela escultura verde que ela adorava, para ele tinha uns traços interessantes.
E enfim sossegaram! Tinha cara de casa. E era uma delícia esperar pelo fim da jornada de trabalho, nem o trânsito pesava: tinham casa para voltar! O aconchego em quem te espera...
Assim foi qdo transformaram o escritório no quarto de bebê. Que passou a quarto de criança... para quarto de adolescente... para um quarto semi-abandonado... até a um quarto abandonado... e que viraria sala de televisão.
Ela já não conseguia mais ajustar o foco. Mas deu de ombros. Adorava o verde, e bastava ver o mundo no verde. Conseguia ver as novelas, e isso era muito bom! Odiava vermelho, mas tudo bem, não enxergava mesmo o vermelho...
Ele havia tempo que não era mais "um homem de visão". Já estava aposentado, para que se preocupar com o porvir? Já nem mais corrigia a miopia - estava satisfeito com a leitura do jornal - mas bem que poderiam aumentar o caderno do sudoku e palavras cruzadas. Assim, só enxergava a nitidez no vermelho. Odiava o verde, mas nem mais se importava com isso - não passava de um borrão, e só qdo estava num raio de 1 metro de distância. Além disso, o mundo para ele não existia.
A casa agora tinha duas apresentações. Paredes, teto, televisão, cozinha, banheiro... escultura (ahhh, como era linda aquela escultura...). Paredes, teto, som, jornal, cozinha, banheiro... e o sofá do qual Ele não saía!
O filho insistiu tanto, mas tanto, que resolveram procurar o oftalmologista. Poxa, a carteira de motorista estava para vencer e o exame médico prévio já fora complicado! "Ok, ok, pode marcar!"
Ambos com 3 graus! Ela, nas lentes convergentes. Ele, nas lentes divergentes.
Óculos novos, as ruas nunca foram tão bonitas! Olha só as folhinhas da árvore!! E a bula dos remédios - olha só o perigo da medicação que resolvi tomar!!! Voltaram para casa encantados com o mundo que há tempos ficara registrado no álbum de fotografias e nos porta-retratos espalhados pela casa.
Abriram a porta da casa.
Que escultura horrível!
Sofá pavoroso!!!
Cadê a sensação de aconchego de "voltar para casa"? Onde está minha casa? Que casa é essa? De quem é essa casa?
Estáticos, no hall de entrada, assim permaneceram enquanto toda a vida passada se revelou, em cores, numa velocidade e luminosidade de uma epifania. Porém de sensação diversa: a angústia pela vida sem cor. Como puderam se submeter? Que vida desgraçada foi essa? E agora? Quanto tempo se foi? Quanto tempo... me resta?
Em uníssono, sincrônicos nos movimentos, levantaram a mão direita em direção aos óculos... retiraram... guardaram cuidadosamente no estojinho...
Ela foi para a salinha de televisão.
Ele pegou o jornal e se sentou no sofá.
A felicidade estava estampada no rosto dos recém-casados. Partiram para a fase de brincar de casinha. O espaço era o mesmo de hoje, mas vazio. Esperavam o início do mês e partiam para as casas de decoração, Leroy Merllin, Telhanorte, C&C, atrás de móveis, luminárias, espelhos, louças, roupa de banho, roupa de cama, armários... tintas... cores! Ela amava verde. Ele, vermelho. Para ela, hipermétrope, tudo ficava mais nítido no verde. Para ele, míope, no vermelho era tudo mais brilhante. O contraste era mais nítido nas cores contrastantes.
E isso é fato! A ciência explica.
Mas sempre entravam num acordo. Ela ajustava o foco e curtia as linhas no vermelho. Ele, um homem de visão, desejava enxergar o porvir, e corrigia a miopia - até o verde lhe ficava nítido!
Assim, aquele sofá vermelho que ele escolhera estava ótimo para ela.
E, aquela escultura verde que ela adorava, para ele tinha uns traços interessantes.
E enfim sossegaram! Tinha cara de casa. E era uma delícia esperar pelo fim da jornada de trabalho, nem o trânsito pesava: tinham casa para voltar! O aconchego em quem te espera...
Assim foi qdo transformaram o escritório no quarto de bebê. Que passou a quarto de criança... para quarto de adolescente... para um quarto semi-abandonado... até a um quarto abandonado... e que viraria sala de televisão.
Ela já não conseguia mais ajustar o foco. Mas deu de ombros. Adorava o verde, e bastava ver o mundo no verde. Conseguia ver as novelas, e isso era muito bom! Odiava vermelho, mas tudo bem, não enxergava mesmo o vermelho...
Ele havia tempo que não era mais "um homem de visão". Já estava aposentado, para que se preocupar com o porvir? Já nem mais corrigia a miopia - estava satisfeito com a leitura do jornal - mas bem que poderiam aumentar o caderno do sudoku e palavras cruzadas. Assim, só enxergava a nitidez no vermelho. Odiava o verde, mas nem mais se importava com isso - não passava de um borrão, e só qdo estava num raio de 1 metro de distância. Além disso, o mundo para ele não existia.
A casa agora tinha duas apresentações. Paredes, teto, televisão, cozinha, banheiro... escultura (ahhh, como era linda aquela escultura...). Paredes, teto, som, jornal, cozinha, banheiro... e o sofá do qual Ele não saía!
O filho insistiu tanto, mas tanto, que resolveram procurar o oftalmologista. Poxa, a carteira de motorista estava para vencer e o exame médico prévio já fora complicado! "Ok, ok, pode marcar!"
Ambos com 3 graus! Ela, nas lentes convergentes. Ele, nas lentes divergentes.
Óculos novos, as ruas nunca foram tão bonitas! Olha só as folhinhas da árvore!! E a bula dos remédios - olha só o perigo da medicação que resolvi tomar!!! Voltaram para casa encantados com o mundo que há tempos ficara registrado no álbum de fotografias e nos porta-retratos espalhados pela casa.
Abriram a porta da casa.
Que escultura horrível!
Sofá pavoroso!!!
Cadê a sensação de aconchego de "voltar para casa"? Onde está minha casa? Que casa é essa? De quem é essa casa?
Estáticos, no hall de entrada, assim permaneceram enquanto toda a vida passada se revelou, em cores, numa velocidade e luminosidade de uma epifania. Porém de sensação diversa: a angústia pela vida sem cor. Como puderam se submeter? Que vida desgraçada foi essa? E agora? Quanto tempo se foi? Quanto tempo... me resta?
Em uníssono, sincrônicos nos movimentos, levantaram a mão direita em direção aos óculos... retiraram... guardaram cuidadosamente no estojinho...
Ela foi para a salinha de televisão.
Ele pegou o jornal e se sentou no sofá.
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
Entre o céu e a terra
Estávamos voltando da praia, pela serra do mar, dia maravilhoso e nós no carro...
A quietude mostrava bem o clima de fim de festa, acentuado pelo convite que a natureza insiste em nos oferecer.
As crianças aceitam pelo hábito. Mas o pensamento fica loooongeeee...
Olhando pela janelinha para a orla do mar, Lulu, então com 6 anos, pergunta:
- A praia tem fim?
Já imaginei a cena que ela estava imaginando. Estava na fase de encanto pelo universo, pelos planetas, estrelas.. começava a passear além do mundo sublunar de Aristóteles.
- Imagine um prato em cima da mesa. Agora, o continente é o prato e a mesa é o mar. Se caminharmos na bordinha do prato (a praia), nunca vamos parar. Não tem fim. Mas por outro lado, onde termina o prato? É onde começa a mesa. Então tem fim!
Adoro os caminhos do pensamento, os saltos, a ponte entre vias paralelas que acaba aproximando-nas de um modo inusitado. As crianças são filósofas por natureza. A vida utilitária que nos foi imposta é que mascara e corta todo esse encanto.
Vem a Gabi, 9 anos
- Mas do que vcs estão falando? Vcs estão loucas? A praia termina onde começam as pedras, oras!
Rimos.
Muito.
Como não nos curvar à praticidade, à ação, ao visível, ao real...
... ao útil?
A quietude mostrava bem o clima de fim de festa, acentuado pelo convite que a natureza insiste em nos oferecer.
As crianças aceitam pelo hábito. Mas o pensamento fica loooongeeee...
Olhando pela janelinha para a orla do mar, Lulu, então com 6 anos, pergunta:
- A praia tem fim?
Já imaginei a cena que ela estava imaginando. Estava na fase de encanto pelo universo, pelos planetas, estrelas.. começava a passear além do mundo sublunar de Aristóteles.
- Imagine um prato em cima da mesa. Agora, o continente é o prato e a mesa é o mar. Se caminharmos na bordinha do prato (a praia), nunca vamos parar. Não tem fim. Mas por outro lado, onde termina o prato? É onde começa a mesa. Então tem fim!
Adoro os caminhos do pensamento, os saltos, a ponte entre vias paralelas que acaba aproximando-nas de um modo inusitado. As crianças são filósofas por natureza. A vida utilitária que nos foi imposta é que mascara e corta todo esse encanto.
Vem a Gabi, 9 anos
- Mas do que vcs estão falando? Vcs estão loucas? A praia termina onde começam as pedras, oras!
Rimos.
Muito.
Como não nos curvar à praticidade, à ação, ao visível, ao real...
... ao útil?
domingo, 28 de novembro de 2010
Branco
Dia branco, como a noite de Dostoiévski. Nem sol, nem chuva.
Ou, quase sol, quase chuva, quase lua.
Estou no ponto em que a reta faz a curva.
Sensação de gravidade zero, em que a energia potencial é infinita.
Uma saudade que passou de doer, o tesão que transbordou, o músculo que estirou.
A única aparente apatia do branco-nada que mascara a angústia e a violência do embate de todas as cores, humores, paixões e potências de resultante... zero.
Estátua de maremoto
Círculo de Newton.
Aguardo a faísca.
Ou, quase sol, quase chuva, quase lua.
Estou no ponto em que a reta faz a curva.
Sensação de gravidade zero, em que a energia potencial é infinita.
Uma saudade que passou de doer, o tesão que transbordou, o músculo que estirou.
A única aparente apatia do branco-nada que mascara a angústia e a violência do embate de todas as cores, humores, paixões e potências de resultante... zero.
Estátua de maremoto
Círculo de Newton.
Aguardo a faísca.
L'autre tour de la folie
Alguns acham que estou louca. Dizem que não mais me reconhecem. Por educação, eufemismo, dizem "corajosa".
Quem será que inventou que loucura e coragem são semelhantes? Engraçado que tudo me leva a crer que são justamente os que se dizem "normais".
Portanto, quem se acha normal não se sente corajoso ou, não vive situações que dela necessitem no dia a dia. Talvez porque não se arrisque...
Entretanto, quando atuo conscientemente, como resultado de uma escolha deliberada, não sinto que me arrisco. Não tenho dúvidas. Tampouco me sinto corajosa. Trata-se do meu normal.
Parece que a experiência da loucura desenha o contorno do pensamento, da normalidade. Frente a isso, só nos resta excluí-la ou incluí-la:
Ao excluirmos a loucura, nada se acrescenta.
Ao incluí-la, experimentamos o risco. Cheios de medos. Repletos de coragem. E só aumentamos o contorno do pensamento, só inovamos à partir do momento em que aquilo deixa de ser sentido como loucura.
Esse raciocínio circular me mostra como a novidade à beira do abismo (loucura) é importante para mim. E como seria louca ao excluí-la - l'autre tour de la folie.
