terça-feira, 31 de agosto de 2010

Penumbra



Sonnet 43

When most I wink, then do mine eyes best see,
For all the day they view things unrespected;
But when I sleep, in dreams they look on thee,
And darkly bright, are bright in dark directed.
Then thou, whose shadow shadows doth make bright,
How would thy shadow's form from happy show
To the clear day with thy much clearer light,
When to unseeing eyes thy shade shines so!
How would, I say, mine eyes be blessed made
By looking on thee in the living day,
When in dead night thy fair imperfect shade
Through heavy sleep on sightless eyes doth stay!
All days are nights to see till I see thee,
And nights bright days when dreams do show thee me.


W. Shakespeare


Receita de bolo é feita para se errar. Quem a escreve sabe bem como fazê-lo crescer e ficar úmido. A importância está em se detalhar o uso do fermento - basta não esquecê-lo que tudo dá certo. Os secos, os líquidos, sempre assim. Substitui-se o sabor e dá tudo certo.

E para quem a lê? Primeiro a confusão em se apertar todos os ingredientes no pequeno espaço da cozinha. Liga o forno já? Acho que ainda não, se não, pega fogo na casa. Farinha, fermento, leite, ovos, açúcar, chocolate em pó (amargo? Toddy? Nescau? Poxa, e aí colocamos menos açúcar? Mas açúcar faz parte dos sólidos, pode deixar a massa... líquida). E as medidas: fáaacil! Xícara tem tudo o mesmo tamanho, não? Colher de sopa é do mesmo tamanho em qualquer faqueiro... Diferença milimétrica não importa. Tampouco a diferença entre o que se usa para os sólidos e para os líquidos. E ovo é tudo do mesmo tamanho também!

Ok, aquela bagunça de formas, restos de ingredientes pela cozinha toda, untar a forma - pode coisa mais irritante do que as falhas da farinha? Por que não gruda tudo de jeito uniforme? Ligo o forno - que temperatura? E se a forma for mais alta, o fogo a 180 graus não vai atingir a mesma temperatura no interior do bolo do que se a forma for mais baixa... Ou vai?

Enfim, se para quem escreveu a receita "não tem como errar", para quem a segue "não tem como acertar". E se o bolo cresce, é pura sorte. Ou não?

Há sempre um saber que passa despercebido quando a razão ilumina o conhecimento. Um saber que se passa na penumbra e no silêncio, nas entrelinhas. Muitas vezes o questionamento infinito das evidências nos fazem patinar na real engrenagem. Giramos em falso. Afastamo-nos cada vez mais do entendimento, das sensações. E como iluminar as lisas representações nos rouba o pensamento! Esquecemo-nos de nos aprofundar nas dobras que desvelam a essência das coisas.

Ciente, insisto em te perseguir nos meus dias.
Descrente, procuro me aquecer com tua sombra nos meus sonhos.

domingo, 22 de agosto de 2010

Evidências

Ainda de madrugada, uma cólica no baixo ventre... Resgatava meu sonho e dormia mais um pouco. Mas a danada insistia em me acordar. Relutava, fingia que não existia, e voltava a dormir. Qdo o sol bateu na janela do meu quarto, já não tinha pq continuar a dormir, resolvi prestar atenção na dor. Aos poucos, localizou-se na fossa ilíaca direita. Liguei para minha amiga: "onde fica o apêndice mesmo? Lado direito ou esquerdo?" Assim que obtive a resposta, decidi: hospital!

Pronto atendimento é briga de foice no escuro. Os médicos atendem pela ordem, mas não têm a menor idéia da gravidade dos pacientes que estão aguardando. E como atender rápido quem não tem nenhuma doença grave, mas é um doente grave? Existe dor maior que a própria?

