domingo, 28 de novembro de 2010

Branco

Dia branco, como a noite de Dostoiévski. Nem sol, nem chuva.
Ou, quase sol, quase chuva, quase lua.

Estou no ponto em que a reta faz a curva.

Sensação de gravidade zero, em que a energia potencial é infinita.

Uma saudade que passou de doer, o tesão que transbordou, o músculo que estirou.

A única aparente apatia do branco-nada que mascara a angústia e a violência do embate de todas as cores, humores, paixões e potências de resultante... zero.

Estátua de maremoto

Círculo de Newton.


Aguardo a faísca.

L'autre tour de la folie

Alguns acham que estou louca. Dizem que não mais me reconhecem. Por educação, eufemismo, dizem "corajosa".

Quem será que inventou que loucura e coragem são semelhantes? Engraçado que tudo me leva a crer que são justamente os que se dizem "normais".
Portanto, quem se acha normal não se sente corajoso ou, não vive situações que dela necessitem no dia a dia. Talvez porque não se arrisque...

Entretanto, quando atuo conscientemente, como resultado de uma escolha deliberada, não sinto que me arrisco. Não tenho dúvidas. Tampouco me sinto corajosa. Trata-se do meu normal.

Parece que a experiência da loucura desenha o contorno do pensamento, da normalidade. Frente a isso, só nos resta excluí-la ou incluí-la:
Ao excluirmos a loucura, nada se acrescenta.
Ao incluí-la, experimentamos o risco. Cheios de medos. Repletos de coragem. E só aumentamos o contorno do pensamento, só inovamos à partir do momento em que aquilo deixa de ser sentido como loucura.

Esse raciocínio circular me mostra como a novidade à beira do abismo (loucura) é importante para mim. E como seria louca ao excluí-la - l'autre tour de la folie.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

puff

Acho que foi naquela manhã de Agosto. O despertador tocou na hora certa. Abri os olhos... mas onde diabos estava? Conhecia aquela cama, os quadros na parede, a ausência de luminária, a fronha do travesseiro... mas não parecia ser minha casa.

Será que o sonho tinha sido bom demais? Que contraste afinal era aquele?

Eu não me sentia no lugar certo.

Ele me procurava, eu até conhecia o caminho daquele corpo. Era-me familiar. Mas não parecia ser o meu caminho. Interajo pela força do hábito. Funciona. Em preto e branco.

Tomo o meu banho, faço o café, me arrumo para sair. E me despeço...
Não posso olhar nos seus olhos.
Procuro o que olhar e encontro o abismo...

Perdi meu chão.

Um sorriso forçado, um até mais tarde, e uma lágrima solitária no canto dos olhos.

Eu só quero fugir daquele lugar.

Sem chão
Sem cor
Sem sol

Rápido, muito rápido, para alçar vôo
e plainar pelos mastros no ar...

domingo, 14 de novembro de 2010

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

terça-feira, 9 de novembro de 2010

De repente



Como viemos parar aqui?


Perdida numa noite suja, errante, arisca e arredia...
Destemida
Descrente


Atrás de tornados, maremotos,
qualquer força que me recordasse a vida,
e nela retornasse logo após


Longe de amarras
asfixia
ou inquietude


Já nem mais sabia da brisa!


E te encontro
Tens algo manso no olhar
que faz acreditar na leveza


Tão fácil...


Ao teu lado flutuamos à margem
da descrença e do cinismo


até aqui


até o fim raiar...