Quem será que inventou que loucura e coragem são semelhantes? Engraçado que tudo me leva a crer que são justamente os que se dizem "normais".
Portanto, quem se acha normal não se sente corajoso ou, não vive situações que dela necessitem no dia a dia. Talvez porque não se arrisque...
Entretanto, quando atuo conscientemente, como resultado de uma escolha deliberada, não sinto que me arrisco. Não tenho dúvidas. Tampouco me sinto corajosa. Trata-se do meu normal.
Parece que a experiência da loucura desenha o contorno do pensamento, da normalidade. Frente a isso, só nos resta excluí-la ou incluí-la:
Ao excluirmos a loucura, nada se acrescenta.
Ao incluí-la, experimentamos o risco. Cheios de medos. Repletos de coragem. E só aumentamos o contorno do pensamento, só inovamos à partir do momento em que aquilo deixa de ser sentido como loucura.
Esse raciocínio circular me mostra como a novidade à beira do abismo (loucura) é importante para mim. E como seria louca ao excluí-la - l'autre tour de la folie.
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
puff
Acho que foi naquela manhã de Agosto. O despertador tocou na hora certa. Abri os olhos... mas onde diabos estava? Conhecia aquela cama, os quadros na parede, a ausência de luminária, a fronha do travesseiro... mas não parecia ser minha casa.
Será que o sonho tinha sido bom demais? Que contraste afinal era aquele?
Eu não me sentia no lugar certo.
Ele me procurava, eu até conhecia o caminho daquele corpo. Era-me familiar. Mas não parecia ser o meu caminho. Interajo pela força do hábito. Funciona. Em preto e branco.
Tomo o meu banho, faço o café, me arrumo para sair. E me despeço...
Não posso olhar nos seus olhos.
Procuro o que olhar e encontro o abismo...
Perdi meu chão.
Um sorriso forçado, um até mais tarde, e uma lágrima solitária no canto dos olhos.
Eu só quero fugir daquele lugar.
Sem chão
Sem cor
Sem sol
Rápido, muito rápido, para alçar vôo
e plainar pelos mastros no ar...
Será que o sonho tinha sido bom demais? Que contraste afinal era aquele?
Eu não me sentia no lugar certo.
Ele me procurava, eu até conhecia o caminho daquele corpo. Era-me familiar. Mas não parecia ser o meu caminho. Interajo pela força do hábito. Funciona. Em preto e branco.
Tomo o meu banho, faço o café, me arrumo para sair. E me despeço...
Não posso olhar nos seus olhos.
Procuro o que olhar e encontro o abismo...
Perdi meu chão.
Um sorriso forçado, um até mais tarde, e uma lágrima solitária no canto dos olhos.
Eu só quero fugir daquele lugar.
Sem chão
Sem cor
Sem sol
Rápido, muito rápido, para alçar vôo
e plainar pelos mastros no ar...
domingo, 14 de novembro de 2010
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
terça-feira, 9 de novembro de 2010
De repente
Como viemos parar aqui?
Perdida numa noite suja, errante, arisca e arredia...
Destemida
Descrente
Atrás de tornados, maremotos,
qualquer força que me recordasse a vida,
e nela retornasse logo após
Longe de amarras
asfixia
ou inquietude
Já nem mais sabia da brisa!
E te encontro
Tens algo manso no olhar
que faz acreditar na leveza
Tão fácil...
Ao teu lado flutuamos à margem
da descrença e do cinismo
até aqui
até o fim raiar...
sábado, 30 de outubro de 2010
Em Cont(r)o-ibuição
http://www.matematicosmarcovaldos.blogspot.com/2010/08/conto-ibuicao.html
http://autretourdelafolie.blogspot.com/2010/08/socorro.html
http://matematicosmarcovaldos.blogspot.com/2010/08/em-contro-ibuicao-3.html
http://autretourdelafolie.blogspot.com/2010/08/tinha-que-passar-por-cima-de-muitas.html
E de novo naquele cruzamento!
Seguiu seu corpo caminhar para o banco. Tinha que pagar a conta da água e luz. Cumpriu as tarefas com uma náusea de tudo. Mas não havia outro jeito.
No way out.
Como seria capaz de andar no outro lado da calçada? Como poderia existir outra casa? Como perder a que tinha? Que outra vida?
Não para ele.
Resignou-se a prosseguir pelo mesmo caminho daquela mesma hora da semana passada, identica àquela daquele dia daquele ano em que o seu segundo filho nasceu.
A melodia o persegue:
Mas ele ainda persegue aquele sabor.
Cada vez mais distante
cada vez mais amargo
http://autretourdelafolie.blogspot.com/2010/08/socorro.html
http://matematicosmarcovaldos.blogspot.com/2010/08/em-contro-ibuicao-3.html
http://autretourdelafolie.blogspot.com/2010/08/tinha-que-passar-por-cima-de-muitas.html
continuando...
E de novo naquele cruzamento!
Seguiu seu corpo caminhar para o banco. Tinha que pagar a conta da água e luz. Cumpriu as tarefas com uma náusea de tudo. Mas não havia outro jeito.
No way out.
Como seria capaz de andar no outro lado da calçada? Como poderia existir outra casa? Como perder a que tinha? Que outra vida?
Não para ele.
Resignou-se a prosseguir pelo mesmo caminho daquela mesma hora da semana passada, identica àquela daquele dia daquele ano em que o seu segundo filho nasceu.
A melodia o persegue:
Mas ele ainda persegue aquele sabor.
Cada vez mais distante
cada vez mais amargo
Matrix
Preciso aprender a ser tolerante.
Mas não consigo me conformar.
Passa-se o início da vida correndo atrás de conquistas. Tarefas, escola, notas, metas, diploma, curriculum: filiação, estado civil, formação, formação acadêmica, atuação profissional, domicílio, carro, casa na praia, no campo, família linda, almoço de domingo, feriado, natal, amigo secreto. Reveillon e carnaval tá liberado - em termos...
O álbum de fotografias vai se colecionando na estante de vidro, junto aos porta-retratos.
Por vezes até se sente que falta ajuste na engrenagem... Até se sente patinar, mas o motor contínuo não pára. A folga entre o degrau e o nosso movimento é cada vez maior. A rotina carrega, segura por toda estrutura construída em torno do motor contínuo de puro aço. Dali a pouco, promove até um vagão de primeira classe e, na poltrona confortável, continua se arrastando, produzindo, conquistando, com seguro contra perdas - o que se diz fundamental nessa vida!
Eu sei que cada um tem sua própria racionalidade para enfrentar os contratempos. E sei que precisamos respeitar e entender a racionalidade de cada um para conseguir prosseguir qualquer relacionamento. Entendo sua racionalidade. Entendo seu medo.
Mas não me conformo...
Que medo é esse de perder o que conquistou? O que temos afinal? Nenhuma garantia. E isso não é pesaroso. É fato. Pra que, então, agarrar no pouco que tem ("ruim com ele(a), pior sem ele(a)")? Deste modo, assim que se tem, se torna pouco. Tem gente que vive olhando para trás, e outros que vivem olhando para frente. Eu não olho para trás. Sei que tbém não é certo - putz, como o avesso cutuca... mas olhar para trás tbém não nos faz caminhar.
Vc quis cantar sua canção iluminada de sol. Eu sei.
Mandou plantar folhas de sonho no jardim do solar. Lembra?
Te amo. É muito querido(a), e sabe disso. Te admiro - soltou os panos sobre os mastros no ar!!! Sobre a brisa! Vc me ensinou.
Preciso aprender a ser tolerante.
Mas não me conformo.
É um desperdício de humanidade.
De novo, te amo, viu!
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Suspicious eyes
Sabemos tudo muito bem. Não é preciso palavras. E nem seria decente.
Sigo meu caminho enquanto segue o seu. São muitas descobertas, o "eu" experimental de Montaigne, que não se resigna frente à infinitude da natureza. Acho que nos encontramos neste ponto, em que a dança é tão espalhada que atropela quem fica parado por perto...
Que diabo de armadilha é essa? Não era a minha intenção, acho que nem a sua. Mas a rede vai me puxando... tento tanto escapar, mas não consigo. Assuntos, planos, enganos, intuições, uma coincidência de sensações apesar da distância entre nós.
Por que precisa tanto de uma certeza? Que certeza posso te oferecer? Se, diante do meio conceitualmente construído pela razão humana, o acaso (o erro) emerge como principal transformador da história do pensamento? Na ciência da vida, o maior engano é procurar o conforto do que é certo, claro e distinto...
Não tema meus atos, meus enganos, minhas experimentações.
É o jeito que encontro de me manter viva.
Não suspeite da incerteza do infinito que tenho a te oferecer.
É o jeito que encontro de nos amar.
É a armadilha do acaso
do que acreditamos ser um erro
do que nos desvia das nossas intenções
a cura para a cegueira
Why can't you see
so easy...
domingo, 24 de outubro de 2010
Para ler todos os dias!!!
"O difícil, o dificílimo, o tremendamente difícil é você, no convívio de sua facilidade (principalmente se for a riqueza), conservar a integridade moral do seu destino de artista. É difícil, porém não é impossível. De uma coisa eu tenho certeza: por mais que seja a facilidade (felicidade) que focê conquistar, seja vc artista, Hitler, Stalin, inventor, Getúlio ou ladrão, vc jamais ficará satisfeito: há de querer mais. Nisto não há mal: é a marca divina do homem. O mal é que, embora buscando sempre aumentar insatisfeitamente a "felicidade" conquistada, o mal é que vc, embora pretenda se aumentar, vc principia agindo sorrateiramente como se estivesse satisfeito: é o conformismo. Esta é a cilada que o homem encontra quotidianamente em seu caminho, o conformismo. Ela principia já por ser fisiológica: é a lei que eu chamo da "preguiça", nós vivemos morrendo. Quando o princípio moral verdadeiro, é justo o contrário: nós devemos viver sempre nascendo: tudo deve ser sempre objeto de aprimoramento pessoal e a busca da perfeição. Não hesito em afirmar: toda facilidade, toda felicidade é desmoralizante. Mas então como conciliar a minha até intimação de vc aceitar a felicidade que a vida está lhe oferecendo e esta convicção de que a felicidade é desmoralizadora?
É simples. É vc não perder jamais de consciência que a sua experiência de felicidade deve ser tbém um objeto de aprimoramento pessoal. A felicidade, o prazer, a facilidade tbém é uma prova por que a gente passa."
Mário de Andrade: "Cartas a um jovem escritor"
É simples. É vc não perder jamais de consciência que a sua experiência de felicidade deve ser tbém um objeto de aprimoramento pessoal. A felicidade, o prazer, a facilidade tbém é uma prova por que a gente passa."
Mário de Andrade: "Cartas a um jovem escritor"
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
.
Não sei pq me submeto a sofrer desse jeito. Por que precisa ser com vc? Na penumbra, os corpos se resumem a corpos... ou não? Por que quero teu corpo, teu cheiro, teu abraço e de mais ninguém? O que faz com que meu corpo seja tão seletivo?
Quero teu olhar que me fagocita e acaba com essa saudade que me mata... aos poucos... que anula meu espírito e o gosto da vida na minha boca. O teu abraço apertado que aquece meu corpo, vc dentro de mim e o carinho da língua na minha.
Quero sentir o contorno do teu corpo colado no meu, tênue linha que nos separa.
