domingo, 17 de outubro de 2010

contramão


Eu me lembro de não me interessar mais pelas pessoas. Eram todas iguais. Entrava e saia das conversas com a mesma expressão. "Muito riso e pouco sizo. E a gente só não se é, como não é de ninguém", como escreveu Mario de Andrade. Como pude achar que não havia mais nada?

Não sei que pedra os deuses jogaram na minha cabeça. Nem o que foi que me arrebatou.
Um sonho
uma lufada de ar
uma palavra de arte...

De repente, tudo começou a fazer sentido: de que as coisas não têm sentido.
As coisas são.
Estão.
Para se experimentar.
Provar Degustar Apreciar.

Passei a andar pela contramão. As pessoas cruzavam por mim, trombavam, olhavam torto...

Nem sei também em qual subsolo me encontrou. Parece que nos resgatamos. Retomávamos nossas vidas, mas continuávamos a nos resgatar. De tempos em tempos: "Vamos bater um papinho?"

O mundo desmorona ao nosso redor...

Corremos pela cracolândia no meio da noite, de mãos dadas, gente caindo ao nosso lado, o perigo nos assombrando, na diversão proporcionada pela segurança dos nossos braços entrelaçados,
palavras encadeadas
com o olhonoolho que tudo sabe e sente

Só assim tudo se faz possível

É de graça...

Sem exigir recompensa

Aí sim, pra sempre

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