sexta-feira, 30 de julho de 2010

Estrada do sol

"Te perdôo por te trair"
Chico Buarque


E não é que A é perfeita? Mulher trabalhadeira, distinta, a casa sempre arrumada, adora crianças e animais, sempre pronta para ajudar, l i n d i n h a ... E foi se arranjar com B! Ah, ele é encantador, né? Falante, galante... Excelente profissional, sempre tem assunto sobre tudo e sobre todas.

E sempre formaram um casal lindo e perfeito!

Mas um dia, não menos que de repente, B vai passear... Volta r a d i a n t e !!! Há tempos não se sentia tão feliz! Foi um raio de sol nos dias nublados da(s) última(s) temporada(s). Como se arrependeria? Como voltar para casa - e será que aquilo poderia ser chamado de casa?



A... ficou.

1.amargou. Ameaçou se matar. Odiaaava B. Saia em busca daquele sol para esfregar na cara de B. A raiva movimenta... e cega.

2.ignorou. Fez que não aconteceu. Ah, ele vooolta. B vai pensar melhor, verá que o sol ofusca e engana, e vai voltar para o conforto da sombra.

3.respirou fuuuundo... Como negar o calor e brilho solar? Como condenar quem o persegue? Como... se satisfazer com dias nublados? Como... reconhecer-se enfim responsável pela sombra. Era responsável SIM. Não foi capaz de oferecer-lhe o que desejava.

Em 1 e 2 A, por culpar B, dele se acompanhou por infinitos dias nublados.

Em 3... perdoou-se enfim. Ah, até ela merece um dia de sol, não?



E B?

1.envergonhou-se. A sempre estava irritantemente certa. Para que perseguir o sol se o dia nublado é fresco e confortável? E para todo o sempre aquele maldito passeio incrível o faria se lembrar da perfeição de A e sua própria imbecil autovontade de... felicidade.
2.respirou fuuundoo. Perdoou A. Assim, dela se libertou, deles se libertou. Mal sabia que só deste modo A enfim também encontraria aquele mesmo bendito passeio incrível que a faria realmente sentir e vivenciar a perfeição em sua plenitude.

Hunger

O gosto do teu beijo
Desvela o que tens de mais
obscuro
O que procuro com os olhos
e não vejo

No gosto do teu beijo
Percebo cada movimento
do teu corpo,
A respiração ofegante,
semblante voraz

Com o gosto do teu beijo
Sinto-me arder
Latejante, quero te engolir

O tempo se espanta e contempla
cada microgota transbordada,
cada microcílio movimentado,
Desperto, o potencial de ação
monta no galope do tempo

rumo ao hiperespaço atemporal
....absoluto
.......pleno
..........ausente

domingo, 18 de julho de 2010

Toscana

Uma viagem é sempre uma viagem. Para algum canto, para lugar nenhum, para algum lugar que nunca imaginávamos conhecer.
Algumas vezes, de repente, uma janela se abre e vc nem sabe como. Nunca a tinha visto, desemperrou, uma luz iluminou subitamente a fechadura, enfim, aparece pela fresta uma paisagem m a r a v i l h o s a com um cheiro de lavanda irresistivel!

Abre devagarinho, cheia de medo e praticamente se joga naquele outro mundo. Como o destino é completamente inesperado, procura se levantar, sentir o aroma, o calor do sol, fecha os olhos e inicia os movimentos do corpo. Pé ante pé. Cada passo após uma sensação.
E assim vai...
Assim aparecem cada vez mais estímulos que te direcionam a lugares cada vez mais inusitados... e um pressentimento de que tudo de bom está para acontecer, sem imaginar que tudo de bom já esta acontecendo!

Abre devagarinho, cheia de medo e paulatinamente, checando sempre o caminho de volta, pisa naquele outro mundo. Procura ansiosamente pontos de aconchego e semelhança ao velho mundo, aquele que já está acostumado a resolver.
Cheia de expectativas, pressupõe as próximas consequências.
Cada passo, uma surpresa. Cada passo, uma decepção. A cada passo, verifica qual era o caminho de retorno. A cada passo, planeja o próximo rumo ao fim esperado... e nem se dá conta de sentir o próprio passo.

E aí?

Viver as expectativas
ou
Saborear exatamente o momento cheio de surpresas, sabores inusitados, aromas diversos... sem ter a menor ideia do fim.