Não aguento mais essa distância, essa falta de tempo, quero tudo colado - corpo, espaço, tempo. E que tudo se anule: imaterial, atemporal, atópico.
Vamos acabar com essa área que nos separa, quero unidimensional, quero ponto
...........................................
Agora aí estamos.
A densidade é tanta, tanta, que atraímos o mundo para nós.
Para que correr atrás dele se, qdo ponto, ele vem a nós?
domingo, 17 de outubro de 2010
contramão
Eu me lembro de não me interessar mais pelas pessoas. Eram todas iguais. Entrava e saia das conversas com a mesma expressão. "Muito riso e pouco sizo. E a gente só não se é, como não é de ninguém", como escreveu Mario de Andrade. Como pude achar que não havia mais nada?
Não sei que pedra os deuses jogaram na minha cabeça. Nem o que foi que me arrebatou.
Um sonho
uma lufada de ar
uma palavra de arte...
De repente, tudo começou a fazer sentido: de que as coisas não têm sentido.
As coisas são.
Estão.
Para se experimentar.
Provar Degustar Apreciar.
Passei a andar pela contramão. As pessoas cruzavam por mim, trombavam, olhavam torto...
Nem sei também em qual subsolo me encontrou. Parece que nos resgatamos. Retomávamos nossas vidas, mas continuávamos a nos resgatar. De tempos em tempos: "Vamos bater um papinho?"
O mundo desmorona ao nosso redor...
Corremos pela cracolândia no meio da noite, de mãos dadas, gente caindo ao nosso lado, o perigo nos assombrando, na diversão proporcionada pela segurança dos nossos braços entrelaçados,
palavras encadeadas
com o olhonoolho que tudo sabe e sente
Só assim tudo se faz possível
É de graça...
Sem exigir recompensa
Aí sim, pra sempre
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
Silêncio
- Tenho uma surpresa pra vc!!!!
- O que é?
- Só digo quando nos encontrarmos.
Pronto. Foi o suficiente para ACABAR com a tranqüilidade. Tudo bem, vamos partir para as tarefas, aí se esquece.
À caminho do trabalho, um puta trânsito. Aí é inevitável, não? Mas o que será essa tal dessa surpresa? Deixa pra lá. Coloco uma música bacana e já me esqueço.
Entre uma tarefa e outra... a mente vôa. Surpresa é algo inesperado. E, quando as coisas estão bem, só pode ser coisa ruim. Chegou paciente, já já me esqueço.
Chego em casa, espero a hora para te ligar - pensa que ligar é fácil? Que nada! Demanda uma super energia, aquele medo da rejeição sempre está presente. Ainda mais com uma "surpresa" martelando na cabeça.
Resolvo fazer o jantar. Um bom banho. E o tempo não passa... Aí encontro uma escrita sua, um novo pensamento... Tento decifrar nas entrelinhas a "surpresa". Humm... É... não pode ser nada bom. Bom, se acabou, tá tudo certo. Mais uma.
É só abrir espaço para caraminholar que o tempo passa rápido!
Vou ligar! Tem que ser agora!
Ligo. Toca uma vez... toca duas... porra, como pode não estar em casa? toca três... é o ex, só pode ser! toca quatro... CHEGA! Não vou dar minha cara para bater!
Desligo.
Nem mais ligo.
- O que é?
- Só digo quando nos encontrarmos.
Pronto. Foi o suficiente para ACABAR com a tranqüilidade. Tudo bem, vamos partir para as tarefas, aí se esquece.
À caminho do trabalho, um puta trânsito. Aí é inevitável, não? Mas o que será essa tal dessa surpresa? Deixa pra lá. Coloco uma música bacana e já me esqueço.
Entre uma tarefa e outra... a mente vôa. Surpresa é algo inesperado. E, quando as coisas estão bem, só pode ser coisa ruim. Chegou paciente, já já me esqueço.
Chego em casa, espero a hora para te ligar - pensa que ligar é fácil? Que nada! Demanda uma super energia, aquele medo da rejeição sempre está presente. Ainda mais com uma "surpresa" martelando na cabeça.
Resolvo fazer o jantar. Um bom banho. E o tempo não passa... Aí encontro uma escrita sua, um novo pensamento... Tento decifrar nas entrelinhas a "surpresa". Humm... É... não pode ser nada bom. Bom, se acabou, tá tudo certo. Mais uma.
É só abrir espaço para caraminholar que o tempo passa rápido!
Vou ligar! Tem que ser agora!
Ligo. Toca uma vez... toca duas... porra, como pode não estar em casa? toca três... é o ex, só pode ser! toca quatro... CHEGA! Não vou dar minha cara para bater!
Desligo.
Nem mais ligo.
- Tenho uma surpresa pra vc!!!!
- O que é?
- Só digo quando nos encontrarmos.
Ahhh, ele não vai nem acreditar! Vai ser uma PUTA viagem! Depois de tanto trabalho, percalços, diferenças, merecemos. Será que vai gostar? E se esse tempo for excessivo? Como vai se ausentar com tantos compromissos, tantas aferências...
Melhor mudar o canal e trabalhar, para o tempo passar mais rápido. Não vejo a hora de encontrá-lo. Aquele sorriso nos olhos que tanto gosto. O beijo... o abraço...
...
okok, voltando ao trabalho. Muuuuito trabalho.
Pequeno atraso. Supermercado com uma fila gigaaaante - como pode ser permitido passar TANTO tempo no supermercado? Alguma coisa emperra sempre qdo sou a próxima. Tá td certo, vamos nos encontrar, nunca por tto tempo. Vai chegar!
O telefone, está tocando! Corro, abro a porta...
silêncio.
que silencia.
Melhor mudar o canal e trabalhar, para o tempo passar mais rápido. Não vejo a hora de encontrá-lo. Aquele sorriso nos olhos que tanto gosto. O beijo... o abraço...
...
okok, voltando ao trabalho. Muuuuito trabalho.
Pequeno atraso. Supermercado com uma fila gigaaaante - como pode ser permitido passar TANTO tempo no supermercado? Alguma coisa emperra sempre qdo sou a próxima. Tá td certo, vamos nos encontrar, nunca por tto tempo. Vai chegar!
O telefone, está tocando! Corro, abro a porta...
silêncio.
que silencia.
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
Fome
Sei que procura alguma coisa.
Uma imagem que perturba teus sonhos, te cutuca na inspiração, uma descontinuidade no teu caminho diário - precisa tropeçar SEMPRE no mesmo lugar?
Aquele caminho liso que acha que vai te levar num ponto próximo seguro. E quem não procura a segurança?
Presta atenção...
Deixa-te levar pelo que te perturba.
Deixa-me aproximar de ti.
Arrebatar teu caminho!
Perceba agora tua imagem fragmentada no espelho estilhaçado. Em alguns pedaços, enxerga minha imagem.
A silhueta curvilínea de pele macia e tentadora.
O movimento suave das mãos no contorno do meu corpo que dança no rítmo da música.
Um leve tecido fino e translúcido.
Pouco a pouco, desvelo cada parte do meu corpo em cada pedaço estilhaçado.
Soma as imagens
Encanta-se
Imprinta e monta pela minha, a sua
Fragmentada D es con tí n ua Irregular
Emerge assim teu contorno,
teus limites, e o que não te pertence
Sou o alinhave dos teus fragmentos
o que enfim procura.
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Avalanche
Um silêncio atroz, a luminosidade espalhada por tudo ofusca! Um restinho de azul no céu para contrastar e me lembrar que em algum lugar estou. Ando com cautela, para não perturbar o que é uniforme e enfadonho mas que, sob a superfície esconde uma instabilidade tal que me faz tremer. Sou realmente o único ponto movente sobre a constância. A mesmice sem diferenças, segura e iluminada...
Tento me mimetizar mas já não posso mais. A angústia vinda não sei de onde, espreme minhas glândulas lacrimais. Não consigo evitar. Rola pelo meu rosto... pescoço... percorrem meu corpo que chora de saudades.
É a gota d'água! Craquela o branco do gelo, espalha-se pela superfície gelada que enfim aquece, respira e se solta... Rola... Engole-me... Ganho o movimento interno e me deixo levar. Sinto-me aquecida e envolta por um aconchego que só com vc conheci. Devagarinho, cautelosa, abro meus olhos e encontro os teus. Neles vejo meu reflexo com um sorriso tímido.
A avalanche continua...
mas enfim estou em casa.
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Lado a lado
Te encontrei em algum lugar do velho leste e te perdi em algum lugar da estrada. Não sei onde foi, nem quando, nem vi ou ouvi. Quando enfim nos cruzamos, percebi que o beijo prometido escapara. Sem avisar. Sem querer.
Mas por vezes,
no meio do meu caminho,
teu cheiro me pega no ar.
Por onde anda?
Ainda existe?
Nossos caminhos, lado a lado
e por que não chega?
Em que ponte se encontra...
Mas por vezes,
no meio do meu caminho,
teu cheiro me pega no ar.
Por onde anda?
Ainda existe?
Nossos caminhos, lado a lado
e por que não chega?
Em que ponte se encontra...
terça-feira, 21 de setembro de 2010
?!?!?!?!?!?!?!?!
Qual o limite da experiência?
Onde está a transição entre a natureza e a construção racional e moral?
O que nos freia?
Sentimento? Razão? Entendimento?
Onde está a transição entre a natureza e a construção racional e moral?
O que nos freia?
Sentimento? Razão? Entendimento?
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Chiaroscuro
Meu corpo dói. Fragmentado, as feridas ativas reclamam. Acordo e me perturbam. Com o passar do dia já nem sei mais o que incomoda. Quero que ele passe rápido, encontro muitas coisas para fazer para tentar mascarar. Não vejo as cores do céu, nem a brisa geladinha sob o sol. Embotada.
Nem sei mais o que se passa. Nada mais me emociona.
Ando pelas ruas, observando meus passos. Trombo com a extensão de um par de tênis, à seguir com outra de salto fino, a de salto grosso resmunga... Não me dou conta. Não me interessam extensões.
Funciono: trabalho, ouço, respondo, assisto, faço, pago.
O corpo, esquisito, pára. Cansa!
Vem, de mansinho, a melodia que se repete. Expelida não sei de onde. Volta aos tímpanos, adentra o sistema nervoso central e suscita imagens que se apoderam de todo o campo visual... Percebo o raio de sol que passa pelas frestas da persiana do meu quarto e com ele os fragmentos do seu corpo. Os cachos se espalham sobre meu rosto, o olhar doce e atento a cada história penetram na papila, as mãos de moldura assimétrica fazem-me arrepiar a cada carícia. Lábios rosados que sempre inspiram o cuidado dos meus... hidrato... massageio... retoco.
A pintura é delicada. Chiaroscuro. Tua luz toca delicadamente minha sombra no contorno da melodia. Assim prosseguimos na repetição cada vez mais sublime, emoldurada por um afeto que aumenta a cada dia, tornando-se quase insuportável!
