segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

E se...


"Devemos nos libertar desse conservadorismo cultural, tal como devemos nos libertar do conservadorismo político. Devemos desmascarar nossos rituais e fazê-los aparecer como são: coisas puramente arbitrárias, ligadas ao nosso modo de vida burguês. É bom - e isso é o verdadeiro teatro - transcendê-los através do modo do jogo, através de um modo lúdico e irônico; é bom ser sujo e barbudo, ter cabelos compridos, parecer uma moça quando se é um rapaz (e vice-versa). É preciso pôr em "cena", exibir, transformar e derrubar os sistemas que nos ordenam pacificamente".

M. Foucault, Estratégia poder-saber, Ditos e Escritos


E se passássemos o Reveillon de vermelho? Ou preto? 
E se o dia das mães fosse aquele dia inespecífico em que temos vontade de passar o dia inteiro com nossa mãe?
Dia das crianças com vontade de pirulito e montanha russa?

Casamento como instante de compromisso de alma, de enlaçar os dedos e andar de mãos dadas pelo parque, sem promessas de eternidade ou necessidade do felizes para sempre?

Trabalhar de regata e short por conta do calor...

Andar de havaianas, já que descalça não consigo...

A forma que nos enforma e sufoca... para que? Para mimetizar? Para dissolver entre os olhares perdidos e opacos...

A mesma forma que nos diferencia e nos opõe, que nos distancia, que nos impede que simplesmente encontremos nossos olhares. Aquele difícil olhar que nos despe e nos encara como realmente somos:

nus
chatos
maus
fedidos
pura impureza....

sim, a mais pura e sincera

eSsêNCia.







domingo, 23 de dezembro de 2012

Dica

Estava pensando na música do chico sobre um copo pela metade cheio ou vazio.
Quando a porta do estabelecimento está entreaberta - fecha ou abre?

Percebo como estão os relacionamentos nestes tempos líquidos. A porta, no máximo entreaberta. E, no mínimo, entreaberta. O que é capaz de mantê-la assim, escapando de sua tendência?

De novo, Kant está certo: o medo ou a preguiça.

Sim, às vezes o que está por ser conhecido é tão diverso, mexerá tanto com a pseudo-estabilidade da rotina, que dá preguiça de tudo mudar. E medo de, depois de mudado, ter que reestruturar se tudo mudar novamente.

As ofertas são tão grandes, o leque amplo de pessoas, que pensamos: "ah, melhor partir para outra. Tanta gente para se conhecer... Vai existir um que encaixe direitinho e não dê trabalho"

Pode ser sim um estilo de vida. Estilo este que endeusa o parceiro, de tal modo que seja exatamente como deseja: o que nos completa ou o que coincide conosco, mantendo a rotina como sempre foi. Não dá trabalho, não requer esforço e se escapar, nada terá que reestruturar. E vamos pulando de galho em galho, nos divertindo enquanto dura, e dando um "foda-se, eu não preciso dele mesmo..."

pausa para refletir...

Acho que agora me percebo uma obstinada. Gosto de ir até o fim. Mesmo um filme ruim, gosto de ver como termina.
Eu gostaria sim que me procurasse e que apostássemos nesta porta entreaberta. Sou preguicenta, mas medo, definitivamente não tenho. Nem de portas fechadas e nem de portas escancaradas.

Estou te esperando!

=)

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Click


apagou
virou pó
a brisa levou...

nenhum sinal do que foi!!!!

só as palavras  dEScOlaDas dE Mim.
   por aqui
      por alí

sábado, 15 de dezembro de 2012

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Lullaby

Sabe aqueles momentos em que parece que as coisas estão por um fio?
Quando escapamos do nosso corpo e tanto faz se ele está ou não no mundo...

A realidade é tão adversa, tão esquisita, que vc já não está lá. Parece que não há saída, só se descolarmos do corpo e deixá-lo se virar.

Eu não sei porque, mas nestes momentos nos encontramos.




Vou te confessar: eu também não tenho a menor idéia do que fazer!!! Eu também fico perdidinha. Fico sem rumo. Amedrontada sim.
Dá vontade de te oferecer meu corpo para acolher tua alma perdida...

Mas talvez... isso seja o melhor que tenho a fazer mesmo. E só.

"Vai dar tuuuuudo certo =)"

=)

domingo, 2 de dezembro de 2012

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Carrossel no abismo



 O fim de uma relação é sempre punk. Tvez pq, ao se colocar tudo em perspectiva, o fim se torna um downgrade impressionante. Quanto mais voluptuoso o início, mais vertical é a queda. Mas isso não quer dizer que um fim manso, por conta de uma relação mansa, não seja punk...

Não somos preparados para encarar o fim.

Afinal, assim que nascemos, já sabemos que terá fim. Talvez em algum momento, quando a farmacologia não era voltada para os neurotransmissores, aqueles que não conseguiam se livrar da idéia da morte como a única certeza, morriam de depressão. Afinal, para que fazer isto ou aquilo se tudo com certeza terminaria?

Aí... a seleção natural propiciou a capacidade de "esquecer" o irremediável fim, como inerente ao nosso DNA. O efeito colateral:? O "para sempre".

Felizes para sempre
Amor eterno

Até o amor entre pais e filhos é construído como eterno e imutável. Pô, um filho ou um pai/mãe desgracento é moralmente inconcebível!!! Mas eu me lembro do pedigree do meu falecido cão: uma putaria de mãe com filho, pai com filha, tudojuntomisturado... Ou seja, este vínculo com quem geramos ou por quem fomos gerados pode ser sim uma falácia moral... O primeiro "para sempre" para nos aconchegar e trazer a segurança para transcender a idéia do fim, da morte.

Sim, procuramos uma segurança para nos agarrar e transcender a idéia da morte certa.

Vamos encarar os fatos, vai...

1. O fim existe, é inevitável. Mas não temos a menor idéia de quando ele chegará
Lembrei-me deste post
http://autretourdelafolie.blogspot.com.br/2011/08/nao-ha-situacao-mais-delicada-do-que.html
A principal diferença é que, naquele momento, eu insistia na infinitude do presente. Ou seja, o fim ainda não estava posto. Ainda me apegava à transcendência do amor eterno para abafar o fim.
Ok, mas vamos prosseguir no guideliness...

2. O fim chega. Portanto, vamos ser práticos e colocar em pratos limpos.
3. Por incrível que pareça, passamos pelo fim, mas há algo que continua!!! Aí me vem uma imagem beeeeem Heideggeriana.
4. O que continua é o nosso ser jogado no abismo, no vão, no vácuo, na ausência de forças, gravidade zero mesmo, massa zero, tudo zero. Este é o momento em que não podemos nos perder. Aí eu me lembro da conjectura de Poincaré, uma bolinha no vácuo...
5. Viramos uma bolinha, como a do post da saudade
http://autretourdelafolie.blogspot.com.br/2010/03/saudade.html

Quando o fim está no presente, não assusta não. Dá uma imensa preguiça dele sair...
E olha lá, tudo de novo, a infinitude... no fim.

