sábado, 27 de fevereiro de 2010

Essência nua

Aparece não sei de onde
esconde o encanto
e o espanto do eletromagnetismo

Mas transborda...
ao descansar os olhos nos meus

Na ausência da razão
o beijo é o convite
e te acolho

Mergulho pelo teu corpo
percebo a doçura
a força vital

Displicentemente me exponho
penetra em mim
fundo... e esbarra no espelho

Encontro o reflexo
da sombra delineada
pelo teu ser

A pureza
A essência nua
assusta

Soluço teu nome
fecho a luz
apago a porta

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Philia

Parece que a virtude para os antigos consiste em viver em estado de decisão, ou sermos capazes de estar sempre abertos aos Bens inesperados. E destes Bens inesperados, o mais gratificante é a amizade. Por fim, para encaixá-la nas nossas vidas, é necessário encará-la como uma AVENTURA.

Meus queridos, o que seria de mim sem vcs?

Nossas vidas correm em paralelo, cada qual com suas decisões harmônicas ou não, mas a afinidade, o afeto persiste porque ESTE é o mais importante. Não se exige nada de ninguém além do afeto. O resto, é AVENTURA!!!

Tão diferentes e tão semelhantes...

Amo vcs. Demais.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Tapa na cara

Existe casamento duradouro e prazeiroso? Percebo constantemente a troca de olhares semelhante a um duelo de luta livre - nada elegante. O homem, enjaulado. A mulher, fazendo de tudo para abafar qualquer rebarba: cortante com um sorriso estampado. Enjaulado, mostra-se ora apagado, ora com um brilho furioso. Sorridente, ora o ignora, ora o massacra com seus espinhos. A ironia agressiva, o silêncio que esmaga. Isso tudo porque se amam. Ora, o amor vai se transformando - é isso que nos dizem. Da paixão repleta de descobertas e o suspiro inesperado, para o confortável comportamento previsível da convivência e do amor fraternal em que se prevê até a frequencia respiratória nos diversos momentos da rotina. O hábito faz das armas, diálogo. A destruição é tanta, que a solidão se mostra assustadoramente como beco sem saída: impossível sobreviver sozinho. E aí a razão encontra explicações para o injustificável:
- Ele tem bom coração
- Ela é a mãe dos meus filhos
- Ele é um pai exemplar
- Ele(a) me dá a liberdade para fazer o que eu gosto - sozinha(o)
- Nunca faltou nada em casa
- A transa é ótima! Já nos conhecemos bem e sabemos direitinho o que fazer - a sequencia é certeira. Sábado, quando não precisamos acordar cedo no dia seguinte, fora da maré vermelha e longe dos períodos férteis. OU - Sabe como é... chega um momento na nossa vida que isso já não é mais importante.

Enquanto, no fundo, a razão em sua face mais cruel e repleta de moral:
- Eu PRECISO dele(a) porque já nem sei mais como caminhar sozinha(o). Quem vai me sustentar? Quem vai manter a casa? Quem fará meu IR? Quem irá ao supermercado para mim? Quem cuidará das crianças? Quem? Quem? Quem?

Vc se procura no espelho e não reconhece mais seu reflexo. Mais que o medo da solidão, está
O PAVOR de se encarar e se perceber completamente incapaz!

Mais fácil encarar as agressões veladas com o cheiro de amaciante dos lençóis, geladeira farta, férias na praia... conforto... conforto... conforto
A vida fica pequenininha, mas confortável. Não falta nada.

Ou falta?

A vida circular se mantém às custas de energia. Uma PUTA energia. Lembra que para cada ponto no movimento circular, existe uma força tangencial? Por que não escapar? Por que não se jogar no abismo e reencontrar suas inúmeras faces em potencial? A útil/inútil, forte/frágil, carente/generosa, amiga/inimiga, empreendedora/fracassada... Tudo, mas tudo mesmo, só caminha acompanhado do seu avesso. Não precisa temê-lo - só o encarando conseguimos a independência da face desejada.

E tem coisa melhor do que, enfim, conseguir enxergar nosso reflexo no espelho?

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

A poesia selvagem

a poesia selvagem
quiabo, vagem
da passagem
de um quarto de hora
diabo, viagem
diz sem demora
do mundo de dentro
açafrão, coentro
do mundo injetado
na bolha de sabão
redonda, protegida
de perfeição

Clara, Ana e quem mais chegar

Clara sempre foi perfeita! Preenche as lacunas antes que elas pensem em se formar. É a primeira a identificar a imperfeição, primeira a planejar o reparo, primeira na ação. Vencedora mesmo. A primeira a se vestir de azul nos dias azuis, madruga de rosa e o canto do galo é rosa, branquinha na geada, vermelha no sol escaldante... Pode-se até dizer que o dia a segue.