O corpo queima, grita mudo, abafa e, sem alternativa, aguarda...
domingo, 19 de setembro de 2010
Relação quadrada
Talvez os relacionamentos tenham forma. Forma quadrada, circular, obtuso-triangular, ausente... Uma mesma pessoa se relaciona com um amigo na forma quadrada, com outro na forma circular, com um amante na forma obtuso-triangular, e com outro na forma ausente. Independente do significado de cada forma. Posso nomear e definir a "forma" de n modos: geométrico, por sensações, linguagem, até por termos logicamente incompreensíveis para o ocidente ou oriente. Não é esse o ponto. A forma a que me refiro seria uma estrutura formal, uma dinâmica que desenha uma rede estrutural previsível e intransponível. Não importa que os sujeitos envolvidos mudem, a estrutura do relacionamento se mantém a mesma! Não importa que o afeto se modifique, a forma permanece. A gente sabe que o outro mudou, a gente sabe que precisa tratá-lo de modo coerente com a mudança percebida, mas... os atos continuam obedecendo a estrutura formal!!!
Assim, o relacionamento com amigos de infância é o mesmo. Passam-se anos e parece que nada mudamos qdo voltamos a encontrá-los. Agimos como o previsto, e é como se estivéssemos vestidos do modo que a forma do relacionamento pede, e qdo nos damos conta, aquilo parece até uma camisa de força que não obedece à nossa vontade.
O mesmo com o cônjuge ou namorado ou amante. Casamos, descasamos, amamos, deixamos de amar... a forma permanece a mesma. Marido é marido, esposa é esposa, namorado é namorado, amante é amante.
O conteúdo (as pessoas no relacionamento determinado) pode mudar o que for: a estrutura formal (o relacionamento) incrivelmente se mantém!!!!!
Qual a saída?
Martelar. Quebrar. Desconstruir a estrutura formal de tudo que nos perturba, que nos faz sentir numa camisa de força. Pouco a pouco, revisitar as pessoas que nelas habitavam.
À qualquer sensação de sufocamento, prestar atenção se realmente conseguiu esfacelar aquela forma inadequada, ou se caiu na tentação de vestir a camisa de força para se abrigar do frio. Este frio realmente incomoda. O frio da ausência de abrigo, do vento que vem de tudo que é lado, sem anteparo, do vão... da liberdade.
Por outro lado... Só assim talvez seja possível estruturar-nos. Os pilares precisam estar na estrutura do nosso ser. A forma interna aos sujeitos da relação; e não como molde a ser preenchido pelos constituintes.
sábado, 18 de setembro de 2010
Sala de aula ectópica
Estou em casa à sua espera. São 20:00 e o interfone toca. Bom, pessoal, vou descer. “Cuidado...”. “É no mínimo esquisito sair à noite com o professor.” “Tudo bem, temos que confiar!”. Deixo as vozes desconfiadas longe ao fechar a porta. Você, elegante, espera-me no Hall de entrada e me conduz ao seu carro. Abre a porta para mim, abaixa o vidro uma polegada e encosta a porta com gentileza. Não posso mostrar como fiquei derretida. Tento agir como se tivesse sido natural!
Acaba o chá. Está tarde, hora da Cinderela. Pena. Pena que moro tão pertinho.
Cai o mundo sobre meus ombros e preciso voltar para casa. Já no elevador, fico torcendo para que todos estejam dormindo. Abro a porta da sala com “cuidado” e conto com meus fiéis bastonetes para delimitar o caminho ao meu quarto. Deitada, repouso-me leve, muito leve sobre a cama.
Começamos aquele jogo de palavras, não posso mostrar fascínio nem admiração. O prenúncio da escadaria... Que cara fofo! Que delicadeza... Mas, as palavras ecoam no cerebelo “Cuidado!”...
Paramos na casa de chá. Pertinho, ufa! “Cortou os cabelos! Que pena...” Será que ouvi direito? Então reparava e gostava dos meus cabelos compridos? “Cuidado...” Pode deixar, não ouvi direito. Sentamos no chão, um ao lado do outro e com o corpo frente a frente. Distância suficiente.
Chá de jasmim e flor de lótus. Risos tímidos (e não é que o cara é tímido? É proibido encontrar qualquer item a mais do anúncio de jornal! Ah sim, é por causa do aparelho nos dentes. Agora ta tudo bem.). E falamos muito. Faço cara de quem está entendendo tudo. Não posso deixar meu disfarce cair: comportamento profissional e assexuado. Mostrar competência para mim é fácil.
Que vontade de chegar mais pertinho... Esse rosto... Sinto até sua barba macia no meu rosto, escuto a voz sussurrada no meu ouvido e um calor aconchegante. “Cuidado..”. Como? Ah! É isso aí, melhor não sair deste lugar.
Acaba o chá. Está tarde, hora da Cinderela. Pena. Pena que moro tão pertinho.
Estaciona o carro.
Preciso sentir o seu cheiro. “Cuidado!” O ritmo cardíaco acelerado chega aos meus ouvidos “cuidado!”... “Cuidado!”... “cuid..” “cuid”...TUM... TUM. E a pulsação invade todo o meu corpo. Aproximo meu rosto do seu, que cheiro bom! Muito perto... Roço minha face na sua barba e minha boca encontra a sua. Já não tenho mais controle sobre meu corpo. Toco de leve sua língua úmida e não consigo mais removê-la. Imediatamente o calor úmido desce, como uma descarga elétrica e preciso de mais contato físico. Subo no seu colo e sinto seu volume onde necessito. Os movimentos assumem o ritmo acelerado da pulsação sob ação da adrenalina. Minhas mãos procuram atingir toda a extensão do seu corpo: afago seus cabelos, seus ombros, procuro a borda da camisa e encontro sua pele. Subo aos mamilos e inicio movimentos delicados, circulares, com a pontinha dos dedos. Escuto um gemido que me deixa alucinada. Minha mão direita procura então uma região mais interessante, quente e volumosa, e vc facilita ao liberá-lo. Libero meus instintos e inicio carícias que provocam sussurros contidos. Sinto então sua mão procurando uma brecha na minha roupa para atingir meu corpo em brasa. Aí mesmo. Carinho no lugarzinho certo. Assim... Mais... Mais um pouquinho... Louca por mais, direciono-te a me tocar mais fundo e a sintonia e a sinfonia se completam!
Escuto aquele zumbido no ouvido, vejo tudo escuro e solto todo o peso do meu corpo nos seus braços...
Cai o mundo sobre meus ombros e preciso voltar para casa. Já no elevador, fico torcendo para que todos estejam dormindo. Abro a porta da sala com “cuidado” e conto com meus fiéis bastonetes para delimitar o caminho ao meu quarto. Deitada, repouso-me leve, muito leve sobre a cama.
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Receita de bolo IV - prometo que é a última
Coração de Gelatina:
Pegue o medo da solidão
forre o fundo da forma
amarre a ponta de um barbante de 2m
preencha com o "anúncio de jornal" até transbordar
amarre a ponta que restou num balão cheio de gás nobre
deixe tomar forma
(torça para que o gás não seja o Helio)
se o balão voar, tá pronto
se não voar... sorte sua!
OBS: "anúncio de jornal": moreno alto, bonito e sensual, carinhoso, bom nível social...
Abaixo a ditadura!
Abaixo a ditadura
dos chavões, dos preconceitos, dos estereótipos, dos moldes
Aonde está o homem sensível (que sente, do meu o corpo, todos os toques e geme e arranha e morde)
Aonde está o homem afetuoso (que me afeta com seu corpo rijo e então eu o beijo e arranho e chuto)
Aonde está o homem querido (por todos os meus poros, por toda pele e mucosas, pelo nariz)
Aonde está o homem ferido, de menino, de superação, de conformes e alto escalão, do (eu te) desejo
Assim escapa a seu destino
Como viver essa paixão
Como não a ter vivido
Assim escaparia a meu destino:
Penélope, de Ulysses (s)
dos chavões, dos preconceitos, dos estereótipos, dos moldes
Aonde está o homem sensível (que sente, do meu o corpo, todos os toques e geme e arranha e morde)
Aonde está o homem afetuoso (que me afeta com seu corpo rijo e então eu o beijo e arranho e chuto)
Aonde está o homem querido (por todos os meus poros, por toda pele e mucosas, pelo nariz)
Aonde está o homem ferido, de menino, de superação, de conformes e alto escalão, do (eu te) desejo
Assim escapa a seu destino
Como viver essa paixão
Como não a ter vivido
Assim escaparia a meu destino:
Penélope, de Ulysses (s)
Acabou
"Mudaram as estações
e nada mudou
mas eu sei que alguma coisa aconteceu
tá tudo assim tão diferente
Lembra quando a gente
chegou um dia a acreditar
que tudo era pra sempre
sem saber que o pra sempre,
sempre acaba..."
Renato Russo
Tudo que começa tem fim. A questão é se convencer de que acabou. E qdo acaba, não necessariamente quer se desmerecer o que passou. As coisas simplesmente chegam ao fim, e não nos tempos simultâneos. Talvez até no mesmo tempo, mas convencer-se de que realmente acabou é que não é coincidente. Será que é possível construir ou manter o afeto? Como acreditar que uma coisa que nos arrebata pode ser tão efêmera? Talvez possa. E o nosso "pecado" é tentar mantê-lo com todas as defesas e armas - principalmente o suposto esforço para o outro tbém manter o afeto - não rola!!!!!
Eu me lembro da imagem de Jung do cavaleiro. Qdo estamos montados de costas para o nosso inconsciente, vem a estranheza. Talvez o gde desafio seja entender estes momentos de estranheza, de onde eles vêm. E acho q eles nos avisam qdo terminou.
Outro ponto nevrálgico! As malditas expectativas. Se a expectativa for pretenciosa a realização sempre será migalha e aí dá a sensação de que nem chegou a começar, o vazio é monstruoso. Entretanto, ao nos entregarmos completamente, este pequeno, se despretencioso, se faz absoluto e por isso grandioso. Por vezes, não passa de uma noite. Mas que vale uma encarnação!
A grande arte, talvez... não girar a engrenagem em falso. Nossa! De novo caímos no problema da receita de bolo!
Ai... não aguento mais!
terça-feira, 7 de setembro de 2010
Receita de bolo III
No entendimento, há um saber que se passa além do conhecimento. O conhecimento exposto trata da receita escrita com seus ingredientes, modo de preparo e tal... Ou a receita para ser feliz, ou para consertar um coração partido, ou de como fazer uma cerveja.
Porém, o entendimento vai além. Como se, de algum modo, você se abrisse para acolher todas as outras faces veladas. Todos os sabores que acompanham o conhecimento: a memória, a semelhança, a dessemelhança, os sonhos, os desejos, sensações atemporais e atópicas que convergem no instante do entendimento.
E por incrível que pareça, esta abertura só pode ser possível quando o afeto se desperta. Este sim, inerente a qualquer um, inespecífico e próprio, involuntário ou voluntário, fortúito ou perseguido.
Para isso, não há receita.
E basta.
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
Pena-preconceito
Por vezes o preconceito é sutil. Passa velado, reprimido, assustado.
Para Rousseau, o homem é dotado de um "amor de si", como um instinto de sobrevivência que não o deixa sucumbir frente à qualquer ameaça à vida. Ao se relacionar com o outro, um outro instinto surge: a pitié, ou a piedade. Este, ao ver o outro sofrer, faz o homem se identificar com o que sofre, entende o sofrimento, e quer ajudar - como um instinto de preservação da própria espécie que não deixa o semelhante sucumbir frente à qualquer ameaça à vida.
Entretanto... a pitié apresenta seu avesso: ao mesmo tempo que se identifica ao outro, sente-se um alívio ENORME por não ser o outro. Preserva a individualidade.
Pois bem, no preconceito, há um alívio ENORME por não ser o outro. Mais que isso, evita-se a qualquer preço, quase que sente a própria vida ameaçada.