Talvez pq... o presente é infinito, não? Acho que é isso! Pouco a pouco aprendo a viver o presente.
Aí está a verdadeira noção de infinito...

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Entremeios


Prá Ju

O mundo anda louco demais!


Caso 1:

Y0, Homem de 35 anos, 3 filhos, recém-separado... Dono de uma mega empresa, e o sócio Y1 preocupado...

Y0 acaba de se separar e DESPIROCOU! Não conhece muita gente além do círculo corporativo, da empresa da qual é dono. Está comendo todas as funcionárias, perdeu a noção do ridículo... Quer trocar o porche por uma ferrari. Quiçá comprar um helicóptero! Participou de um evento comemorativo da empresa, bebeu até cair - de fato. Inconsciente, precisava dar umas palavritas aos participantes do evento. Acordou, deu duas palavras, caiu de novo.

Y1, mais velho, que (quase) sabe das coisas... Casado há muito tempo, sabendo que não é feliz e que é assim mesmo. Arranja uns cômodos para a mulher decorar, assim ela se ocupa e pára de encher o saco dele. Fez o ironman no Hawai - as endorfinas o sustentam para aguentar a vida como ela é. Se Y0 assim continuar... vai rodar! O mercado não permite.

Caso 2:

Da área financeira, Y3 está super bem. Tem uma amante X, casada, que não quer deixar a vida dela para ficar com ele por conta da filha. Y3, divorciado. Está bebendo de cair, falta no emprego, e tals...

No fundo, está no papel da... amante. Percebe? Está fazendo o papel da mulher! 
Tenho uma amiga que estuda travestis. Sabe qual é o primeiro demérito social pelo qual passa um travesti? Deixar de ter o corpo de um homem para passar a ter um corpo feminino, menos "valorizado" socialmente. 
E esse cara da finança? Está no papel da mulher SEM tê-lo escolhido. Um tremendo downgrade!


Há um disparate entre esta vida construída, que a sociedade impõe inclusive ao nosso corpo; e a vida de fato. Como nos enfiam nessa cilada sem nos deixar perceber? Só pode ser a pseudo-segurança que parece oferecer.

Ora, se todos vestem cinza, ao vestir cinza sente-se seguro, não chama atenção, mais fácil continuar no jogo.
Se todos se casam e têm filhos, melhor assim o fazer
Se todos têm um carro sedan, opa, é com esse que vou
Se todos correm atrás de... METAS, melhor assim o fazer

ENTREMEIOS...

Sim, eu consigo encontrar tua música!! 
Nua(s)


... e os olhos mais doces que eu já vi =)

Entenda: SÓ eles dão conta da vida de fato.
SÓ!
e basta!

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Mudança




Sente que algo te perturba
Alguma coisa não te faz caminhar como sempre
Acorda esquisito
Vai dormir estranho

A perturbação se propaga como uma onda no seu corpo

Não sabe de onde vem
E aí, tenta promover outra, igual e de sentido oposto

Onda estacionária
... imperfeita

De repente, está mais abalado do que imaginara!!

R E L A X A ! ! !

Deixe-na entrar
Sinta que propago em vc
cada célula
cada neurotransmissor

E se te abandono, o transtorno agora está em seu entorno

... o mundo, parado, extremamente chato!

domingo, 11 de novembro de 2012

Encantada





o amor acontece sem oferecer opção de escolha
só resta a rendição

Convivência



generosidade
confiança
respeito
admiração
afinidade
reconhecimento da importância da presença do outro - que a música fica muuuuuito mais Bela, divertida e interessante

parece história da Carochinha, bem lugar comum mesmo... mas é fato.


quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Licença poética



Licencinha para escapar!
(só por um minutinho...)

... bora?

domingo, 4 de novembro de 2012

Frankenweenie

>
Coisas assustadoras como conto de fadas
Contos de fadas assustadores

Bom Mau Bem Mal Feio Bonito Claro Escuro Certo Errado...

O encaixe que não encaixa
O que encaixa que não tem encaixe

Aprendemos a viver por uma finalidade, a ciência para uma finalidade, uma ação para um bom fim

Entretanto, na maioria das vezes a consequência (o fim) é imprevisível. A vida sempre nos mostra um final inesperado.

"às vezes os pais não sabem bem o que dizer", é quando neste filme, tudo começa a fazer um sentido incrível. De novo, confundimos muuuuuito o "resultado" com "o que nos move".
Talvez, para sair desta armadilha, para quebrar o resultado-que-encaixa previsto que nos engana, seja fundamental perguntar:

"Por que não?"

Esta é a pergunta crucial para todo ato duvidoso. Aquele que fica numa encruzilhada, em que o medo vem de soslaio, abafado pelo lugar-comum.



quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Jump





Não entendo o porquê do freio de mão...

PULE!!!

Medo de que? Manda ver! Sem medo de ter escolhido a face errada

Percebeu que tá ruim? Ora, mude o ângulo e prossiga... nem que seja 1 grau, já fará diferença...

Afinal, nem todos têm a coragem de partir para uma mudança radical.

Eu, sempre

PULO!!!!

E depois corro atrás ;)

Cum fé!

obs: saudaaaaaade deste som =)

domingo, 28 de outubro de 2012

Luz

Dia desses, cansada de tantos problemas para resolver, tanta coisa bacana que estou deixando de lado por conta disso, qdo dei por mim estava parada diante da minha biblioteca...

Meus olhos percorreram as estantes...
Naquele calor, uma brisa fresca soprou em meu rosto com um cheirinho de verbena
E a música despertou



Peguei aquele livro...
folheei as páginas...
eu me lembrava de cada passagem
         cada cena
                cada gesto
                        cada sorriso

aquela emoção acesa na lembrança
o som abafado, o aroma chega atravessado na seda que envolve as narinas, a imagem translúcida...

mas não há mais o medo da intensidade do som, ou das cores agressivas, ou da fúria da alma. Afinal, o fim da história está posto, já sei.

mas aquele furacão me arrebata, e nele sou levada à violência do mergulho no fundinho da minha alma. Um portal que se abre, tudo de novo, e que não consegue esconder a beleza da sua imagem misturada à minha láaaaaa nas entranhas do meu ser.

A luz é tanta, que fecho o livro.

Se este medo voltou tudodenovo...
... talvez a história não tenha, de fato, chegado ao fim.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

energia pura

Este mundo da mecânica quântica é muito louco para mim. E tremendamente difícil para entender tbém. Acho que por isso é que ele acaba sendo meu "Deus" ou "tapa-buraco"...

Tvez exista uma energia perdida por aí, que atravessou o tempo, transcendeu a localidade...




E por vezes um Encontro, ou um Baita Encontro, ou um Encontro do Cacete, consegue colapsar esta energia, uma

EXPLOSÃO!!!!!

