sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Espanto

"Sometimes the expected simply pales in comparison to the unexpected. You got to wonder why we cling to our expectations, because the expected is just what keeps us steady. Standing. Still. The expected's just the beginning. The unexpected is what changes our lives." Grey's Anatomy -"Great Expectations"


Quando os deuses enlouquecem e deixam de permear nossas expectativas, caímos no abismo. Ausência de luz, som e pensamento. Nem aridez, nem maciez... nem dor. Nada. Ao sabor do vento, estou enfim aformatada! O corpo se amolda a qualquer forma, qualquer circunstância, num tempo qualquer.

Plácida, amorfa, solto minha alma e te encontro.
Enlaça-me, sinto que me puxa, vou para conferir.

Pouco a pouco, nanômetro por nanômetro, percorro teu corpo e teu olhar. Vou na cadência das estrofes. A cada acidente, um suspiro, uma extrassístole, uma dissonância. O caminho vai se tornando cada vez mais embriagante, atonal, e instigante. Imprevisto, o que era para ser desvendado numa noite, mostra-se uma imensidão! Cada nuance, um espanto. Um convite ao mistério sem fim:

Nada parece ter a pureza e a ternura que encontrei nos teus olhos. E nem o desejo e o prazer que repousavam sob tuas pálpebras. Muito menos o arrepio do meu corpo com o contato com o teu. Todo o universo contido entre 4 paredes: a sintonia poderosa que regia nossa sinfonia de vivências, idéias, palavras, gemidos, sussurros, imagens, abstrações indizíveis, dança de corpos, e sobretudo a doçura e a ternura que excitavam até o ultimo fio de cabelo...

Divino, mergulho em Bach
... meio tom acima.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Guidelines 2010, 2011, 2012...

1. Destemer a solidão
2. Fé, confiança...
... e pó mágico porque ninguém é de ferro
3. Olhar destemido e abrangente para varrer as possibilidades ao alcance das mãos. E aí proceder a escolha
4. Na despressurização, colocar a máscara de O2 primeiro no próprio nariz. Só assim se tem condições de cuidar dos outros.
5. Quem tem filho grande é elefante e girafa
6. Ouvir a voz do coração - FUNDAMENTAL!
7. "Transformar a perda em nossa recompensa"
8. Saber que tudo dá certo no final - essa vida é muito boa!!!!!

... e tá aumentando...

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Bastonetes insistentes

Quem dera
Eu me apaixonasse
pela luz
E direcionasse
meu olhar pelos cones:
A beleza das cores
A nitidez da imagem
Belas cenas
Belo filme


Meu insatisfeito olhar
conta com a força
dos bastonetes
Quer encontrar imagem
na penumbra
Não se contenta
com belas cenas
Quer mais


Olhar independente
Olhar livre
Olhar puro
Pula o muro
Do escuro se alimenta
À tormenta faz-se submerso
Dirige o filme
Quer sempre mais

sábado, 19 de dezembro de 2009

Não quero dormir

Não quero dormir
sem te ouvir no aroma de Halls
sem te tocar na música do Interpol
sem te provar nas tuas palavras
que memorizei
Vou dormir
e com você me enroscar,
me encantar, me deixar e me abandonar

Me leve como lembrança
bem aventurança
partner na dança
brincadeira de criança
leve love me leve

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Days of summer

Entre o número 1 e o 2, existem uma infinidade de números. Ou, para abençoados, só importa que perfazem uma sequência: 1 e 2, e basta. Mas eu gosto de encontrar e de imaginar a porção de equações entre eles.

Assim, o nosso encontro foi por acaso, for sure. Mas as coincidências não casuais me encantam. Aquelas ligadas por uma sonoridade regente. Ou talvez, só prestamos atenção nas coincidências mágicas. As outras, que completam e confirmam as leis aleatórias da randomização, passam por nós em preto e branco.

E assim chegou, melódico, poético, vibrante, sob o sol - e que sol! Pincelou minha vida com mel. Foi rápido, uma tela impressionista. Impregnou nas minhas lembranças. Quanto mais nos afastávamos, mais eu tentava me livrar das imagens, e aí sim que o avesso colava nas minhas entranhas: teu sabor, meu prazer, teu cheiro, minha música, nossa cadência.