Enfim, assim que o plantonista me examina, faz o diagnóstico clínico: dor localizada em fossa ilíaca direita, sinal de descompressão brusca positivo, mas... afebril. Pediu exames: hemograma, coagulograma, urina I, USG abdominal. Medicou-me com um sorinho e buscopan composto. Não tinha vaga nos leitos, logo, fiquei na salinha de medicação. Não dei uma de médica pentelha no lugar errado, resolvi ser o que eu era: doente. E obedeci. Foram 4 horas de espera, até que vieram me buscar para fazer o exame de imagem.

O ultrassonografista pesquisou, pesquisou... sabe que eu já estava duvidando do que eu tinha? Parecia que nem mais sentia dor... Estava com vergonha por ter somatizado uma doença. Será que eu estava carente e arrumei todo aquele forrobodó? Como a medicina de hoje é trabalhada por imagens: fotografias macro e microscópicas e suas quantificações. Perguntaram-me "de zero a 10, qual a nota que dá para a sua dor?". Cara, como vou saber? Estão sempre em busca de evidências. Enfim, o ultrassonografista encontrou meu apêndice com sinais discretos de inflamação. Sabe que comemorei? Pode uma coisa dessa? Comemorei por ter feito o diagnóstico - e não seria bem melhor não ter nada? Uma mané mesmo...
"A clínica é soberana" - jargão dito pelo ultrassonografista depois... que encontrou a evidência.

Volto ao P.A. e, na falta de leito, deixam-me ao lado da sala dos médicos quando escuto: "Ah, então é apendicite mesmo?" Aí fui promovida e encontraram rapidinho uma salinha para que eu sofresse minha real dor - antes, a dor era mera representação...

Depois... a equipe certa de cirurgiões, da minha escola - e como é boa esta evidência! Cirurgia lisa, gente boa na sala, opiáceos, estava em outro mundo, totalmente entregue...

Fazer o que frente ao inevitável? O que mais piora o prognóstico é a negação, achar que vai passar sozinho, que vai sumir, que vai desistir de vc... Vamos às evidências! Temos é que agarrar a ruinheira com as unhas e, com um bisturi, fazer a incisão com as mãos firmes, cauterizar o que sangra, e extirpar o que não mais lhe pertence. O que faz mal. Antes que ganhe o corpo todo.




quinta-feira, 19 de agosto de 2010

a ideologia do ciúme

"Uma raposa faminta, ao ver cachos de uva suspensos em uma parreira, quis pegá-los, mas não conseguiu.
Então, afastou-se dela, dizendo:'Estão verdes'"
Esopo
"Ciúme é querer manter o que se tem; cobiça é querer o que não se tem; inveja é não querer que o outro tenha."
Zuenir Ventura

Tem ciúme que sufoca. Tem ciúme que agrada. E não é que, por vezes, ele até faz falta? Se ciúme é querer manter o que se tem, talvez esta variação decorra do (des)compasso entre ciúme e o que se tem


O ciúme que sufoca: sem dúvida é descompasso! O que se quer ter ou o que se acha ter é muuuuito maior do que o que de fato tem. Ou porque não tem nada, ou porque o que tem é insuficiente. Frustrante. Para o enciumado, como tentar segurar com as mãos a tonelada de água que suspeita ter, enquanto ela escapa por entre os dedos. Para o sufocado, a paisagem vislumbrada entre os dedos é i r r e s i s t í v e l. E como se deixa prender, se já passou pelos vãos? Vai entender...

Muito bem, então vamos partir para o outro extremo: a ausência de ciúme. Por vezes queremos ser blasé, auto-suficientes, independentes, autoestima elevada... achamos que ciúme é para gente doida. E sofremos. Pq novamente há um descompasso. Ausência de ciúme pode denotar um certo desprezo pelo que supostamente tem. Capaz até que seja uma baixaestima elevada, nem acha que tem alguma coisa... Enfim, o que acha que tem é "pouco" frente ao que de fato tem.

O bom ciúme é aquele que agrada na justa medida... Como se fosse uma dica sobre o que talvez exista. Um sinal indireto do amor: o cuidado pelo que se tem. Aquele que preenche uma porçãozinha da dúvida que atormenta nossos sonhos. E aquele que nos permite uma abertura ainda maior para oferecer o que não temos...

