domingo, 26 de dezembro de 2010

Ébria

Estou com overdose de gente. Natal é tempo de encontrar quem há muito tempo não encontramos. Tios, primos, amigos, aqueles que em algum lugar da vida tiveram muito a ver conosco e que, de algum modo, são estranhos. Ou até, de identidade imposta.
Vejo os rostos tão familiares... tento resgatar alguma coisa que se perdeu, mas não encontro mais.
O discurso sem discurso. Os fatos sem a menor importância. Contam o que aconteceu no ano que se passou. Os fatos. O que se conquistou. O que se perdeu. As anedotas - dos outros. Mas... e o que mais?

O que se passa ao seu redor?

De que vale o último prêmio que conquistou? Passou...
De que vale o carro que comprou? Bateu...
Ou o anel de zilhões de dólares que ganhou do marido? Se seu amor está agora passando o natal com a esposa grávida...
Se o espírito de natal, talvez, for pretexto para reencontrar quem amamos, por que fazemos tanta questão de deles nos distanciar?

Um oi sincero, olhos nos olhos, olhos de quem baixa a guarda e expõe toda a alma, e olhos atentos de quem quer acolher isento de qualquer preconceito. O que te fez saltar do tempo corrido e visitar toda a infinidade do mundo - o que te fez, em um instante, devastar seu passado, acolher o futuro e, de soslaio, varrer o tempo da humanidade? Ou, o que te roubou aquela lágrima no canto dos olhos?
O que te perturba? Ou, por que não mais perturba?

Ou será
que a aflição do Natal vem justamente pq tudo isso pode ganhar a superfície? E o que faremos com o sobrenadante? Não dá mais para afundar...

Tudo bem. Passa. Vem o carnaval, e tudo fica como antes, até voltar toda essa ansiedade que simula o fim do mundo.
..e que começa com as primeiras luzinhas clandestinas nas ruas escuras.

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