Aquela em que perdemos a noção de nós mesmos.
Em que invadimos o nosso Ser, mergulhando na alma do outro e lá nos encontramos...
... cada vez mais fundo
... infinitamente fundo

Para este movimento, só vejo como possível uma implosão

...

ficamos em pedacinhos.
Alguns com partes de um, outros com partes do outro, outros com a mistura dos dois...
Um CalEIdOscóPiO!!!

Nestes termos, frágeis, despedaçados, qualquer brisa
P u  l v  e   i     r      i    
                                       z      
                                                      a

e, de novo, há energia nossa por todos os lados, que transcende o tempo e o espaço
Ocupam hoje, ontem, amanhã, esta realidade, uma realidade paralela, os sonhos...

E, enfim, quando ela quer colapsar... ambos sentimos. Lá e cá. Ontem e hoje. Hoje e amanhã...

Isso não acaba nunca. É energia pura. E, se nos encontramos, colapsa

EXPLODE

... tudo, tudo de novo.

eu não sei se aguento

http://autretourdelafolie.blogspot.com.br/2011/11/paixao-pelo-amor.html

É... eu não aguento.

domingo, 14 de outubro de 2012

"eu to cansada dessa merda"

‎"Diverte-se a multidão que exige o sensacional. Paradas, encenações de grandes espetáculos, a morte de homens ou de animais são o lote cotidiano de um público que pede para ser enfeitiçado".
Jean-Noel Robert.

Chupinhei esta citação do perfil de um amigo. Não conheço Jean-Noel Robert, nem sei de que época fala, mas é beeeeem atual. Na realidade, é essencial. Faz parte da natureza humana, seja na antiguidade, oriente, agora...


Acho que meu amigo anda de saco cheio, feito eu rsrs

O interessante de se envelhecer é vivenciar, cada vez mais, o que se lê e vê na literatura, no cinema, na ficção. A cada dia fazemos links entre o abstrato e o real, sem pesar ou prazer, é o que é.
Já disse um dia a alguém que escrevo este blog para minhas filhas. E acho que cada letra aqui provém disso - da "realização" do fantástico, da comprovação das coisas que parecem absurdas e fantasiosas. Um diário de bordo sobre o que é vivenciado, na pele, o que passou do mundo das idéias para o mundo do real (inclusive as idéias podem ser reais, diferente das conjecturas...).
Daí as diferenças entre um estado anárquico aos 15, aos 20, aos 40, aos 60, aos 80, aos 100 (sim! Tenho alguns pacientes entre 90 e 100 anos! Hiper lúcidos e ativos!!!). Se antes era "bacana", se há governo sou contra, etc, etc, passa-se depois por uma certa vergonha. Vergonha de não conseguir assumir lado algum, de ter desistido de ler jornais, de se passar por um alienado e desinformado (desEnformado rs). Chega uma hora, de tanto vivenciar a coisa podre, que acaba a vergonha. Não nos rendemos mais à pressão: "vc vai se alienar? Vc é responsável por isso!!!! Faça alguma coisa!!!"

Cara, fazer O QUÊ?!?!?!

Se, desde a antiguidade é esta merda? Sempre que se pensa no coletivo, chega-se à conclusão em que Platão chegou sobre Atenas - tá deteriorada, não tem mais jeito!

Comecei a campanha ao voto nulo. E nunca foi tão consciente. Aquele medo de ser responsável, acabou. Só nos chamam para a responsabilidade nestes cenários impossíveis. Sou responsável pelo que está ao alcance das minhas mãos, e não por esta merda.

Tenho sorte na minha profissão. Independente de governo, de credo, de cultura ou linguagem, lido com o corpo humano. Sei lá, não dou conta de tratar animais ou marcianos, mas a linguagem do corpo (olho) humano, entendo e sei tratar. Faço isso aqui, em Bali, na faixa de Gaza, no futuro, no passado... Sob petistas, sob tucanos, corruptos, presidiários, sacerdotes, o que for. Tenho sim uma profissão independente e universal, ainda bem! (Meninas, existe melhor profissão? Sigam-me! rsrs)

E... tenho sorte em conhecer Rilke: "se a própria existência cotidiana lhe parecer pobre, não a acuse. Acuse a si mesmo, diga consigo que não é bastante poeta para extrair as suas riquezas."

Mantra.
Pronto, acabou o desabafo. Rilke SEMPRE salva...

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Poço Midriático

Esses dias voltei a me lembrar do mundo underground.

Eu me lembrava de escutar, há muuuuito tempo atrás, do povo midriático-alucinado, que o fármaco abria as portas para a intuição, para a criatividade, para o inconsciente, blá blá...
Como sempre fui de dar corda para o discurso do outro, para conhecer outras formas de pensamento, concordava e fundamentava numa cadeia lógica de razões (até as hipóteses mais estapafúrdias são convincentes dentro de uma cadeia lógica de razões... o outro dificilmente capta um absurdinho bem encaixado rs..), escutava...
observava a fala truncada e a midríase fixa...
a coriza...

E ficava na minha.

Mas aí, numa festa da biologia, aquela com fogueira e Pink Floyd, meu olhar se cruzou com aquela midríase... na penumbra da combustão incompleta da lenha... o cara estava com meu super-amigo-de-infância, músico, hoje um violonista de primeiríiiiissiimaa!

Bom, se "boi malhado anda com boi malhado", como uma tia sempre me dizia, trocamos telefones. E fomos a uma festa perto da USP, muuuuito maluca.

Ficamos num sofá, hoooras. No silêncio. Olhando para os ponteiros do relógio.
Cada coisa que a gente faz no auge da juventude... Hj, só rindo! kkk Mas achei que algo estava esquisito.
Resolvemos sair para a festa, que estava quase acabando (putz, foram hooooras SÓ no silêncio). E aí, um pouco desgrudados, eu o ouvi falando sobre o fármaco - que, sorte minha, havia acabado.

Acho que fiquei meio incomodada com aquilo - sempre fui certinha, já estudava medicina e já sabia dos prós e contras...

Bom, mas aquela "conversa"de olhares na penumbra sob Pink Floyd ficou na minha cabeça. Resolvi insistir.

Fazia farmácia por imposição dos pais, e nos encontramos uma ou outra vez na Química - ele era beeeem devagar mesmo ("bradi", jargão dos fmuspianos)
Fazia ECA - música - e o ouvi tocar: um espanto! Isso sim o revelava. Na música eu reencontrava aquele que acolhi na festa da biologia. Nem reparava no olhar midriático, nem precisava. O cara era o Mundo de Heidegger. Na Terra (música) se mostrava Mundo (o Ser).

Mas era um Ser dicotômico. Não dei conta de montar o quebra-cabeças (afinal, primeiro eu teria que montar o MEU quebra-cabeças..), e nos perdemos nesta vida.

Até que, já grisalho, o reconheci sob a ficha do novo paciente.
PUTZ!!!!
Fisicamente, o mesmo. Algumas rugas e cabelos brancos a mais...
mas irreconhecível. Parecia desconectado do mundo.

Perguntei sobre a música! Quem sabe assim o reconhecesse!

