segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Chiaroscuro


Meu corpo dói. Fragmentado, as feridas ativas reclamam. Acordo e me perturbam. Com o passar do dia já nem sei mais o que incomoda. Quero que ele passe rápido, encontro muitas coisas para fazer para tentar mascarar. Não vejo as cores do céu, nem a brisa geladinha sob o sol. Embotada.

Nem sei mais o que se passa. Nada mais me emociona.

Ando pelas ruas, observando meus passos. Trombo com a extensão de um par de tênis, à seguir com outra de salto fino, a de salto grosso resmunga... Não me dou conta. Não me interessam extensões.

Funciono: trabalho, ouço, respondo, assisto, faço, pago.

O corpo, esquisito, pára. Cansa!

Vem, de mansinho, a melodia que se repete. Expelida não sei de onde. Volta aos tímpanos, adentra o sistema nervoso central e suscita imagens que se apoderam de todo o campo visual... Percebo o raio de sol que passa pelas frestas da persiana do meu quarto e com ele os fragmentos do seu corpo. Os cachos se espalham sobre meu rosto, o olhar doce e atento a cada história penetram na papila, as mãos de moldura assimétrica fazem-me arrepiar a cada carícia. Lábios rosados que sempre inspiram o cuidado dos meus... hidrato... massageio... retoco.

A pintura é delicada. Chiaroscuro. Tua luz toca delicadamente minha sombra no contorno da melodia. Assim prosseguimos na repetição cada vez mais sublime, emoldurada por um afeto que aumenta a cada dia, tornando-se quase insuportável!

O corpo queima, grita mudo, abafa e, sem alternativa, aguarda...

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