quinta-feira, 14 de abril de 2011

Presente



No meio do caminho para um lugar que nem me lembro mais qual seria, um portal pulou na minha frente. Entre o caminho certo e enfadonho para o lugar esperado, e aquele fato completamente inesperado, resolvi abrir aquela porta.

Foi por um triz.

Foi num intervalo de pensamento.

Abri devagarinho... cheia de medo... olhando sempre para trás para ter certeza que poderia voltar para os trilhos.

Apesar de sombrio, não mais que uma luz difusa, a escada imponente de mármore contrastava com a penumbra local e emanava um aroma irresistível. Sem ter a menor idéia de onde iria parar, subia degrau a degrau. Fisgada, o frio na barriga me puxava cada vez mais para o alto. A cada etapa, uma enxurrada de emoções, como um tapa na cara. Já nem pensava mais no caminho de volta. Estava completamente perdida.

Ou...

Não mais me sentia perdida. Porque não havia mais caminho ou trilho certo para chegar ao lugar esperado (esperado por quem afinal?). Pela primeira vez, tateando, de antena ligada a quaisquer oscilações, subia degrau a degrau. O presente como presente.

Destemia, enfim, o inesperado. E tudo por um triz...

"O olhar filosófico não prevê, nem o dizer filosófico prediz. Apenas, como escreveu Deleuze, fazem-nos‘atentos ao desconhecido que bate à porta’. Situam-nos na difícil passagem entre o que já se diz e vê e o que não ainda, entre o agora e o devir, o Mesmo e o Outro, entre o que somos e o que estamos vindo a ser. É assim, creio, como pensamento de limiar que o pensamento filosófico é uma ontologia do presente.”
Muchail, S. em "Foucault, simplesmente"

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Caminhos da medicina

Hoje estava no hospital, conversando com um amigo radiologista. Como as coisas podem mudar em tão pouco tempo? Quando acabamos a graduação, a radiologia era uma das especialidades mais procuradas, profissão do futuro mesmo!

Pretensão achar que o futuro segue nossa tendência...

Foi chamado para trabalhar num grande serviço de diagnósticos laboratoriais e de imagem. Seu discurso quanto a exercer uma boa medicina foi imediatamente cortado: "Não estamos interessados em trabalhar com bons médicos. As pesquisas e os dados estatísticos mostram que 85% dos exames realizados, são normais. Portanto, mesmo se alguma alteração não for detectada, ainda acertamos em 85%. Você está aqui para cuidar desses 15% que não são normais".

Afinal, que conta é essa?

Que diabo de crença em dados estatísticos é esta que nos faz sossegar com uma porcentagem de 85% de acerto? De que isso vale se o resultado não corresponde à saúde ou doença do paciente?

Só com isso, a cabeça já dá nó.

Entretanto... Talvez o terreno movediço ainda esteja mais embaixo.

Como pode um exame auxiliar, supostamente solicitado quando o indivíduo está doente, estar normal na maioria das vezes?
Ou o paciente não está doente
Ou o exame não foi solicitado por um motivo justo.

E, por outro lado, como podem os médicos e os próprios pacientes exigirem tantos exames e neles confiarem mais do que aos próprios sinais e sintomas físicos? O viés não é só da informação ou da interpretação sobre a informação, mas do próprio modo como a informação foi obtida.

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Como se pode acreditar mais na explicação do fato do que no próprio fato?

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???

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Entre o céu e a terra - 4

Eis que a filha sublunar, então com 5 anos, veio enfim com aquela dúvida:


- Deus existe?
- Hummm... o que vc acha?
- Acho melhor dizer que sim. Vai que ele existe de verdade...


"Se você acredita em Deus e nas Escrituras e estiver certo, será beneficiado com a ida ao paraíso.
Se você acredita em Deus e nas Escrituras e estiver errado, não terá perdido nada.
Se você não acredita em Deus e nas Escrituras e estiver certo, não terá perdido nada.
Se você não acredita em Deus e nas Escrituras e estiver errado, você irá para o fogo eterno."
Aposta de B. Pascal