Poderia ser simples assim: não quer me ver. Se pudesse, estaríamos juntos.

Mas não fui abençoada: o dom da fé não me foi concedido. Não tenho deuses, nem por quem rezar. Assim, só me resta acreditar no acaso poético. E nele, continuo rezando por ti.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O universo num grão de areia

É noite cheia de vazios de gente. A forte batida eletrônica ressoa com nosso batimento cardíaco, a luz intermitente mascara os rostos, os corpos suados se tocam como se não estivéssemos ali, é como um sonho... por não ser possível perceber vida além do corpo.

Encontro enfim quem vive e sente a batida forte com o coração. Dança com a alma. Um sorriso cândido de quem nada teme - está em fase de ganhar o mundo! Só não sabe como chegar em mim. Nosso olhar se esbarra, percebo o eletromagnetismo, o rítmo nada aleatório, a dança das equações para uma única resolução... Discretamente ensino o caminho pelo olhar de viés. A sintonia é imediata, os corpos se encaixam, exalamos desejo e inalamos prazer, o oxigênio radiante nos deixa cada vez mais ofegantes.

Salto, escapo, a vida me amedronta! Como de hábito, quero fugir, manter-me entre corpos, depois de tanto tempo de asfixia... Mas volta, empurro-me, algo me enlaça - o encanto no sorriso, no olhar, no pensamento, na fantasia.

E nesta, contida num grão de areia, percebo a imensidão da atmosfera que me embriaga e seduz. Sinto o calor e a maciez dos teus lábios, um arrepio eriça a penugem da minha nuca, um aconchego que me encharca... Voamos com a brisa e atingimos nosso espaço, transcendente, quietude que permite escutar o rítmo cardíaco, sussurros, gemidos, uma sinfonia! Em movimento pendular, harmônico, deslizamos nas nossas seivas até a explosão dos sentidos, na velocidade do prazer! Aí sim presenciamos o infinito, aquele que atingimos ao som de Bach. Tudo num instante. Nada mais que um instante...

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Here comes the sun

Um dia fostes tudo para mim. Te dei meu sol, minha lua, meu sim, meu não, até meus sonhos. Nada além enxergava. Não era possível. E ainda assim não me sentia capaz de te dar o que merecias. Tudo ainda era pouco.

Com o tempo, fui percebendo que já não tinha nada. Não me encontrava no pouco que restava de mim. Como procurei... Nos filmes, nos livros, no fiasco de paixão que sobrava do olhar de um outro alguém.

E que inveja...

Eu não tinha mais nada para oferecer. Eu não era mais ninguém. Restava o espaço que meu cisco de corpo ocupava em algum lugar da casa, do consultório, do hospital ou dos lares dos nossos amigos que nos viam como um... e alguma casa decimal.

Bom, por algum milagre, acho que por instinto de sobrevivência, capturei o soprinho de vida que ainda tinha e, alcei vôo - acho que já tinha virado pó e não sabia! Gostei da brisa, senti enfim o ar entrando pelos meus pulmões, insuflando os alvéolos atelectásicos, voltei a ter volume. O espaço que agora ocupava, não cabia mais naquele cisquinho que me era de direito. Quando insistia em voltar, sentia novamente o colapso alveolar progressivo e lento... Por hábito. O fluxo já tinha direção e sentido estabelecido. Irremediável.

Agora, sei que o mundo me espera. Sei da fome que meus olhos sentem pelas infinitas imagens oníricas, sonoras, inusitadas, poéticas, irônicas, concretas, ideais, experimentais, essenciais... O caminho é repleto, banhado pelo luar. O sol está chegando. Pouco a pouco.

Mas... o que deixo , o que de mim se foi, o mundo que te dei e se foi, não recupero mais. A sede de beber o teu desejo se foi. E com ela, o melhor e o pior de mim. Ao teu lado me vejo pó.

Preciso voar.

Preciso!


Desculpe-me... é questão de sobrevivência.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

De ninguém

Quando eu for
tua, minha, sua
a camisa
Trabalha
meu, teu, seu
corpo a copo
Vira
teu, meu, nosso
mundo,
luto
de ninguém