Entretanto...

Resta-nos perceber o (des)compasso individual nesta relação. Trata-se de se sentir ou não aprisionado pelo amor (existe "ter" sem aprisionar?). Talvez... sejamos em potência uma infinitude: o que confere a sensação de liberdade é justamente a possibilidade de agir sob a influência de qualquer ser em potencial. Não há motivos para regras ou homogeneidade entre estes seres. A liberdade é a ausência de regras. Mas, dentre estas possibilidades, está uma que quer se sentir aprisionada, e que não quer perder. Restrito assim. Livre assim.

Deste modo, cuido para me-te aprisionar na justa medida. Restrito assim. Livre assim.

Confuso? Paaacaaas!!!

Tudo não passa de ideologia. Para justificar o descompasso que nos traz a "angústia da dúvida que atormenta nossos sonhos"...


segunda-feira, 16 de agosto de 2010

- Oi... vc tá em casa?
- Estou. Por que?
- Pode descer em 5 minutos? Estou aqui pertinho.
- Humm... (silêncio) Ok, (ok, vc venceu...)

Tanta coisa p fazer... uma viagem longa, por longo tempo. É preciso deixar tudo em ordem. Despedida das pessoas, das coisas, das tarefas. Como deixar tudo em ordem? Estimar e suprir todas as faltas que eventualmente se possa ter... E o que menos se deseja nestes momentos, é uma surpresa.

Mas ela veio.

Nada o fazia feliz. Um ar de preocupação que tudo sombreava. Estava ali, de corpo presente, mas a cabeça estava checando e rechecando tudo o que ainda faltava ajeitar. Perdidos no encontro e nos arredores, o tempo que poderia ser gigantesco, foi limitado ao caminho traçado. E foi assim o último instante juntos. Um beijo roubado, a preocupação rodeando as últimas horas antes da partida, e a sensação de desencontro.

Aí... a dor da saudade. Em que o corpo sussurra... prossegue queimando na ausência do outro... até gritar! Enquanto arde, arrepende-se por se calar diante dos deveres.

As tarefas. Sempre nos confundindo. Percorrer e cumprir o caminho planejado, sem olhar para os lados. Fazer o que é certo...

... enquanto que o que nos acalenta, como uma faísca no escuro, é curiosamente a lembrança de tudo que é errado.

domingo, 15 de agosto de 2010

Água e óleo

"Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração
e quem irá dizer que não existe razão"
R. Russo