Nem assim.

Uma pena...

Talvez algumas pessoas, dicotômicas ou não, acabem se afogando nesse poço midriático da intuição, criatividade, do inconsciente, e se perdem
Desconectam do mundo real
e os perdemos sem nem perceber quanto.




domingo, 7 de outubro de 2012

the ex



Foi nesta rua deserta, tvez um pouco menos iluminada e o carro menos antigo e mais velho...
Passei umas 3 vezes a portinha pequenina, não encontrava o número certo.
Parei, andei, achei, entrei... Fui chamada pelo som do violino.
Atonal
Distônica no local. Parecia que estava solta do contexto...

Pedi uma cerveja. Descobri faz pouco que álcool ajuda sim!

Relaxei...

Sentei no sofá igualmente atonal... mas que tinha sua função no cenário, na frente de uma arara cheia de roupas vintage. Uma mesa de madeira maciça na minha frente, peguei meu moleskine e comecei a desenhar para me fazer companhia.

Pronto, a porta do "teatro" abriu. Entrei, sentei na frente (como sempre), e o vi no palco.
Era a passagem de som? Um som que não combinava com os instrumentos que via!

Aliás... NADA combinava com NADA! O baixo cantava diferente e conversava com a bateria, que nem sei como entravam em sintonia, os sopros em escalas além das ondas, as cordas do violão vibravam por outros estímulos.

E eu me lembrei da sua midríase na íris despigmentada. Mergulhava no poço da pupila, enoooorme e infinita. Nenhum som, nenhuma palavra, e me afogava na sua doçura. A ternura era tanta que me assustava!

Vc me assustou. Vc me assusta. A midríase é tanta que tenho medo de me perder...

E fico aqui. No meu cantinho. Observando, atônita, a sintonia dentro deste som atonal que novamente a vida me traz.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Encontro fugaz

para H


Tem pessoas que passam por nossas vidas
por 1 segundo
por 1 dia
por uma eternidade,

e conseguem arranhar nossa alma.

Encontro visceral que 
remodela o espírito
e nos torna ainda mais Belos

Não me esqueço.
Foi legal!

Bjs.


terça-feira, 25 de setembro de 2012

Lacunas

Hj pela manhã recebi uma notícia punk. Um cara da faculdade, algumas turmas na minha frente, esfaqueou a esposa e a filha e se atirou do 7andar.

Meeeeuu!!!

Comecei a viajar:
- como foi o cenário?
- o que se passou na cena?
- o que motivou os integrantes?
O que se passa na cabeça das pessoas...
... ou, o que falta na cabeça das pessoas...

Aí parei para pensar por que estava viajando tanto nisso. Por que isso ocupou tanto tempo do meu tempo?

Acho que Marilena Chauí tem razão. O homem adora lacunas para preencher com o "pozinho" da razão. Investigar porquês, a orígem, a solução, o éter, o que for. Quer construir pontes, fazer conexões.

Mas não é qualquer lacuna...

É aquela que mexe com nossas "paixões" (pathos). Uma tragédia como esta, a cura do câncer, a conjectura de Poincaré, sei lá, a sincronicidade...

O que nos afeta? É o que dá o "pause" nesta rotina sufocante e que nos permite "tocar a terra".

É isso...
O "sentido" da vida, talvez

domingo, 23 de setembro de 2012

Meias verdades

Dia destes estava estudando as tragédias gregas de Édipo e Íon. Em especial o tema em que se descobre a verdade - trágica - através de meias-verdades.

(Não vou resumí-las por aqui. Há fontes muuuuito melhores que não vão se desviar por minha memória em franca decadência.)

Ou melhor, quando se omite uma parte da verdade por medo ou culpa.

Já vivi algumas situações destas. Invariavelmente leva ao grito de uma das partes (tal e qual as tragédias gregas. Elas sabem de TUDO, impressionante). O grito que arranca a verdade, cujas garras arranham as cordas vocais e faz calar qualquer integridade, tamanha a vergonha por não ter sido desvelada...

... inteira
... nua
... singela, como uma brisa, em sua transparência e força.

Qual a pretensão de quem a omite, ao se menosprezar a capacidade de quem é "poupado"?

Qualquer relação só é decente se se permite aflorar sua própria personalidade. E esta só é possível quando a verdade sobrepuja o medo de se magoar e de magoar o outro.

Impressionante como sempre voltamos para Kant e Foucault (pelo menos...). Os grandes e reais vilões, que não há como se perdoar, são o medo e a preguiça.


segunda-feira, 3 de setembro de 2012

TPM masculina

Uma vez minha amiga dermatologista me disse que os homens estavam virando mulher e as mulheres, homens. Ou seja, os homens a procuravam cada vez mais por queixas estéticas que nem ela percebia. Mais que as mulheres...

Isso ficou na minha cabeça...

Eis que começo a comprovar. Não em termos estéticos, mas no comportamento mesmo. Antes, era eu quem tinha piti - e era obrigada a ouvir que poderia ser TPM... Hoje, só observo as idas e vindas carregadas de atitudes destemperadas (o "piti") dos homens, e a vergonha tremenda depois que percebem a cagada. Pelo menos nós, mulheres, já admitimos de vez e até descarregamos a culpa na TPM, mesmo que a época do ciclo seja totalmente diversa...

Mas os homens... Se a TPM inexiste para eles, a quem culpar?
A situação econômica, o chefe, o trânsito, a rebimboca da parafuseta...

A bem da verdade... querem muito caracterizar o que é masculino, o que é feminino, mas somos todos seres vaidosos, emotivos, instáveis, racionais, um caleidoscópio mesmo. E a combinação de todas estas características resultam em atitudes diversas que não deveriam ser surpreendentes. São próprias. E deveríamos estar cientes disso.

Deste modo, continuo com meus cremes, culpo a TPM indevidamente, e observo as atrapalhadas do sexo oposto com paciência, carinho, como faço com os pitis das minhas filhas.

sábado, 25 de agosto de 2012

"When the spirits are low,
when the day appears dark,
when work becomes monotonous
when hope hardly seems worth having,
just mount a bicycle
and go out for a spin down the road,
without thought on anything but the ride you are taking"

Arthur Conan Doyle
"O amor acaba antes de terminar o sorvete"

terça-feira, 21 de agosto de 2012

De novo sobre casamentos...

Existe o primeiro casamento, e deste todos sabem. É aquele de conto de fadas, em que as famílias se apertam para oferecer uma festança a fim de notificar e abençoar o "bom caminho" dos filhos. Entenda-se como festança, não propriamente a festa com bolo de noivos, mas tudo que implica num novo lar: bordar os acessórios de cama-mesa-banho, jogo de panelas, eletrodomésticos, enfim, todos os mimos nos utensílios do "lar" feito para propiciar filhos.
Entenda-se como "filhos" não só as crianças, mas os "filhos da relação", os seres vivos e não vivos que o casal constrói junto:
- a cor da parede
- os quadros
- as músicas
- a toalha feita de crochet
- a colcha feita de patchwork
- os programas do rádio e da tv
enfim, tudo que o "gosto resultante" produz.
Entenda-se como "gosto resultante" a somatória do gosto-desgosto de cada um...