Entretanto... o preconceito apresenta seu avesso: ao mesmo tempo que fica aliviado pela distância com o outro, se este outro é seu semelhante (alguém da família, algum amigo próximo, etc) sente-se uma pena ENORME na identificação com ele.
Talvez o avesso do preconceito seja a pena.
Experimente. Não tem preconceito? Então imagine se fosse com seu filho...
Receita de bolo II
Médico é doido para seguir receita de bolo. Principalmente para aquelas doenças de diagnóstico e tratamento incerto. Portanto, procura se estabelecer critérios diagnósticos minor, medium, major - como se fossem todos os sinais, sintomas e exames laboratoriais que os doentes apresentam, classificados de acordo com sua frequência nos quadros graves. Como o diagnóstico é multifatorial, o tratamento ídem.
Assim, há os famosos guidelines (receita de bolo):
Diagnóstico: 1 critério major e 3 medium, 2 medium e 3 minor, ou ainda 2 major
Tratamento: droga x associada à y por 1 mês. Se o resultado não for satisfatório, acrescenta-se a droga z.
Follow-up, controla-se com exames séricos que verificam a função renal, hepática, RX de tórax e hemograma. À qualquer alteração, suspender a droga x e acrescentar a z.
O critério de melhora? Cruzes! Se a dor era de 4 cruzes em 4, considera-se melhora se passa a 3 cruzes em 4 ou menos.
Agora sim! Fica fáaaaacil! O paciente melhora de 4 cruzes para 3: ueba! Sou foda! Fiz o diagnóstico e estou obtendo resultados! Aí... no segundo mês, volta para 4 cruzes: ué? Como? O protocolo resultou de todo uma metanálise dos trabalhos prospectivos randomizados duplo-cego (medicina baseada em evidências. Eita nome cartesiano!)! Isso quando se resolve parar para pensar um pouquinho... Se não, volta-se para a receita de bolo e se associa a droga z...
Será que ainda estamos no século XVII? Trabalha-se em cima de uma representação, que é a doença. Será que todos os indivíduos manifestam a doença do mesmo modo? Ou, todos sentem a mesma dor? O corpo saudável, incansável, NUNCA apresenta um desvio esporádico? Ou, o coração nunca apresenta uma extrassístole? E o doente? Quanto de variabilidade pode ser considerada "normal"? Os estudos descolam as alterações das particularidades do indivíduo. As doenças, seus diagnósticos e tratamentos, são construídas racionalmente e estatisticamente, pelo médico.
Falta liga. Falta reposicionar o pensamento no doente, talvez. Falta coragem para assumir a responsabilidade pela cura ou não. Pensar passo a passo. Critério por critério. E não se esconder sob os protocolos.
Se o bolo desandou, a responsabilidade é sua por ter escolhido as ferramentas inadequadas, desde a própria receita até à última cerejinha que resolveu colocar no centro.
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
Ao léu
Este é o nosso ser em potência. Eu, vc, as tantas afinidades de corpo e de alma, o acaso convergente que nos aproximou... Uma obra de arte!
Por vezes escultural e palpável, formas precisas, de textura definida, macia, rugosa, quente, gélida...
Por vezes repleta de cores, traços ora lineares ora difusos, borrões, respingos...
Por vezes sonora, harmoniosa, um rock progressivo, erudita, valsa, jazz, som estranho como um Tom Waits ou um Stravinski
E tenho vontade de conservar, intacta, esta arte em potência. Num cofre, no vácuo, imune ao tempo e espaço.
A saudade abre a porta e revisito-a. Admiro. Respiro o aroma. Emociono-me frente ao resplendor da harmonia.
O tempo me chama, e cuidadosamente a reposiciono em segurança.
Vivo minha vida. Preencho as lacunas e volto a formá-las - ainda bem!
Sei que vive a sua também, do melhor modo possível.
Desconstruímos reconstruímos,
experimentamos,
conhecemos, nos desconhecemos...
Mas, de algum modo, a obra de arte conserva sua força. Por vezes esqueço a porta aberta, e ela só se fortalece. Independente do meu ou do seu tempo e espaço, ela insiste em se fortalecer, alheia ao nosso olhar.
Um dia, de mãos dadas, esta arte nos arrebata...
Alheia ao tempo
no nosso espaço.
Por vezes escultural e palpável, formas precisas, de textura definida, macia, rugosa, quente, gélida...
Por vezes repleta de cores, traços ora lineares ora difusos, borrões, respingos...
Por vezes sonora, harmoniosa, um rock progressivo, erudita, valsa, jazz, som estranho como um Tom Waits ou um Stravinski
E tenho vontade de conservar, intacta, esta arte em potência. Num cofre, no vácuo, imune ao tempo e espaço.
A saudade abre a porta e revisito-a. Admiro. Respiro o aroma. Emociono-me frente ao resplendor da harmonia.
O tempo me chama, e cuidadosamente a reposiciono em segurança.
Vivo minha vida. Preencho as lacunas e volto a formá-las - ainda bem!
Sei que vive a sua também, do melhor modo possível.
Desconstruímos reconstruímos,
experimentamos,
conhecemos, nos desconhecemos...
Mas, de algum modo, a obra de arte conserva sua força. Por vezes esqueço a porta aberta, e ela só se fortalece. Independente do meu ou do seu tempo e espaço, ela insiste em se fortalecer, alheia ao nosso olhar.
Um dia, de mãos dadas, esta arte nos arrebata...
Alheia ao tempo
no nosso espaço.
terça-feira, 31 de agosto de 2010
Penumbra
Sonnet 43
When most I wink, then do mine eyes best see,
For all the day they view things unrespected;
But when I sleep, in dreams they look on thee,
And darkly bright, are bright in dark directed.
Then thou, whose shadow shadows doth make bright,
How would thy shadow's form from happy show
To the clear day with thy much clearer light,
When to unseeing eyes thy shade shines so!
How would, I say, mine eyes be blessed made
By looking on thee in the living day,
When in dead night thy fair imperfect shade
Through heavy sleep on sightless eyes doth stay!
All days are nights to see till I see thee,
And nights bright days when dreams do show thee me.
W. Shakespeare
Receita de bolo é feita para se errar. Quem a escreve sabe bem como fazê-lo crescer e ficar úmido. A importância está em se detalhar o uso do fermento - basta não esquecê-lo que tudo dá certo. Os secos, os líquidos, sempre assim. Substitui-se o sabor e dá tudo certo.
E para quem a lê? Primeiro a confusão em se apertar todos os ingredientes no pequeno espaço da cozinha. Liga o forno já? Acho que ainda não, se não, pega fogo na casa. Farinha, fermento, leite, ovos, açúcar, chocolate em pó (amargo? Toddy? Nescau? Poxa, e aí colocamos menos açúcar? Mas açúcar faz parte dos sólidos, pode deixar a massa... líquida). E as medidas: fáaacil! Xícara tem tudo o mesmo tamanho, não? Colher de sopa é do mesmo tamanho em qualquer faqueiro... Diferença milimétrica não importa. Tampouco a diferença entre o que se usa para os sólidos e para os líquidos. E ovo é tudo do mesmo tamanho também!
Ok, aquela bagunça de formas, restos de ingredientes pela cozinha toda, untar a forma - pode coisa mais irritante do que as falhas da farinha? Por que não gruda tudo de jeito uniforme? Ligo o forno - que temperatura? E se a forma for mais alta, o fogo a 180 graus não vai atingir a mesma temperatura no interior do bolo do que se a forma for mais baixa... Ou vai?
Enfim, se para quem escreveu a receita "não tem como errar", para quem a segue "não tem como acertar". E se o bolo cresce, é pura sorte. Ou não?
Há sempre um saber que passa despercebido quando a razão ilumina o conhecimento. Um saber que se passa na penumbra e no silêncio, nas entrelinhas. Muitas vezes o questionamento infinito das evidências nos fazem patinar na real engrenagem. Giramos em falso. Afastamo-nos cada vez mais do entendimento, das sensações. E como iluminar as lisas representações nos rouba o pensamento! Esquecemo-nos de nos aprofundar nas dobras que desvelam a essência das coisas.
Ciente, insisto em te perseguir nos meus dias.
Descrente, procuro me aquecer com tua sombra nos meus sonhos.
domingo, 22 de agosto de 2010
Evidências
Ainda de madrugada, uma cólica no baixo ventre... Resgatava meu sonho e dormia mais um pouco. Mas a danada insistia em me acordar. Relutava, fingia que não existia, e voltava a dormir. Qdo o sol bateu na janela do meu quarto, já não tinha pq continuar a dormir, resolvi prestar atenção na dor. Aos poucos, localizou-se na fossa ilíaca direita. Liguei para minha amiga: "onde fica o apêndice mesmo? Lado direito ou esquerdo?" Assim que obtive a resposta, decidi: hospital!
Pronto atendimento é briga de foice no escuro. Os médicos atendem pela ordem, mas não têm a menor idéia da gravidade dos pacientes que estão aguardando. E como atender rápido quem não tem nenhuma doença grave, mas é um doente grave? Existe dor maior que a própria?
Enfim, assim que o plantonista me examina, faz o diagnóstico clínico: dor localizada em fossa ilíaca direita, sinal de descompressão brusca positivo, mas... afebril. Pediu exames: hemograma, coagulograma, urina I, USG abdominal. Medicou-me com um sorinho e buscopan composto. Não tinha vaga nos leitos, logo, fiquei na salinha de medicação. Não dei uma de médica pentelha no lugar errado, resolvi ser o que eu era: doente. E obedeci. Foram 4 horas de espera, até que vieram me buscar para fazer o exame de imagem.
O ultrassonografista pesquisou, pesquisou... sabe que eu já estava duvidando do que eu tinha? Parecia que nem mais sentia dor... Estava com vergonha por ter somatizado uma doença. Será que eu estava carente e arrumei todo aquele forrobodó? Como a medicina de hoje é trabalhada por imagens: fotografias macro e microscópicas e suas quantificações. Perguntaram-me "de zero a 10, qual a nota que dá para a sua dor?". Cara, como vou saber? Estão sempre em busca de evidências. Enfim, o ultrassonografista encontrou meu apêndice com sinais discretos de inflamação. Sabe que comemorei? Pode uma coisa dessa? Comemorei por ter feito o diagnóstico - e não seria bem melhor não ter nada? Uma mané mesmo...
"A clínica é soberana" - jargão dito pelo ultrassonografista depois... que encontrou a evidência.
Volto ao P.A. e, na falta de leito, deixam-me ao lado da sala dos médicos quando escuto: "Ah, então é apendicite mesmo?" Aí fui promovida e encontraram rapidinho uma salinha para que eu sofresse minha real dor - antes, a dor era mera representação...
Depois... a equipe certa de cirurgiões, da minha escola - e como é boa esta evidência! Cirurgia lisa, gente boa na sala, opiáceos, estava em outro mundo, totalmente entregue...
Fazer o que frente ao inevitável? O que mais piora o prognóstico é a negação, achar que vai passar sozinho, que vai sumir, que vai desistir de vc... Vamos às evidências! Temos é que agarrar a ruinheira com as unhas e, com um bisturi, fazer a incisão com as mãos firmes, cauterizar o que sangra, e extirpar o que não mais lhe pertence. O que faz mal. Antes que ganhe o corpo todo.