Eu me lembro bem daquele dia, como se fosse um filme. Meu primeiro dia de cursinho, de mau-humor por não ter passado no vestibular. Sento na 2 fileira, vazia, não queria ninguém ao meu lado. O coordenador no palco pedindo silêncio. Entra um cara alto, barba cerrada, calça jeans e batinha indiana, estilo bicho-grilo, e senta na minha frente. Gostei! O coordenador do curso, gigante, desembesta a falar... Não tenho a mínima idéia do que era, só me lembro do pensamento voando que repousava sobre aquela imagem insistentemente fixa ao bicho-grilo à minha frente.
De repente, o coordenador do curso chama o coordenador da área de Biológicas. O bicho-grilo-com-cara-de-músico sobe ao palco... Broxei. Tinha que ser professor?
Era tiete das aulas de biologia. Cada palavra dele era proveniente de um mundo que me instigava a cada dia. Cada gesto, um provável sinal. Ele parecia descansar os olhos sobre mim, mas nunca acreditei - quem era eu nisso tudo? Uma pulguinha entre muuuuuitos.
Mas... os dias foram passando... As dúvidas pertinentes foram chegando... O fim das aulas era sempre uma surpresa: de repente, ele sabia meu nome! de repente, nossos olhares realmente se encontraram!
Ele havia feito medicina, falava alemão, e eu ainda nas aulinhas de inglês... Como poderia dar certo? A cada inquietude minha, vinha uma enxurrada de ansiedade pelo mundo de múltiplas possibilidades... E se eu fizesse a escolha errada? Como deixar de escolher todo o resto, muuuuito mais numeroso? Eu sempre achava que tinha muito mais a perder do que a ganhar. E ele, naquela calma "Vc quer abraçar o mundo com o dedo mínimo?" ou "Relaxa... só a morte não tem volta". Eu suspirava fundo. A poeira assentava. Ele fazia do movimento um mundo estável e viável.
E mesmo com tudo diferente veio meio de repente uma vontade de se ver!!!!! Enxergávamo-nos na penumbra e conversávamos no silêncio. Ainda me lembro do sorriso tímido qdo eu chegava, e a luz no olhar que tudo evidenciava. Mas minha razão não se convencia. Ele era muito mais, já não precisava de mais nada. E eu, eu... de tudo precisava. Nem caminho tinha. Como água e óleo.
Como toda relação decente, nos percebemos estranhos e nos libertamos.
Muito tempo se passou. Mas a razão sempre se ressentia: o que nos aproxima da água ou óleo, se não a própria razão? Que maldita confusão nos arma a razão para nos defendermos da vulnerabilidade do espírito? Até que ponto a razão interfere sem se ressentir?
Eis que... conheço-no na penumbra, no som que determina a frequência cardíaca e o silêncio das palavras. Puro espírito. De colisão em colisão, como partículas em alta entropia, arrebatou-me. Nele ex-sisti e in-sisti melhor. Um acolhimento completo na razão ébria.
Trocamos telefone, depois telefonamos e decidimos nos encontrar.. encontramo-nos e conversamos muito mesmo para tentar nos conhecer. Eu já era médica, gostava do Bandeira e de Bauhaus, de Van Gogh e dos Mutantes, do Caetano e de Rimbaud. Ele... "a cada inquietude, uma enxurrada de ansiedade pelo mundo de múltiplas possibilidades... e se fizesse a escolha errada?" Um encanto de músico. Tinha a fome de viver que eu enfim resgatara. Como pude deixar a razão se alastrar a tal ponto de desacreditar na... vida?
Parto para o vão das experimentações. A cada passo, uma desconstrução. A insegurança vem de todos os lados. As incertezas, uma certeza. Como Descartes, firmo meu método, mas desta vez à partir da incerteza e não da dúvida. A dúvida pede uma resposta. A incerteza se encerra em si. Como Montaigne, assumo a infinitude do mundo exposto muito maior que minha inchada razão impertinente. Seria demais presunçoso condenar uma mistura como água e óleo - para que se homogeneizar? É preciso ter coragem para enfrentar a vulnerabilidade do espírito. Ao permitir, a razão se perdoa.
E é justamente esta coragem que ele me traz, pela música que emana do seu Ser...
Não sei até quando. Por isso se torna para sempre.
Beijooooo!!!!!

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

...recalculating


Acho que esta é a curva da saudade.
F indica a intensidade da maldita.
d o tempo em... aí é o problema: bem que poderia ser em milésimos de segundos! seriam horas... Dias? Cruzes! Nem pensar! OU, se pode ser possível, de unidades variáveis, conforme a vontade da infeliz.

Mas isso é mto tosco. Como se não houvesse interferências. Esta é uma defesa, um pseudocontrole da nossa razão frente ao irascível e ao concupiscente. Algum sinal do objeto causal, o concupiscente manda seu recado e lá se vai o F rumo ao infinito! Alguma suspeita de que o objeto causal esteja em outra, e lá se vai o irascível embananado que sempre empurra o F para o sentido oposto, e vai com tanta coragem que a maldita se direciona novamente ao infinito.

Zonzinha, a razão remonta a curva. Planeja e firma a unidade do tempo estimada. O declínio presumido...

...
...
...

Não está funcionando. Isso já está começando a irritar!

Vou tricotar.

Bah!!!!