Pois bem, e hoje em dia, o que existe tvez em igual ou maior quantidade, é o >1 casamento.
É importante salientar que o que determina este número, não necessariamente é o número de casamentos entendidos como conto de fadas.
Existe o casamento consigo mesmo, e deste poucos se lembram!
Este casamento consigo mesmo é aquele que gera como filhos, "manias". As manias só se desenvolvem quando não há encheção de saco. Elas tbém podem existir quando o outro é omisso, mas vamos deixar isso para lá pq rende outro post...

Enfim, este "segundo casamento" é aquele que já vem com "filhos".
Fica incompatível ajustá-lo nos moldes do casamento-conto-de-fadas. Se assim for, ele já se inicia fracassado.
Há que se abrir espaço para conhecer um ao outro:
Não deixar de agir pelo outro
Não se magoar com os alertas do outro
Os limites são postos pelo outro, e não por nós mesmos ao nos colocar na posição do outro - "não faça com o outro o que não gostaria que fizessem com vc" serve só para quem não pensa, ou para quem não ama. Mas este é tema para outro post.

Com amor, jeitinho e uma pitada de coragem, dá tudo certo!

Vai dar tudo certo!

sábado, 18 de agosto de 2012

Tá na hora de parar para pensar!

Como fazer alguém despertar?
Como mostrar as entrelinhas?
Como provar que as informações não são suficientes?

Bem dizia Shopenhauer, "Em geral, estudantes e estudiosos de todos os tipos e de qualquer idade têm em mira apenas a informação e não a instrução. Sua honra é baseada no fato de terem informações sobre tudo, sobre todas as pedras, ou plantas, ou batalhas, ou experiências, sobre o resumo e o conjunto de todos os livros. Não ocorre a eles que a informação é um mero meio para a instrução, tendo pouco ou nenhum valor por si mesma, no entanto é essa maneira de pensar que caracteriza uma cabeça filosófica. Diante da imponente erudição de tais sabichões, às vezes digo para mim mesmo: Ah, essa pessoa deve ter pensado muito pouco para poder ter lido tanto!"

Acho que é só quando a vida dá-lhe um revés.
Quando lhe tiram dos trilhos, ou quando a falta de ar é tanta que só lhe resta pular.

Aí, das duas uma:
Ou corre atrás do trem que já passou, como um desesperado - torço para que consiga!
Ou fecha os olhos, respira com calma aquele mundaréu de ar e volta-se para si mesmo - verá que o unico caminho seguro é montar o próprio trilho - madeira por madeira, pedra por pedra. E para isso, informação, guideliness, receita, comparação... não basta.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Serena saudade

Talvez seja mais preciso delimitar um domínio através do não-domínio (como já fazia Giordano Bruno, o delineador da Natureza...).

Deste modo, mais um exercício seria avaliar a saudade para delimitar o afeto.

Esta não é como as outras:
não é visceral
não arde
não estimula as glândulas lacrimais
não me aleja
nem impossibilita minha vida...

Esta é serena
Baseia-se numa certeza.

Como assim certeza?
Certeza do afeto?
Isso seria um equívoco.
Afinal, este não é nada concreto, parece que sempre nos pega de soslaio, como se não saísse do corredor da morte.

Então esta serena saudade-avesso do afeto provém de onde?
Dos "filhos" da relação?
Isso tbém seria um equívoco.
Afinal, não os temos. Nossas famílias não se conhecem, não temos compromisso, nem objetivos em comum. Não ocupamos lugar algum na vida do outro.

De onde enfim vem esta serenidade, esta certeza?

Vamos refazer o exercício...

Ora, se estamos serenos, o medo está bem loooonge...
O maior tempero da saudade tvez seja o medo da perda. Por isso a urgência em viver cada nanosegundo junto. Um desespero de sensação de estar perdendo tempo.
A insegurança.

Esta serena saudade não traz medo. E não se trata de falta de afeto.

Não tenho mais medo de me perder.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Day After

BOM DIA - John Donne

Espanta-me, em verdade, o que fizemos, tu e eu
Até nos amarmos? Não estaríamos ainda criados,
E, infantilmente, sorvíamos rusticos prazeres?
Ou ressonávamos na cova dos Sete Santos Adormecidos?
Assim era. Salvo este, todos os prazeres são fantasia.
Se alguma vez qualquer beleza eu de facto vi,
desejei e obtive, não foi senão um sonho de ti.

E agora, bom-dia às nossas almas que acordam,
E que, por medo, uma à outra se não contemplam;
Porque Amor todo o amor de outras visões influencia
E transforma um pequeno quarto numa imensidão.
Deixa que os descobridores partam para novos mundos,
E que aos outros os mapa-mundos sobre mundos mostrem.
Tenhamos nós um só, porque cada um possui, e é um mundo.

A minha face nos teus olhos, e a tua nos meus, aparecem,
Que os corações veros e simples nas faces se desenham;
Onde poderemos encontrar dois melhores hemisférios,
Sem o agudo Norte, nem o declinado Oeste?
Só morre o que não foi proporcionalmente misturado,
E se nossos dois amores são um, ou tu e eu nos amamos
Tão igualmente que nenhum abranda, nenhum pode morrer.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Álibi

Neste fds encontrei amigos psiquiatras queridos. Evidente que o papo acaba caindo em questões polêmicas referentes às nossas especialidades. Comigo as coisas são mais brandas, e só falamos do grato efeito colateral dos colírios antiglaucomatosos - crescimento dos cílios, atualmente uma coqueluche entre as orientais...

Entretanto, na psiquiatria os temas são mais periclitantes. Muito preconceito envolvido - inclusive os meus. E os meus recaem sobre duas doenças: depressão e hiperatividade.

Papo vai... papo vem... estabelecemos conceitos para tentar falar a mesma língua... e continuei com aquela sensação esquisita, de que algo não bate, mas não sei bem o que é.

Dado que o trânsito anda bom nestas férias, e descobri o canto na corrida, pouco tive estímulo para pensar sobre o assunto. Mas eis que hoje, as coisas se esclareceram!

É inato? É doença? É cultural? Não é nada disso?
Tá certo que a alcoolemia elevada em alto estilo (às custas da Veuve Clicquot) foi responsável por grande parte do desentendimento rs.., mas como de hábito, muitas palavras eram ditas e interpretadas com diferentes significados. Deste modo, nesta trilha de pensamento, cabe definir alguns pontos:

1. O que é inato?
- Locke, empirista que pego como modelo, não acredita nas idéias ou no conhecimento inato. Ou seja, nascemos como uma tábula rasa - quadro em branco - e, aos poucos, as sensações que derivam da experimentação do meio externo, vão montando nosso conhecimento
- Descartes, racionalista famoooooso, confia no pensamento como alicerce do conhecimento. A razão independe das sensações ou impressões, portanto, não é nada relativa e não depende do ambiente externo. Já vem dentro de nós. É inata. Lembra um pouco Platão que coloca que, na morte, passamos pelo rio do esquecimento e, ao nascer, pouco a pouco relembramos do que nos foi inato.