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
a ideologia do ciúme
"Uma raposa faminta, ao ver cachos de uva suspensos em uma parreira, quis pegá-los, mas não conseguiu.
Então, afastou-se dela, dizendo:'Estão verdes'"
Esopo
"Ciúme é querer manter o que se tem; cobiça é querer o que não se tem; inveja é não querer que o outro tenha."
Zuenir Ventura
Tem ciúme que sufoca. Tem ciúme que agrada. E não é que, por vezes, ele até faz falta? Se ciúme é querer manter o que se tem, talvez esta variação decorra do (des)compasso entre ciúme e o que se tem
O ciúme que sufoca: sem dúvida é descompasso! O que se quer ter ou o que se acha ter é muuuuito maior do que o que de fato tem. Ou porque não tem nada, ou porque o que tem é insuficiente. Frustrante. Para o enciumado, como tentar segurar com as mãos a tonelada de água que suspeita ter, enquanto ela escapa por entre os dedos. Para o sufocado, a paisagem vislumbrada entre os dedos é i r r e s i s t í v e l. E como se deixa prender, se já passou pelos vãos? Vai entender...
Muito bem, então vamos partir para o outro extremo: a ausência de ciúme. Por vezes queremos ser blasé, auto-suficientes, independentes, autoestima elevada... achamos que ciúme é para gente doida. E sofremos. Pq novamente há um descompasso. Ausência de ciúme pode denotar um certo desprezo pelo que supostamente tem. Capaz até que seja uma baixaestima elevada, nem acha que tem alguma coisa... Enfim, o que acha que tem é "pouco" frente ao que de fato tem.
O bom ciúme é aquele que agrada na justa medida... Como se fosse uma dica sobre o que talvez exista. Um sinal indireto do amor: o cuidado pelo que se tem. Aquele que preenche uma porçãozinha da dúvida que atormenta nossos sonhos. E aquele que nos permite uma abertura ainda maior para oferecer o que não temos...
Entretanto...
Resta-nos perceber o (des)compasso individual nesta relação. Trata-se de se sentir ou não aprisionado pelo amor (existe "ter" sem aprisionar?). Talvez... sejamos em potência uma infinitude: o que confere a sensação de liberdade é justamente a possibilidade de agir sob a influência de qualquer ser em potencial. Não há motivos para regras ou homogeneidade entre estes seres. A liberdade é a ausência de regras. Mas, dentre estas possibilidades, está uma que quer se sentir aprisionada, e que não quer perder. Restrito assim. Livre assim.
Deste modo, cuido para me-te aprisionar na justa medida. Restrito assim. Livre assim.
Confuso? Paaacaaas!!!
Tudo não passa de ideologia. Para justificar o descompasso que nos traz a "angústia da dúvida que atormenta nossos sonhos"...
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
- Oi... vc tá em casa?
- Estou. Por que?
- Pode descer em 5 minutos? Estou aqui pertinho.
- Humm... (silêncio) Ok, (ok, vc venceu...)
Tanta coisa p fazer... uma viagem longa, por longo tempo. É preciso deixar tudo em ordem. Despedida das pessoas, das coisas, das tarefas. Como deixar tudo em ordem? Estimar e suprir todas as faltas que eventualmente se possa ter... E o que menos se deseja nestes momentos, é uma surpresa.
Mas ela veio.
Nada o fazia feliz. Um ar de preocupação que tudo sombreava. Estava ali, de corpo presente, mas a cabeça estava checando e rechecando tudo o que ainda faltava ajeitar. Perdidos no encontro e nos arredores, o tempo que poderia ser gigantesco, foi limitado ao caminho traçado. E foi assim o último instante juntos. Um beijo roubado, a preocupação rodeando as últimas horas antes da partida, e a sensação de desencontro.
Aí... a dor da saudade. Em que o corpo sussurra... prossegue queimando na ausência do outro... até gritar! Enquanto arde, arrepende-se por se calar diante dos deveres.
As tarefas. Sempre nos confundindo. Percorrer e cumprir o caminho planejado, sem olhar para os lados. Fazer o que é certo...
... enquanto que o que nos acalenta, como uma faísca no escuro, é curiosamente a lembrança de tudo que é errado.
domingo, 15 de agosto de 2010
Água e óleo
"Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração
e quem irá dizer que não existe razão"
R. Russo
Eu me lembro bem daquele dia, como se fosse um filme. Meu primeiro dia de cursinho, de mau-humor por não ter passado no vestibular. Sento na 2 fileira, vazia, não queria ninguém ao meu lado. O coordenador no palco pedindo silêncio. Entra um cara alto, barba cerrada, calça jeans e batinha indiana, estilo bicho-grilo, e senta na minha frente. Gostei! O coordenador do curso, gigante, desembesta a falar... Não tenho a mínima idéia do que era, só me lembro do pensamento voando que repousava sobre aquela imagem insistentemente fixa ao bicho-grilo à minha frente.
De repente, o coordenador do curso chama o coordenador da área de Biológicas. O bicho-grilo-com-cara-de-músico sobe ao palco... Broxei. Tinha que ser professor?
Era tiete das aulas de biologia. Cada palavra dele era proveniente de um mundo que me instigava a cada dia. Cada gesto, um provável sinal. Ele parecia descansar os olhos sobre mim, mas nunca acreditei - quem era eu nisso tudo? Uma pulguinha entre muuuuuitos.
Mas... os dias foram passando... As dúvidas pertinentes foram chegando... O fim das aulas era sempre uma surpresa: de repente, ele sabia meu nome! de repente, nossos olhares realmente se encontraram!
Ele havia feito medicina, falava alemão, e eu ainda nas aulinhas de inglês... Como poderia dar certo? A cada inquietude minha, vinha uma enxurrada de ansiedade pelo mundo de múltiplas possibilidades... E se eu fizesse a escolha errada? Como deixar de escolher todo o resto, muuuuito mais numeroso? Eu sempre achava que tinha muito mais a perder do que a ganhar. E ele, naquela calma "Vc quer abraçar o mundo com o dedo mínimo?" ou "Relaxa... só a morte não tem volta". Eu suspirava fundo. A poeira assentava. Ele fazia do movimento um mundo estável e viável.
E mesmo com tudo diferente veio meio de repente uma vontade de se ver!!!!! Enxergávamo-nos na penumbra e conversávamos no silêncio. Ainda me lembro do sorriso tímido qdo eu chegava, e a luz no olhar que tudo evidenciava. Mas minha razão não se convencia. Ele era muito mais, já não precisava de mais nada. E eu, eu... de tudo precisava. Nem caminho tinha. Como água e óleo.
Como toda relação decente, nos percebemos estranhos e nos libertamos.
Muito tempo se passou. Mas a razão sempre se ressentia: o que nos aproxima da água ou óleo, se não a própria razão? Que maldita confusão nos arma a razão para nos defendermos da vulnerabilidade do espírito? Até que ponto a razão interfere sem se ressentir?
Eis que... conheço-no na penumbra, no som que determina a frequência cardíaca e o silêncio das palavras. Puro espírito. De colisão em colisão, como partículas em alta entropia, arrebatou-me. Nele ex-sisti e in-sisti melhor. Um acolhimento completo na razão ébria.
Trocamos telefone, depois telefonamos e decidimos nos encontrar.. encontramo-nos e conversamos muito mesmo para tentar nos conhecer. Eu já era médica, gostava do Bandeira e de Bauhaus, de Van Gogh e dos Mutantes, do Caetano e de Rimbaud. Ele... "a cada inquietude, uma enxurrada de ansiedade pelo mundo de múltiplas possibilidades... e se fizesse a escolha errada?" Um encanto de músico. Tinha a fome de viver que eu enfim resgatara. Como pude deixar a razão se alastrar a tal ponto de desacreditar na... vida?
Parto para o vão das experimentações. A cada passo, uma desconstrução. A insegurança vem de todos os lados. As incertezas, uma certeza. Como Descartes, firmo meu método, mas desta vez à partir da incerteza e não da dúvida. A dúvida pede uma resposta. A incerteza se encerra em si. Como Montaigne, assumo a infinitude do mundo exposto muito maior que minha inchada razão impertinente. Seria demais presunçoso condenar uma mistura como água e óleo - para que se homogeneizar? É preciso ter coragem para enfrentar a vulnerabilidade do espírito. Ao permitir, a razão se perdoa.
E é justamente esta coragem que ele me traz, pela música que emana do seu Ser...
Não sei até quando. Por isso se torna para sempre.
Beijooooo!!!!!
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
...recalculating
Acho que esta é a curva da saudade.
F indica a intensidade da maldita.
d o tempo em... aí é o problema: bem que poderia ser em milésimos de segundos! seriam horas... Dias? Cruzes! Nem pensar! OU, se pode ser possível, de unidades variáveis, conforme a vontade da infeliz.
Mas isso é mto tosco. Como se não houvesse interferências. Esta é uma defesa, um pseudocontrole da nossa razão frente ao irascível e ao concupiscente. Algum sinal do objeto causal, o concupiscente manda seu recado e lá se vai o F rumo ao infinito! Alguma suspeita de que o objeto causal esteja em outra, e lá se vai o irascível embananado que sempre empurra o F para o sentido oposto, e vai com tanta coragem que a maldita se direciona novamente ao infinito.
Zonzinha, a razão remonta a curva. Planeja e firma a unidade do tempo estimada. O declínio presumido...
...
...
...
Não está funcionando. Isso já está começando a irritar!
Vou tricotar.
Bah!!!!
Meu desvio, desvario, beco sem saída
Só para saber que passa!
Volta, com outros personagens.
Mas já sei que passa.
"Como tentei te esquecer neste tempo. Tentei te afastar de mim. Tentei acabar com meu tesão. Tentei olhar para outros homens. Você entrou em mim (e como!), penetrou nas minhas entranhas, dissipou pelo meu ser, por minhas células... Sua imagem, emoções, prazer, dor, desespero, calma, sabedoria... O pouco de tudo está impregnado na minha alma e na minha carne. Não sai. Eu também sei que minhas palavras, carinhos, afagos, imagem e paixão adentraram nos seus receptores sensoriais e caminharam por todo o sistema nervoso, aquoso, como bálsamo e unguento para acalmar e suavizar suas feridas abertas. Sem dúvida estamos melhores. Mas ainda não sou capaz de amenizar a dor da interrupção. Fantasio, explico, racionalizo, nego, afasto... E vc não sai de mim. Não saiu em 10 anos, com muito menos. Não sairá mais... Não sei mais o que fazer. Como proceder. E que tempo é esse? Não passa, não passou, o que será dele? Como Florentino Ariza? Não quero morrer na praia. Não faz sentido.
Queria que vc me libertasse. Que fosse um canalha, ou que me dissesse que não me quer mais. Que cortasse o elo. Acho que só assim eu conseguiria prosseguir. Ou não.
Não tenho outra opção. Sou sua. Desde sempre. Para sempre..."
... e depois que passa, fica uma boa lembrança de vida.
sábado, 7 de agosto de 2010
To whom it may concern
To whom it may concern:
(that would be you, my love)
Affection from men
and loves of women
are different
although they might
slide together
and for a while
(in agony, in prayers, in rainbows)
in shivering thighs
in shallow breathing
in hot tubs
and used condoms
Ants, worms and mobs
may have your body
but shall you rest, linger and feast
over mine
(that would be you, my love)
Affection from men
and loves of women
are different
although they might
slide together
and for a while
(in agony, in prayers, in rainbows)
in shivering thighs
in shallow breathing
in hot tubs
and used condoms
Ants, worms and mobs
may have your body
but shall you rest, linger and feast
over mine
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Socorro # 3
http://matematicosmarcovaldos.blogspot.com/2010/08/em-contro-ibuicao-3.html
continuando...