Meu desvio, desvario, beco sem saída

Só para saber que passa!
Volta, com outros personagens.
Mas já sei que passa.

"Como tentei te esquecer neste tempo. Tentei te afastar de mim. Tentei acabar com meu tesão. Tentei olhar para outros homens. Você entrou em mim (e como!), penetrou nas minhas entranhas, dissipou pelo meu ser, por minhas células... Sua imagem, emoções, prazer, dor, desespero, calma, sabedoria... O pouco de tudo está impregnado na minha alma e na minha carne. Não sai. Eu também sei que minhas palavras, carinhos, afagos, imagem e paixão adentraram nos seus receptores sensoriais e caminharam por todo o sistema nervoso, aquoso, como bálsamo e unguento para acalmar e suavizar suas feridas abertas. Sem dúvida estamos melhores. Mas ainda não sou capaz de amenizar a dor da interrupção. Fantasio, explico, racionalizo, nego, afasto... E vc não sai de mim. Não saiu em 10 anos, com muito menos. Não sairá mais... Não sei mais o que fazer. Como proceder. E que tempo é esse? Não passa, não passou, o que será dele? Como Florentino Ariza? Não quero morrer na praia. Não faz sentido.

Queria que vc me libertasse. Que fosse um canalha, ou que me dissesse que não me quer mais. Que cortasse o elo. Acho que só assim eu conseguiria prosseguir. Ou não.

Não tenho outra opção. Sou sua. Desde sempre. Para sempre..."


... e depois que passa, fica uma boa lembrança de vida.

sábado, 7 de agosto de 2010

To whom it may concern

To whom it may concern:
(that would be you, my love)

Affection from men
and loves of women
are different
although they might
slide together
and for a while
(in agony, in prayers, in rainbows)
in shivering thighs
in shallow breathing
in hot tubs
and used condoms

Ants, worms and mobs
may have your body
but shall you rest, linger and feast
over mine

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Socorro # 3

http://matematicosmarcovaldos.blogspot.com/2010/08/em-contro-ibuicao-3.html

continuando...

Tinha que passar por cima de muitas vozes que sempre lhe alertavam: "nãofaçaissonãofaçaaquiloOLHAOSMODOSMENINO!!!"

Ah, mas agora era deus, né..
.
Assim foi entrando devagarzinho pé ante pé naquele ambiente estranho mas incrivelmente aconchegante. Embriagado pela música, com uma acústica de ambiente pequeno e almofadado (putz, mas uma escuridão, não?), isolado, e algumas vozinhas beeeeem ao fundo que cantavam em uníssono àquela música. Foi caminhando e o ambiente foi ficando cada vez mais estreito... As paredes se mexiam! Em sintonia, como uma onda... Ah, mas estava tão bom, para que sair de lá? À contragosto, foi saído daquele corredor estreito de paredes macias e ganhou o vácuo!

Cara, quanto espaço!!!

Alguma luminosidade, mas ainda não definia imagem alguma: sombras, algumas cores, como uma pintura impressionista. Mesmo assim, não sentia os pés no chão. E sabe que nem estava mais se importando com isso? Sem chão, sem céu, sem lua, nem sol... e daí? O que o movia era a faminta curiosidade pelo que estava porvir! E a estranha sensação de estar embalado por aquela música... De um modo inusitado, sabia que absorvia TUDO que suas aferências lhe ofereciam. Cores, luz, sombra, sons, aromas, tato... e pouco a pouco tudo ficava mais nítido e tomava forma.