Recorrendo aos que já pensaram no assunto, em alto estilo, inato corresponde ao que nasce conosco, independente da interferência do meio externo.
Agora, a confusão: sabemos que existe o DNA que basicamente coordena nossa estrutura. Toda? Parte dela? Bom, não sou uma especialista no assunto, mas aprendi um dia que o DNA é responsável pela "arquitetura" das proteínas. O que vai proteína no nosso corpo, é comandado pelo DNA, inato. O que seria inato no nosso corpo?!?!?! Caminhando mais além, nossas ações provém do nosso corpo - até que ponto seriam inatas? Deste modo,

2. O comportamento é inato?
Para tanto, se estamos lidando com a interferência do ambiente externo, cabe ressaltar as aferências e eferências.
Entendo como aferência tudo que captamos do meio ambiente via órgãos do sentido. Estes, modulados pelo SNC, independente da teoria - consciente, inconsciente, id, ego, superego, whatever...
Eferência, entendo como nossas ações. E um conjunto de ações, comportamento. Cabe dizer, recorrendo aos pensadores, neste caso Aristóteles, uma ação voluntária é resultado de um processo de deliberação/escolha. O que não passa por este processo, é uma ação involuntária ou não voluntária - mas isso é tópico para outro post. Enfim, ao se considerar a ação aristotélica, um conjunto de ações denota um comportamento, e Aristóteles vai além: denota o caráter.
Enfim, o comportamento inato, ao meu ver, é aquele que independe basicamente da aferência. Entretanto, como isolar um indivíduo do ambiente externo? Hoje em dia, impossível!!! Tvez impossível desde sempre!
Deste mato não sai coelho!!!!

Deste modo, qualificar ou classificar ou dar importância ou realçar um comportamento como doença, segundo o inatismo, não é o que me incomoda. Uma doença não é ou deixa de ser de acordo com este fator.

Posto isto entre parênteses, de onde vem meu preconceito ao ter a impressão de que se superestima uma tristeza ou agonia - depressão - ou uma falta de educação - hiperatividade?

Acredito que nos dias de hoje, as atividades são pouco conscientizadas. Ou seja, fazemos muito e refletimos bem pouco. Muitas ações aristotélicas deixam de ser voluntárias e passam a ser involuntárias ou não voluntárias. Por esta trilha, a ação voluntária é aquela que implica na responsabilidade. Ou seja, à partir do momento em que refletimos e procedemos uma escolha, sentimo-nos completamente responsáveis pelas consequências.

Estamos em tempos em que decidimos o caminho numa primeira escolha deliberada, mas nele continuamos no piloto automático. Assim, pouco nos responsabilizamos pelas surpresas que vão surgindo - e como surgem! A "doença", ou melhor, o mal estar, sempre pode bater à nossa porta. Um filho insuportável. Uma angústia insuportável. Uma hiperglicemia. Uma pressão arterial elevada. Uma fotofobia. Uma conjuntivite. Uma gravidez!!!!!

Já que estes mal estares são considerados, nesta vida de piloto automático, um desvio da normalidade que nos permite continuar nesta vida perfeita nos trilhos perfeitos, eles não me pertencem!!!!! Como se o diagnóstico estabelecido fosse um álibi: vamos terceirizar!
Cabe então ao profissional adequado, o tratamento!

Como vejo diabéticos e hipertensos que exigem uma medicação perfeita para que se livrem da doença. Os hábitos continuam como os do piloto automático. Trata-se de não se ver como "anormal". Trata-se de encarar a anormalidade como um ente separado do corpo, um parasita!!! Este parasita é responsável por todos os males. O álibi! A orígem e a responsabilidade por todos os males ou surpresas ou desvios dos trilhos, passa a ser a doença.

Talvez...

... seja tempo de encarar que boa parte destas "surpresas" seja consequência dos atos não deliberados. Da vida em piloto automático. Mas nem por isso deixam de fazer parte do nosso corpo e espírito.
Temos que encarar isto como "Eu". Somos sim responsáveis por nossos atos e corpo. Somos inclusive responsáveis por manter o piloto automático. E infelizmente, enquanto não desvendarmos os caminhos de minhoca do S. Hawking, não dá para voltar atrás.



domingo, 29 de julho de 2012

Conexão ao real

Esta semana fiz uma tremenda descoberta!
Até gosto de correr, mas faço mais por obrigação. Os segundos na esteira parecem horas! A contagem regressiva é terrível - parece que o tempo-desejo está sempre além do tempo real. Um sério descompasso de tempo interno e externo.
Isso parece evidente. Afinal, a noção de tempo, de causalidade, como já coloquei em outros posts, não existe na nossa consciência. O pensamento voa loooonge, numa velocidade descompassada. Enquanto ainda estamos no início da trajetória real, já vislumbramos todo o percurso e a chegada.

Procuro correr com música. Passa o tempo. Mas mesmo escutando-na, o descompasso com o tempo real ainda existe. Afinal, o danado do pensamento persiste e continua alçando vôo.

Aí me lembrei que invariavelmente canto durante as cirurgias. Melhora a ansiedade, desconexo o fim almejado e passo a me concentrar somente no próximo passo...

É, o raciocínio impertinente atrapalha pacas.

Neste instante, a bateria do shuffle acabou. Bateu um leve desespero, afinal, ainda estava na metade do treino...

Respirei...

Pensei na música do Chico que parou no meio - acho que era aquela "já conheço os passos desta estrada, sei que não vai dar em nada, seus segredos sei decór"...

E passei a cantá-la! Não a imaginar a canção, mas a cantá-la de fato, combinando com a respiração, os passos, e tals.

E sabe que deu super certo! Minha cabeça não mais me sacaneava! Eu estava exatamente no segundo real.

Aí me dei conta de que existem algumas atividades (digo eferências) que nos conectam ao mundo real.
Cantar... e pensar somente na próxima estrofe da canção...
Talvez alguns rituais também, qdo feitos com a consciência plena. Ikebana, a cerimônia do chá, tricot, montar aqueles modelos da Revell...
De certa forma, conectam-nos ao mundo real. Ou, dá um descanso do racional impertinente naquele momento em que tenta nos trapacear.

Enfim, preciso pensar melhor nisso. Mas por aqui, basta a experiência que agora levo adiante - correr cantando!

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Castelo de cartas sobre uma embarcação flutuante

Divorciada. 2 filhos. Excelente profissional. Sem frescuras. Amiga. Inteligente. Linda. Porreta. A idade? Ninguém sabe e ninguém advinha. Cheio de homem ao redor, mas não se apaixonava há tempos. E a ternura lhe é peculiar, quer sim alguém "para compartilhar a vida".