Tinha que passar por cima de muitas vozes que sempre lhe alertavam: "nãofaçaissonãofaçaaquiloOLHAOSMODOSMENINO!!!"
Ah, mas agora era deus, né..
.
Assim foi entrando devagarzinho pé ante pé naquele ambiente estranho mas incrivelmente aconchegante. Embriagado pela música, com uma acústica de ambiente pequeno e almofadado (putz, mas uma escuridão, não?), isolado, e algumas vozinhas beeeeem ao fundo que cantavam em uníssono àquela música. Foi caminhando e o ambiente foi ficando cada vez mais estreito... As paredes se mexiam! Em sintonia, como uma onda... Ah, mas estava tão bom, para que sair de lá? À contragosto, foi saído daquele corredor estreito de paredes macias e ganhou o vácuo!
Cara, quanto espaço!!!
Alguma luminosidade, mas ainda não definia imagem alguma: sombras, algumas cores, como uma pintura impressionista. Mesmo assim, não sentia os pés no chão. E sabe que nem estava mais se importando com isso? Sem chão, sem céu, sem lua, nem sol... e daí? O que o movia era a faminta curiosidade pelo que estava porvir! E a estranha sensação de estar embalado por aquela música... De um modo inusitado, sabia que absorvia TUDO que suas aferências lhe ofereciam. Cores, luz, sombra, sons, aromas, tato... e pouco a pouco tudo ficava mais nítido e tomava forma.
Enfim moldava sua própria tela!
http://autretourdelafolie.blogspot.com/2010/10/em-contro-ibuicao.html
continuando...
Tinha que passar por cima de muitas vozes que sempre lhe alertavam: "nãofaçaissonãofaçaaquiloOLHAOSMODOSMENINO!!!"
Ah, mas agora era deus, né..
.
Assim foi entrando devagarzinho pé ante pé naquele ambiente estranho mas incrivelmente aconchegante. Embriagado pela música, com uma acústica de ambiente pequeno e almofadado (putz, mas uma escuridão, não?), isolado, e algumas vozinhas beeeeem ao fundo que cantavam em uníssono àquela música. Foi caminhando e o ambiente foi ficando cada vez mais estreito... As paredes se mexiam! Em sintonia, como uma onda... Ah, mas estava tão bom, para que sair de lá? À contragosto, foi saído daquele corredor estreito de paredes macias e ganhou o vácuo!
Cara, quanto espaço!!!
Alguma luminosidade, mas ainda não definia imagem alguma: sombras, algumas cores, como uma pintura impressionista. Mesmo assim, não sentia os pés no chão. E sabe que nem estava mais se importando com isso? Sem chão, sem céu, sem lua, nem sol... e daí? O que o movia era a faminta curiosidade pelo que estava porvir! E a estranha sensação de estar embalado por aquela música... De um modo inusitado, sabia que absorvia TUDO que suas aferências lhe ofereciam. Cores, luz, sombra, sons, aromas, tato... e pouco a pouco tudo ficava mais nítido e tomava forma.
Enfim moldava sua própria tela!
http://autretourdelafolie.blogspot.com/2010/10/em-contro-ibuicao.html
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Socorro
"Socorro, eu não estou sentindo nada. Nem medo, nem calor, nem fogo, Não vai dar mais pra chorar Nem pra rir.
Socorro, alguma alma, mesmo que penada, Me empreste suas penas. Já não sinto amor nem dor, Já não sinto nada.
Socorro, alguém me dê um coração, Que esse já não bate nem apanha. Por favor, uma emoção pequena, Qualquer coisa que se sinta, Tem tantos sentimentos, Deve ter algum que sirva.
Socorro, alguma rua que me dê sentido, Em qualquer cruzamento, Acostamento, encruzilhada, Socorro, eu já não sinto nada."
Socorro, alguma alma, mesmo que penada, Me empreste suas penas. Já não sinto amor nem dor, Já não sinto nada.
Socorro, alguém me dê um coração, Que esse já não bate nem apanha. Por favor, uma emoção pequena, Qualquer coisa que se sinta, Tem tantos sentimentos, Deve ter algum que sirva.
Socorro, alguma rua que me dê sentido, Em qualquer cruzamento, Acostamento, encruzilhada, Socorro, eu já não sinto nada."
Alice Ruiz
http://www.matematicosmarcovaldos.blogspot.com/2010/08/conto-ibuicao.html
Idiota perdido nas funções: função-marido, função-pai, função-pagador de contas, função-profissional, função-pentelho... Uma vida em carrossel, em que o dia de amanhã terá exatamente a mesma "função" que o dia anterior, em que se espera o próximo fim de semana que será idêntico ao fim de semana passado. Vida de Natal em Natal. Feriado em feriado. Literalmente engolido pelo tempo implacável. Sempre atrasado, sem tempo para nada, correndo rumo ao mesmo lugar em que agora estava.
E foi naquele cruzamento...
De repente, tudo se passava d e v a g a rrr. O som dourado ao fundo. Um aroma de verbena que inundou o ambiente. De onde vinha? Procura... analisa... olha adiante, onde seu corpo estaria no próximo instante. Para trás, de onde vinha. Não encontrava. Súbito, um calor lhe subiu o corpo, e sentiu ruborizar. Uma redistribuição sanguínea que despertou certas áreas adormecidas há mto, mto tempo. Não mais se reconhecia neste momento. A-funcional. A-temporal. A-tópico. Este aroma lhe fazia levitar e, sem mais sentir o peso da gravidade e a pressão atmosférica, sentiu-se mergulhado no vazio. Sem rumo, sem eira nem beira, indefinido... um nada. Nadica de nada.
Neste momento, poderia se desesperar - "Agora finalmente enlouqueci!" E correr para o carrossel, um conforto de situações previsíveis, como no casamento "até que a morte nos separe".
Entretanto...
Gostou da leveza. Curtiu a falta de pilastras. Afinal sem amarras, ao escapar pela tangente, teria o mundo inteiro a (re)descobrir. Aromas diversos, paisagens inesperadas, o tempo deixava enfim de ser linear (circular)... Decidia a trajetória, a velocidade, enfim senhor do tempo e do espaço!!!
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Mudança imprevista
Por vezes o medo de que algum acidente gravíssimo nos capture, invade nosso pensamento. Um mal pressentimento, uma intuição esquisita, uma notícia ruim, uma ameaça de que não mais tenhamos o que estamos tendo. Mas sabe que, pensando bem, isso é um bom sinal? No fundo diz que estamos tão bem, com tantos planos, com tanta vontade de vida, que não queremos mudanças.
Como permanecer neste estado? Estado em que o prazer por "não ter" é maior do que o prazer por "ter". E olhar para o que temos, como garantia para suportar uma mudança inesperada: aí, pensamos pequeno, resolvemos passo a passo, cada minivitória uma baita comemoração..
Quero que conste para que eu possa reler qdo necessário!
1. Ao olhar para frente, não pular etapas! Ao olhar para trás, munir-se de uma grande angular para certificar-se de TODA a garantia conquistada.
2. Pensar que, nem sempre, as coisas têm motivo para acontecer. Para que procurar causa para tudo? O acaso existe sim, assim como o que não acontece por acaso. E isso tudo por acaso...
3. Ter ciência de que um grande ensinamento não muda nossas vidas de uma hora para a outra. Talvez as grandes mudanças sejam imperceptíveis. Deslizam. Penetram suavemente pelos nossos poros e alcançam o nosso DNA sem pedir licença, sem confrontos, mimetizam-se ao nosso pensamento vigente e gradativamente vão se modificando.
Algum dia ainda permito, sem saber, sem luta, indefesa, que penetre em mim sem pedir licença, deslizando pelas minhas entranhas, modificando-me gradativamente de modo imperceptível.
De repente, em mim
De repente, em vc
E qdo nos dermos conta, já é tarde demais...
Batalha inglória
Como permanecer neste estado? Estado em que o prazer por "não ter" é maior do que o prazer por "ter". E olhar para o que temos, como garantia para suportar uma mudança inesperada: aí, pensamos pequeno, resolvemos passo a passo, cada minivitória uma baita comemoração..
Quero que conste para que eu possa reler qdo necessário!
1. Ao olhar para frente, não pular etapas! Ao olhar para trás, munir-se de uma grande angular para certificar-se de TODA a garantia conquistada.
2. Pensar que, nem sempre, as coisas têm motivo para acontecer. Para que procurar causa para tudo? O acaso existe sim, assim como o que não acontece por acaso. E isso tudo por acaso...
3. Ter ciência de que um grande ensinamento não muda nossas vidas de uma hora para a outra. Talvez as grandes mudanças sejam imperceptíveis. Deslizam. Penetram suavemente pelos nossos poros e alcançam o nosso DNA sem pedir licença, sem confrontos, mimetizam-se ao nosso pensamento vigente e gradativamente vão se modificando.
Algum dia ainda permito, sem saber, sem luta, indefesa, que penetre em mim sem pedir licença, deslizando pelas minhas entranhas, modificando-me gradativamente de modo imperceptível.
De repente, em mim
De repente, em vc
E qdo nos dermos conta, já é tarde demais...
Batalha inglória
sexta-feira, 30 de julho de 2010
Estrada do sol
"Te perdôo por te trair"
Chico Buarque
E não é que A é perfeita? Mulher trabalhadeira, distinta, a casa sempre arrumada, adora crianças e animais, sempre pronta para ajudar, l i n d i n h a ... E foi se arranjar com B! Ah, ele é encantador, né? Falante, galante... Excelente profissional, sempre tem assunto sobre tudo e sobre todas.
E sempre formaram um casal lindo e perfeito!
Mas um dia, não menos que de repente, B vai passear... Volta r a d i a n t e !!! Há tempos não se sentia tão feliz! Foi um raio de sol nos dias nublados da(s) última(s) temporada(s). Como se arrependeria? Como voltar para casa - e será que aquilo poderia ser chamado de casa?
A... ficou.
1.amargou. Ameaçou se matar. Odiaaava B. Saia em busca daquele sol para esfregar na cara de B. A raiva movimenta... e cega.
2.ignorou. Fez que não aconteceu. Ah, ele vooolta. B vai pensar melhor, verá que o sol ofusca e engana, e vai voltar para o conforto da sombra.
3.respirou fuuuundo... Como negar o calor e brilho solar? Como condenar quem o persegue? Como... se satisfazer com dias nublados? Como... reconhecer-se enfim responsável pela sombra. Era responsável SIM. Não foi capaz de oferecer-lhe o que desejava.
Em 1 e 2 A, por culpar B, dele se acompanhou por infinitos dias nublados.
Em 3... perdoou-se enfim. Ah, até ela merece um dia de sol, não?
E B?
1.envergonhou-se. A sempre estava irritantemente certa. Para que perseguir o sol se o dia nublado é fresco e confortável? E para todo o sempre aquele maldito passeio incrível o faria se lembrar da perfeição de A e sua própria imbecil autovontade de... felicidade.
2.respirou fuuundoo. Perdoou A. Assim, dela se libertou, deles se libertou. Mal sabia que só deste modo A enfim também encontraria aquele mesmo bendito passeio incrível que a faria realmente sentir e vivenciar a perfeição em sua plenitude.