Enfim moldava sua própria tela!

http://autretourdelafolie.blogspot.com/2010/10/em-contro-ibuicao.html

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Socorro

"Socorro, eu não estou sentindo nada. Nem medo, nem calor, nem fogo, Não vai dar mais pra chorar Nem pra rir.
Socorro, alguma alma, mesmo que penada, Me empreste suas penas. Já não sinto amor nem dor, Já não sinto nada.
Socorro, alguém me dê um coração, Que esse já não bate nem apanha. Por favor, uma emoção pequena, Qualquer coisa que se sinta, Tem tantos sentimentos, Deve ter algum que sirva.
Socorro, alguma rua que me dê sentido, Em qualquer cruzamento, Acostamento, encruzilhada, Socorro, eu já não sinto nada."
Alice Ruiz


http://www.matematicosmarcovaldos.blogspot.com/2010/08/conto-ibuicao.html
Idiota perdido nas funções: função-marido, função-pai, função-pagador de contas, função-profissional, função-pentelho... Uma vida em carrossel, em que o dia de amanhã terá exatamente a mesma "função" que o dia anterior, em que se espera o próximo fim de semana que será idêntico ao fim de semana passado. Vida de Natal em Natal. Feriado em feriado. Literalmente engolido pelo tempo implacável. Sempre atrasado, sem tempo para nada, correndo rumo ao mesmo lugar em que agora estava.

E foi naquele cruzamento...

De repente, tudo se passava d e v a g a rrr. O som dourado ao fundo. Um aroma de verbena que inundou o ambiente. De onde vinha? Procura... analisa... olha adiante, onde seu corpo estaria no próximo instante. Para trás, de onde vinha. Não encontrava. Súbito, um calor lhe subiu o corpo, e sentiu ruborizar. Uma redistribuição sanguínea que despertou certas áreas adormecidas há mto, mto tempo. Não mais se reconhecia neste momento. A-funcional. A-temporal. A-tópico. Este aroma lhe fazia levitar e, sem mais sentir o peso da gravidade e a pressão atmosférica, sentiu-se mergulhado no vazio. Sem rumo, sem eira nem beira, indefinido... um nada. Nadica de nada.

Neste momento, poderia se desesperar - "Agora finalmente enlouqueci!" E correr para o carrossel, um conforto de situações previsíveis, como no casamento "até que a morte nos separe".

Entretanto...

Gostou da leveza. Curtiu a falta de pilastras. Afinal sem amarras, ao escapar pela tangente, teria o mundo inteiro a (re)descobrir. Aromas diversos, paisagens inesperadas, o tempo deixava enfim de ser linear (circular)... Decidia a trajetória, a velocidade, enfim senhor do tempo e do espaço!!!

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Mudança imprevista

Por vezes o medo de que algum acidente gravíssimo nos capture, invade nosso pensamento. Um mal pressentimento, uma intuição esquisita, uma notícia ruim, uma ameaça de que não mais tenhamos o que estamos tendo. Mas sabe que, pensando bem, isso é um bom sinal? No fundo diz que estamos tão bem, com tantos planos, com tanta vontade de vida, que não queremos mudanças.

Como permanecer neste estado? Estado em que o prazer por "não ter" é maior do que o prazer por "ter". E olhar para o que temos, como garantia para suportar uma mudança inesperada: aí, pensamos pequeno, resolvemos passo a passo, cada minivitória uma baita comemoração..

Quero que conste para que eu possa reler qdo necessário!

1. Ao olhar para frente, não pular etapas! Ao olhar para trás, munir-se de uma grande angular para certificar-se de TODA a garantia conquistada.

2. Pensar que, nem sempre, as coisas têm motivo para acontecer. Para que procurar causa para tudo? O acaso existe sim, assim como o que não acontece por acaso. E isso tudo por acaso...

3. Ter ciência de que um grande ensinamento não muda nossas vidas de uma hora para a outra. Talvez as grandes mudanças sejam imperceptíveis. Deslizam. Penetram suavemente pelos nossos poros e alcançam o nosso DNA sem pedir licença, sem confrontos, mimetizam-se ao nosso pensamento vigente e gradativamente vão se modificando.

Algum dia ainda permito, sem saber, sem luta, indefesa, que penetre em mim sem pedir licença, deslizando pelas minhas entranhas, modificando-me gradativamente de modo imperceptível.

De repente, em mim

De repente, em vc

E qdo nos dermos conta, já é tarde demais...
Batalha inglória