Ela conheceu um cara que lhe deu a maior canseira! Conversavam, amassos deliciosos, e naaaada. Intrigava - será que o cara era gay? Mas não levava jeito, a pegada era boa.
Depois de meses, enfim foi visitá-lo - ele não morava em SP. Conheceu o lar e o entorno do rapaz: casa, amigos, plantação de favas, MÃE... e enfim certificou-se de que o cara realmente não era gay. Compartilharam a vida dele naqueles 3 dias, como o que ela tto procurava.

Ela se apaixonou! Se era verdade ou não, agora não dá para saber. Mas ficou completamente envolvida.
Voltou para casa, e me ligou irritada pq queria parar de pensar no cara. Aquilo estava atrapalhando sua vida, suas tarefas, trabalho... Afinal, estava hiper confusa: o cara não dava certeza de nada.
- Onde ela se encaixava na lista de prioridades dele?
- Existiam prioridades na vida dele? Amigos e MÃE eram importantes? Ela os conhecia, logo, ela era importante?
- Pô, se ela era importante, por que ele não a procurava? Não faziam planos? Onde ela se situava na vida dele?

Já passei por isso. Mas do outro lado. Cobravam-me "um lugar".

Por que é tão difícil confiar no que o casal experiencia? Ou seja, por que a dúvida de que é bom demais ficar com o outro? Que não há aquele comichão de nem querer ver o cara no dia seguinte? Quando se dorme de conchinha por mais que 15 minutos e é gostoso? Quando se tem vontade de contar todas as besteiras que se passam pela cabeça? E nem se tem vergonha de mostrar as inseguranças, fraquezas, bobeiras, ranhetices e manias, aliás, nem se pensa nelas, simplesmente surgem e passam despercebidas entre um olhar, uma palavra e um gesto...

Não há lugar. Não se coloca demanda ou funções na relação. Não se denomina o outro como "namorado" ou "marido" ou "amigo"... Não há passos do tipo: conhecer os amigos, a família, os filhos, a MÃE... A casa, o telefone, o trabalho, o habitat.

Há tanta gente presa nisso tudo sem afeto... Uma vida de deveres, o que se chama de "responsabilidade". Como se isso bastasse para segurar qualquer coisa. É uma espécie de materialização do afeto: os atos, as funções, os nomes, a aliança no dedo direito ou esquerdo, o contrato... Os "filhos" da relação. Mas não se pode confundir com o amor, o que gerou (se gerou) tudo isso.

Mas há pior! Há quem pegue os "filhos" que nem foram gerados pela relação, mas pela própria cabeça. Uma esporulação. Impõe uma série de esporos (atos/funções/nomes/planos) advindos pela expectativa do que seria um casamento perfeito, na relação. Um castelo de cartas sobre uma embarcação flutuante...

Como sempre, inspirada por Foucault, vejo a verdade na ética dos afetos como fundamental.

Nesta trilha, de novo, há que se confiar na essência da experiência vivida entre o casal. Só.

Minha amiga me ouviu, entre o olhar virando para o teto, os gestos, o brilho da pele... Depois de 2 dias me procurou novamente:
"- Quando vc me disse aquilo tudo, a ficha caiu. Minhas expectativas e procura pelo amor, fizeram-me encaixá-lo no meu "anúncio de jornal": fiz preencher todos os pré-requisitos do que procuro. Entretanto, esta certeza do afeto, da confiança, do conforto, que fez vc brilhar enquanto falava... não temos. Não vivemos isso naqueles 3 dias, embora eu tenha feito parte da vida dele."

Acredito que quando já conquistamos o nosso habitat, ou, a infraestrutura do que consideramos uma vida saudável - basicamente família e trabalho - não nos cabe encaixar quem se ama para enroscá-lo a ponto de garantir nossa presença nas nossas vidas. Há que se confiar no afeto, naquela sensação de que a pessoa está ao nosso lado. Desde sempre e para sempre.

O resto... é resto.

Ainda te convenço a pensar assim ;)

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Vc-em-mim




E pensar que esperei um ano por este jantar... Nem sabia que seria com vc, muito menos onde se escondia.

Mas te reconheci! Seus olhos na minha via óptica, e relembro do que viu.

Entre uma palavra e outra, sua voz fica longe e sua imagem muda vai tomando conta de mim. Cada olhar, um sorriso cínico, os gestos das mãos repletas de marcas incompatíveis com a doçura...

Como gosto de vc-em-mim =)

Esta delicadeza me acariciava... eriçava cada folículo piloso. Externo e interno, no pavilhão auricular, conduto auditivo, labirinto...

Zonzinha, meu corpo mantinha-se presente, mas vc-em-mim aproveita meus flúidos e escorrega no calor do meu desejo. Interna-se devagarinho, sinto-me plena. Da borda ao ápice.

Toca no meu fundo, do jeito que só vc sabe fazer.
Desfaleço e mal sustento o peso do meu pensamento...

Neste momento, te sinto invadir cada pedacinho do meu interior em alta velocidade, acrescida da minha vontade cada vez maior de vc...

Nossos suspiros, sorrisos, memória, gostos, desgostos... Tudo em mim.

Sim, uma certeza cada vez maior deste nosso mundo que não tem lugar, nem tempo, nem nome, nem referência... E que se faz enorme num nanosegundo,
entre uma palavra,
          um olhar
                  e um gesto




sábado, 14 de julho de 2012

Wally





Será que está me escutando?
Sei que pouco me visita, mas queria lhe falar...

Ando vagando por aí...
Muita coisa boa, às vezes igual e às vezes diferente
Mas vc fica escondidinho em alguma parte de mim
Ainda acho que um dia te encontro, quando menos esperar
em algum bar, ou show, ou numa livraria ou no meio da rua


E será como se nada houvesse ao redor...
o spot de luz nos invadindo sem pedir licença,
desvelando o passado, o futuro, aquela procura que nem sabemos que existe, mas que está em nós

... só em nós.

Sabe que nos espero.

É uma promessa =)


teste para encontrar o olho dominante

Teste:

1. aponte para um ponto distante com os dois olhos abertos. Não precisa ser um alvo. Pode ser a maçaneta da porta.
2. oclua os olhos separadamente sem movimentar o dedo com o qual apontou a maçaneta.
Verá que o seu dedo está em cima da maçaneta com apenas um dos olhos. Com o outro, o dedo está distante da maçaneta.


Para quem é detalhista e preciso, um ser microscópico, com este teste simples já se verifica que o que é visto com o olho direito não coincide com o que é visto com o próprio olho esquerdo. Já se torna um ser dicotômico.

Os detalhistas podem ser microscópicos e dicotômicos qto ao próprio ser.

Imagine só ao envolver o outro!!! Trata-se de uma visão totalmente e insuportavelmente diversa.
Só um ser desmemoriado e macroscópico (que tem uma visão em grande-angular, sem se deter em detalhes) para suportar...

Entretanto... dois seres macroscópicos e desmemoriados correm o risco de não saírem da esfera supra-lunar.