It's up to you

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Wiegenlied

liebe
sagen in Ihrem Ohr
süße Walzer
Ferry, Wiegenlied Wiegenlied
Tauwetter
Schmelzpunkt, ein Sprung
für Herz

querido
digo no teu ouvido
valsa doce
balsa, berceuse, lullaby
degelo
ponto de fusão, um pulo
pro coração

domingo, 11 de julho de 2010

Loch Ness

If we meet by the lake
a heartache or less
a thousand years passed
midday
My lord or my word
I love you both
with care and fresh tales
a scent of tangerine
My old name, byzantine
written on the surface
of the monster's head

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Grão de amor

... e daqueles sonhos e planos, tudo desandou. O diploma com pele de carneiro exposto na parede da biblioteca, os livros e revistas científicas na estante, quarto com uma cama gigante... sapatos organizados, decoração cuidadosa, tuuuudo arrumadinho num degradée de cores similar ao estojo Carandache. Fim de semana no clube, a conversa... As palavras correm pela pista, passa pelos sorrisos de dentes perfeitos, pelos reflexos dos óculos escuros, na mesma intensidade que as imagens dos corpos perfeitos.
Não sinto o gosto de mais nada... minhas mãos estão frias.

BREAK!!!

Mas ainda receio que as pessoas passem por mim e que eu passe por elas como os reflexos dos óculos escuros. E me desculpe se assim faço com vc. Já nem sei mais se é hábito ou defesa. A minha doçura esconde meu olhar, e minhas palavras ariscas confundem o teu. Não é de propósito. É pura ingenuidade.

Rapte meu olhar. Encontre o que em mim se perdeu.

Eu acho que consigo te dar um mundo, aquele que sinto no teu beijo: cada estímulo das papilas traz o gosto do seu Ser. Assim saboreio tua alma e encharco de prazer. Quando percebe, experimenta a diversidade da sensibilidade do meu corpo, atendo-se aos ápices do potenciômetro: meus mamilos enrijecidos, a umidade quente que escorre pela perna que pedem por teus lábios. Sussurro teu nome e enlouquece. Vc me tem nas tuas mãos
... nas tuas mãos.

Agora, mergulhe em mim.

Como quero ser tua.

Quero Ser

Break

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Quadrados

Meu querido W,

Cada um tem seu quadrado. Circulamos por nossos quadrados com desenvoltura, aprendida e aperfeiçoada por anos de prática. E, de vez em quando, entramos em contato com outro quadrado; o olhar estranha ou espanta, o ouvido apura, pode até ser que o sangue mude de temperatura (esquente se for de prazer; gele se for de medo).
Tudo isso aconteceu comigo ontem, sweetie... seu quadrado é outro mundo...
Então meu sangue esquenta quando você me toca (e começa antes, com a musica da tua voz, o sol do teu olho, teu cheiro de pele de bebê), quando vc me beija e me penetra, nossos mundos se fundem, sinto o peso do teu corpo (o peso do teu mundo) e acho que começo a entender... Depois desentendo tudo, você se afastou. Cada qual voltou pro seu quadrado.
No meu quadrado, é normal o contraste entre a boca que fala e encanta e na outra ponta o cu de onde sai a merda. Percorro de um extremo a outro, é tudo da nossa natureza, não há choque. Enquanto a gente trepava e teu quadril colidia com o meu (mas gentil como uma facada) também os quadrados se chocando tentavam uma geometria inusitada. Realizada e improvisada.
Quando vc contava as aventuras no submundo noir, meu sangue gelava... de novo, o que é natural pra vc (e não é pra mim), transitar entre a superfície e a profundidade, o olho e a boca do mal. Uma outra imundície.
Então tua língua me abria e me trazia a tona, pra ver a espuma da noite e seus faróis...

Bj, te adoro, e não ligo se não entender

segunda-feira, 5 de julho de 2010

2. o amor maior do mundo

"You say you will love me if I have to go. You´ll be thinking of me, somehow I will know. Someday when I´m lonely, wishing you weren´t so far away, Then I´ll remember things we said today."
Lennon and McCartney

Foi o encontro naquele compasso. O tempo exato na cadência dos passos descompassados,
naquele ecto-espaço
E alí começou a nossa melodia, no nosso rítmo
Cada um segue seu caminho, mas a música fica no ar
E quando os deuses permitem,
entra pela porta da minha casa
arrebata-me com teu canto


Teu beijo precipita meu ponto de fusão
líquida, quente, te acolho
Dança na minha música
emerge a sabedoria que toca o espírito
e aperta... acaricia... espreme
contrai... juntinho
confunde nossos movimentos


É o amor maior do mundo
cego, desconhece que ao fixar, esvai
egoísta, não quer dividi-lo com ninguém
ciumento, teme perdê-lo
tolo, ignora o descompasso do tempo e espaço
mas é irremediável, implacável


Estóica, enxergo
Quanto maior se faz
mais em livre o transformo
... e mato um pouco de mim
a cada instante.

A FACA QUE CORTA

ERA UMA VEIS UMA
FACA QUE CORTOU
UMA CARNE
O SANGUE DA CARNE
SAIO IA ESCORRENDO
NA TABUA QUE DAVA
NA PIA
E O SANGUE
IA ESCORRENDO NO FUNDO DA PIA

ESTA POESIA É UMA DEDICATORIA A E... MINHA MAI