Ana... sei lá quem é Ana! Vive caindo nos abismos. Vive de paraquedas - e tem saída? Não se conta com Ana - nunca sabemos quando vai aparecer. De regata nos dias gelados, capa de chuva com céu irritantemente azul, batom vermelho no funeral, dança na chuva, apressada nos feriados...

De repente, os deuses nos mandam o dilúvio! A chuva incansável lava as cores do mundo, abafa o som, carrega a volatilidade dos elementos, despetala nosso ser. O horizonte é incolor. Não se tem a menor idéia do que se espera de nós. Clara muito menos... Nunca soube o que realmente queria além da... perfeição.
E Ana? Ué, não a viu? Aquela, de batom vermelho, que dança na chuva...

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Se o seu amor não pode ser

Se o seu amor não pode ser
inventado
Ele pode ser
engraçado
Ele pode ter a dureza
da seda
a duração
da borboleta
a safadeza
do bumbum de bebê
a ternura da adaga
rasgando
a comissura
de um plano deslizante
armadura mercante
navio de nômade
teu nome

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Folia física e metafísica

Muito calor, cheiro de cerveja, estendidos sobre o colchão do som da bateria, o corpo dança independente ao meu comando. Aproveito para observar o que as máscaras escondem. Naquele momento, pouco importa se chegaram à pé ou sobre 2 ou mais rodas. Se deixaram muita ou pouca bagagem do outro lado. Não se vê espinhas ou rugas, a cor da pele ou do mundo que habitam. Nem os sonhos... Só se percebe a alma zerada sob o corpo desatento.

Neste universo entre parênteses, nos encontramos. 
Por um acaso sincrônico. Por descuido da razão. Pela configuração do universo.

Os corpos se encaixam, bocas se familiarizam, mãos encontram caminhos cada vez mais insinuantes. Incansáveis. Inevitáveis. Inevitável... percurso. Desobedecendo o tempo, dançamos sobre o imenso colchão, está sempre em mim e eu sempre te enluvando. Descobrimos diversas alternativas para manter a premissa: vc profundamente em mim. Alcança minha alma e jorra a tua... em mim. Com teu sangue branco em minhas veias, colamos nossos espíritos.

Sem saber, sabemos de tudo. Sem saber, há muito que nos procuramos. Sem saber... por acaso? enfim nos achamos.

E talvez, por supor que sei de tudo, coloque tudo a perder.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

O habitual que esconde o inabitual


A Partida - Okuribito
Um dia depois do outro. Hora para acordar, hora para sair de casa, melhor hora para não pegar trânsito, horário das consultas, hora para sair e escapar da chuva... Sempre de olho no relógio. Sempre fora de hora. Sempre de olho no momento seguinte. No que ainda se tem para fazer. Nas coisas que nos são úteis para fazer o esperado. O custo-benefício das coisas. O que é útil... Para nos sentirmos úteis. Para trabalhar, para pensar, para resolver, para pesquisar, para amar, para trepar. Somos nossa representação útil. As coisas não são, elas servem ou não servem. Servimos ou não... São nossas funções, nossas ações, o que aparece para o mundo e aparentemente o transforma.

Entretanto...

Subitamente de modo inexplicável, um SomAromaCorFotografia
..........uma música
..........
um sorriso...
.............um olhar
promove uma abertura, um portal dimensional! Por ele entramos e SENTIMOS as coisas: o que serve, o que não serve, o que se mostra, o que se esconde. Sentimos o tempo que passa e o que não passa.

Essa é a real sensação de liberdade! Por nanosegundos o espírito descola do corpo e acolhe o mundo como é, foi, e pode ser.
E aí retornamos expressivamente mudados,
............Inseridos no tempo...

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Crash

Na rotina do sofrimento antecipado pelo futuro certo dos dias de branco
Nostalgia pelo passado imediato dos dias de descanso
E o desejo de passar o futuro próximo em branco para sentir a nostalgia do descanso

Tanto te procuro como quando se procura uma fenda na muralha de vidro por onde se vê
... o tempo passar.
Brotam-se as flores no jardim, não sinto o aroma ou o canto dos pássaros ou o barulho dos pés ao pisar nas folhas secas. A aflição por ver e não viver
... enquanto o tempo passa.

Quero entrar no jardim, envolver-te com toda a força, com meus cabelos fechando a cortina do túnel iluminado pelo fogo do encontro de olhares. Transbordarmos de prazer, fechar o portal
... e engolir a chave!