Hunger
O gosto do teu beijo
Desvela o que tens de mais
obscuro
O que procuro com os olhos
e não vejo
No gosto do teu beijo
Percebo cada movimento
do teu corpo,
A respiração ofegante,
semblante voraz
Com o gosto do teu beijo
Sinto-me arder
Latejante, quero te engolir
O tempo se espanta e contempla
cada microgota transbordada,
cada microcílio movimentado,
Desperto, o potencial de ação
monta no galope do tempo
rumo ao hiperespaço atemporal
....absoluto
.......pleno
..........ausente
Desvela o que tens de mais
obscuro
O que procuro com os olhos
e não vejo
No gosto do teu beijo
Percebo cada movimento
do teu corpo,
A respiração ofegante,
semblante voraz
Com o gosto do teu beijo
Sinto-me arder
Latejante, quero te engolir
O tempo se espanta e contempla
cada microgota transbordada,
cada microcílio movimentado,
Desperto, o potencial de ação
monta no galope do tempo
rumo ao hiperespaço atemporal
....absoluto
.......pleno
..........ausente
domingo, 18 de julho de 2010
Toscana
Uma viagem é sempre uma viagem. Para algum canto, para lugar nenhum, para algum lugar que nunca imaginávamos conhecer.
Algumas vezes, de repente, uma janela se abre e vc nem sabe como. Nunca a tinha visto, desemperrou, uma luz iluminou subitamente a fechadura, enfim, aparece pela fresta uma paisagem m a r a v i l h o s a com um cheiro de lavanda irresistivel!
Abre devagarinho, cheia de medo e praticamente se joga naquele outro mundo. Como o destino é completamente inesperado, procura se levantar, sentir o aroma, o calor do sol, fecha os olhos e inicia os movimentos do corpo. Pé ante pé. Cada passo após uma sensação.
E assim vai...
Assim aparecem cada vez mais estímulos que te direcionam a lugares cada vez mais inusitados... e um pressentimento de que tudo de bom está para acontecer, sem imaginar que tudo de bom já esta acontecendo!
Abre devagarinho, cheia de medo e paulatinamente, checando sempre o caminho de volta, pisa naquele outro mundo. Procura ansiosamente pontos de aconchego e semelhança ao velho mundo, aquele que já está acostumado a resolver.
Cheia de expectativas, pressupõe as próximas consequências.
Cada passo, uma surpresa. Cada passo, uma decepção. A cada passo, verifica qual era o caminho de retorno. A cada passo, planeja o próximo rumo ao fim esperado... e nem se dá conta de sentir o próprio passo.
E aí?
Viver as expectativas
ou
Saborear exatamente o momento cheio de surpresas, sabores inusitados, aromas diversos... sem ter a menor ideia do fim.
It's up to you
Algumas vezes, de repente, uma janela se abre e vc nem sabe como. Nunca a tinha visto, desemperrou, uma luz iluminou subitamente a fechadura, enfim, aparece pela fresta uma paisagem m a r a v i l h o s a com um cheiro de lavanda irresistivel!
Abre devagarinho, cheia de medo e praticamente se joga naquele outro mundo. Como o destino é completamente inesperado, procura se levantar, sentir o aroma, o calor do sol, fecha os olhos e inicia os movimentos do corpo. Pé ante pé. Cada passo após uma sensação.
E assim vai...
Assim aparecem cada vez mais estímulos que te direcionam a lugares cada vez mais inusitados... e um pressentimento de que tudo de bom está para acontecer, sem imaginar que tudo de bom já esta acontecendo!
Abre devagarinho, cheia de medo e paulatinamente, checando sempre o caminho de volta, pisa naquele outro mundo. Procura ansiosamente pontos de aconchego e semelhança ao velho mundo, aquele que já está acostumado a resolver.
Cheia de expectativas, pressupõe as próximas consequências.
Cada passo, uma surpresa. Cada passo, uma decepção. A cada passo, verifica qual era o caminho de retorno. A cada passo, planeja o próximo rumo ao fim esperado... e nem se dá conta de sentir o próprio passo.
E aí?
Viver as expectativas
ou
Saborear exatamente o momento cheio de surpresas, sabores inusitados, aromas diversos... sem ter a menor ideia do fim.
It's up to you
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Wiegenlied
liebe
sagen in Ihrem Ohr
süße Walzer
Ferry, Wiegenlied Wiegenlied
Tauwetter
Schmelzpunkt, ein Sprung
für Herz
querido
digo no teu ouvido
valsa doce
balsa, berceuse, lullaby
degelo
ponto de fusão, um pulo
pro coração
sagen in Ihrem Ohr
süße Walzer
Ferry, Wiegenlied Wiegenlied
Tauwetter
Schmelzpunkt, ein Sprung
für Herz
querido
digo no teu ouvido
valsa doce
balsa, berceuse, lullaby
degelo
ponto de fusão, um pulo
pro coração
domingo, 11 de julho de 2010
Loch Ness
If we meet by the lake
a heartache or less
a thousand years passed
midday
My lord or my word
I love you both
with care and fresh tales
a scent of tangerine
My old name, byzantine
written on the surface
of the monster's head
a heartache or less
a thousand years passed
midday
My lord or my word
I love you both
with care and fresh tales
a scent of tangerine
My old name, byzantine
written on the surface
of the monster's head
sexta-feira, 9 de julho de 2010
Grão de amor
... e daqueles sonhos e planos, tudo desandou. O diploma com pele de carneiro exposto na parede da biblioteca, os livros e revistas científicas na estante, quarto com uma cama gigante... sapatos organizados, decoração cuidadosa, tuuuudo arrumadinho num degradée de cores similar ao estojo Carandache. Fim de semana no clube, a conversa... As palavras correm pela pista, passa pelos sorrisos de dentes perfeitos, pelos reflexos dos óculos escuros, na mesma intensidade que as imagens dos corpos perfeitos.
Não sinto o gosto de mais nada... minhas mãos estão frias.
BREAK!!!
Mas ainda receio que as pessoas passem por mim e que eu passe por elas como os reflexos dos óculos escuros. E me desculpe se assim faço com vc. Já nem sei mais se é hábito ou defesa. A minha doçura esconde meu olhar, e minhas palavras ariscas confundem o teu. Não é de propósito. É pura ingenuidade.
Rapte meu olhar. Encontre o que em mim se perdeu.
Eu acho que consigo te dar um mundo, aquele que sinto no teu beijo: cada estímulo das papilas traz o gosto do seu Ser. Assim saboreio tua alma e encharco de prazer. Quando percebe, experimenta a diversidade da sensibilidade do meu corpo, atendo-se aos ápices do potenciômetro: meus mamilos enrijecidos, a umidade quente que escorre pela perna que pedem por teus lábios. Sussurro teu nome e enlouquece. Vc me tem nas tuas mãos
... nas tuas mãos.
Agora, mergulhe em mim.
Como quero ser tua.
Quero Ser
Não sinto o gosto de mais nada... minhas mãos estão frias.
BREAK!!!
Mas ainda receio que as pessoas passem por mim e que eu passe por elas como os reflexos dos óculos escuros. E me desculpe se assim faço com vc. Já nem sei mais se é hábito ou defesa. A minha doçura esconde meu olhar, e minhas palavras ariscas confundem o teu. Não é de propósito. É pura ingenuidade.
Rapte meu olhar. Encontre o que em mim se perdeu.
Eu acho que consigo te dar um mundo, aquele que sinto no teu beijo: cada estímulo das papilas traz o gosto do seu Ser. Assim saboreio tua alma e encharco de prazer. Quando percebe, experimenta a diversidade da sensibilidade do meu corpo, atendo-se aos ápices do potenciômetro: meus mamilos enrijecidos, a umidade quente que escorre pela perna que pedem por teus lábios. Sussurro teu nome e enlouquece. Vc me tem nas tuas mãos
... nas tuas mãos.
Agora, mergulhe em mim.
Como quero ser tua.
Quero Ser
quarta-feira, 7 de julho de 2010
Quadrados
Meu querido W,
Cada um tem seu quadrado. Circulamos por nossos quadrados com desenvoltura, aprendida e aperfeiçoada por anos de prática. E, de vez em quando, entramos em contato com outro quadrado; o olhar estranha ou espanta, o ouvido apura, pode até ser que o sangue mude de temperatura (esquente se for de prazer; gele se for de medo).
No meu quadrado, é normal o contraste entre a boca que fala e encanta e na outra ponta o cu de onde sai a merda. Percorro de um extremo a outro, é tudo da nossa natureza, não há choque. Enquanto a gente trepava e teu quadril colidia com o meu (mas gentil como uma facada) também os quadrados se chocando tentavam uma geometria inusitada. Realizada e improvisada.
Quando vc contava as aventuras no submundo noir, meu sangue gelava... de novo, o que é natural pra vc (e não é pra mim), transitar entre a superfície e a profundidade, o olho e a boca do mal. Uma outra imundície.
Então tua língua me abria e me trazia a tona, pra ver a espuma da noite e seus faróis...
Bj, te adoro, e não ligo se não entender
Tudo isso aconteceu comigo ontem, sweetie... seu quadrado é outro mundo...
Então meu sangue esquenta quando você me toca (e começa antes, com a musica da tua voz, o sol do teu olho, teu cheiro de pele de bebê), quando vc me beija e me penetra, nossos mundos se fundem, sinto o peso do teu corpo (o peso do teu mundo) e acho que começo a entender... Depois desentendo tudo, você se afastou. Cada qual voltou pro seu quadrado.No meu quadrado, é normal o contraste entre a boca que fala e encanta e na outra ponta o cu de onde sai a merda. Percorro de um extremo a outro, é tudo da nossa natureza, não há choque. Enquanto a gente trepava e teu quadril colidia com o meu (mas gentil como uma facada) também os quadrados se chocando tentavam uma geometria inusitada. Realizada e improvisada.
Quando vc contava as aventuras no submundo noir, meu sangue gelava... de novo, o que é natural pra vc (e não é pra mim), transitar entre a superfície e a profundidade, o olho e a boca do mal. Uma outra imundície.
Então tua língua me abria e me trazia a tona, pra ver a espuma da noite e seus faróis...
Bj, te adoro, e não ligo se não entender
segunda-feira, 5 de julho de 2010
2. o amor maior do mundo
"You say you will love me if I have to go. You´ll be thinking of me, somehow I will know. Someday when I´m lonely, wishing you weren´t so far away, Then I´ll remember things we said today."
Lennon and McCartney
Foi o encontro naquele compasso. O tempo exato na cadência dos passos descompassados,
naquele ecto-espaço
E alí começou a nossa melodia, no nosso rítmo
Cada um segue seu caminho, mas a música fica no ar
E quando os deuses permitem,
entra pela porta da minha casa
arrebata-me com teu canto
Teu beijo precipita meu ponto de fusão
líquida, quente, te acolho
Dança na minha música
emerge a sabedoria que toca o espírito
e aperta... acaricia... espreme
contrai... juntinho
confunde nossos movimentos
É o amor maior do mundo
cego, desconhece que ao fixar, esvai
egoísta, não quer dividi-lo com ninguém
ciumento, teme perdê-lo
tolo, ignora o descompasso do tempo e espaço
mas é irremediável, implacável
Estóica, enxergo
Quanto maior se faz
mais em livre o transformo
... e mato um pouco de mim
a cada instante.
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