É, nada é perfeito.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Sobre o vermelho da melancia

"A poupa da melancia é, na verdade, branca até que sua pele seja rompida, e então se torna instantaneamente vermelha" Quando li, desacreditei no absurdo de quem soltou essa. Li de novo...

1. Existe algum experimento que comprove que a poupa da melancia fechada é vermelha? 
Acredito que não ou, pelo menos, não consigo imaginar nenhum.

2. Bom, partindo então do outro pressuposto, conseguimos explicar uma mudança de cor tão rápida e instantânea ao, simplesmente, romper a pele?
Também não... Ok, então vemos que, ao partir a melancia, algumas áreas não ficam tão vermelhinhas.

Deste modo, ao pensar como 1, a maturação não foi completa e daí a irregularidade da coloração. 

Entretanto, ao pensar como 2, explica-se que, já que o vermelho não é homogêneo, decorre-se que existe uma velocidade na transformação do branco ao vermelho sim e, por isso não é homogêneo! Tvez qto mais distante da pele, maior a velocidade de avermelhamento...

 É incrível como conseguimos TUDO explicar por qualquer pressuposto e qualquer lógica quando não há evidências suficientes. Principalmente se não é possível manipular um dos fatores, no nosso caso, o tempo.

Como identificar TODOS os fatores envolvidos no fenômeno? Não só físicos, como culturais, sociais, econômicos... Como traçar conjecturas pertinentes? Neste caso da melancia pode-se verificar os absurdos que uma conjectura pode defender. Como o "Bom Selvagem" de Rousseau ou a "violência selvagem" de Hobbes podem ser pertinentes se o homem nunca deixou de viver em sociedade?

 ENTRETANTO...

Sou humana, né... E não aguento, como todo ser humano e racional, deixar espaços vazios.
Deste modo, fico com Hobbes.
... e quanto à melancia, eu sempre achei sua pele grossa demais. Algum segredo tem... deve ser para manter a poupa branca ;)

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Descompasso

Na saudade, 
Inspiro seu  contorno
e delineio seu perfume
Fecho meus olhos
e afago seu olhar

Assim lhe preparo:
A dança na relva sobre o tapete de seda
O vôo das libélulas e vagalumes em aquarela,
as mesmas que carregam a verbena,
que embriaga seu olfato

Mas quando o encontro,
veste-me luvas de boxe
A fala ácida
mascara o olhar doce
Fica o amargo que queima as vísceras

Um descompasso...

Retrogosto irriquieto
que precisa nos desculpar



domingo, 1 de julho de 2012

Presente: presente

Hoje estava aproveitando este domingo ensolarado para dar uma corridinha enquanto escutava as músicas aleatórias do shuffle.

Eu não sei se não corria há muito tempo por aquelas bandas, ou se foi a coincidência de horários e aromas, mas esta música caiu de pára-quedas no momento certo

http://www.radio.uol.com.br/letras-e-musicas/arnaldo-antunes/acabou-chorare/92660?cmpid=cfb-rad-ms

O zunido da abelha do sintetizador
a vibração das asas transparentes no dedilhado
e os acordes no teclado.
Aquela mesma sequência dos novos baianos
mas  r e p l e t a  de cores e informações

Mais instrumentos
mais acordes
nuances mais intensas
o mesmo balanço
a mesma letra

É incrível como, por vezes, precisamos estar preparados para apreciar cada detalhe da novidade.
Precisei me desvencilhar do meu personagem da versão original



Praticamente a esqueci. Sim, esta é uma característica por vezes muito benvinda: o esquecimento. Não o esquecimento da beleza da música, ou da história. Mas o esquecimento do afeto a ela amarrado.

Poooxa! Eu estava no finalzinho do treino, cansada pacas, mas a alegria que se instalou em mim deu um gás violento!!!

É bom, muito bom, vivenciar nossas mudanças. E ter a certeza de que, realmente, a melhor versão é a atual.
Um presente!
Uma dádiva =)


Prova

Durante toda a vida, o que mais aprendemos a fazer é estudar para as provas.
Sempre há aquela impressão de que determinado assunto é mais importante, tal passagem do livro é a fundamental, e concentramos nossos esforços em estudar o que achamos com maior probabilidade de cair na prova.

Daí extraímos a primeira lição:
1. O que é mais importante para nós, não necessariamente é mais importante para o professor.

E vêm os corolários:
a. ou temos uma impressão equivocada do que é mais importante, ou o professor é que deixa a desejar
b. há aqueles que se acham errados, há aqueles que acham o professor errado, mas enfim, conclui-se que a impressão não é absoluta.

Mas não nos satisfazemos. Já que o desempenho precisa melhorar, atacamos não na probabilidade, mas na totalidade. Estudamos TODA a matéria. Evidente que, ao abranger um conteúdo maior, a profundidade nos assuntos diminui. Deixamos de saber profundamente o que achamos mais importante e interessante, e passamos a saber um pouco de tudo.

Daí extraímos a segunda lição:
2. Até pode se saber do que se fala, mas por vezes faltou um certo raciocínio sobre aquilo. Ou seja, conhece o tema, mas não o entende.

De novo somos surpreendidos.

Acredito que o caráter surpreendente das provas (mas o que será que vai cair?) traz uma aflição tal que já, desde pequenos, tratamos de estudar. Fomos ensinados e doutrinados a estudar para que nada nos pegue desprevinidos.

ENTRETANTO...

Lembro-me de que as melhores provas que fiz, que nada trouxeram de aflição, foram quando eu adorava a matéria. Parecia que eu já a sabia de outras encarnações. Respirava aquilo, vivenciava os tópicos, entendia a lógica e o conteúdo e, o principal, encantava-me!!!
Ou seja, não havia surpresas. Estava segura. Inclusive para problemas inesperados: acreditava nas ferramentas desenvolvidas.

PORTANTO...

A aflição frente a algo que acontecerá, como coloquei no post anterior
http://autretourdelafolie.blogspot.com.br/2012/06/emboscada.html
ocorre basicamente quando não acreditamos nas ferramentas adquiridas com o que aprendemos, vivenciamos e experimentamos do assunto. Aí, somam-se as suposições em zoom ou em grande angular que trazem uma angústia ainda maior. E, acredite, a vida sempre nos apresentará uma alternativa totalmente diversa de todas as previstas.

Precisamos confiar no vivenciado, experimentado, entendido, sentido. As suposições e previsões, em geral, são vazias.


sábado, 30 de junho de 2012

Espera insensata

Caso 1: 
Dia desses ela recebeu uma proposta:


- Vc está tendo um tremendo azar por me conhecer neste estado. Tinha que ter me visto há 18 meses atrás: academia todos os dias, excelente trabalho e remuneração, viagens, restaurantes... O certo seria que eu me recolocasse primeiro, para então reiniciarmos nossa história.


Caso 2:
Semana passada, chegou-lhe um email depois de 3 anos:


- Naquele dia que nos reencontramos, fiquei com vergonha do meu corpo. Desde então comecei a malhar e perdi 15Kg. Saudades de vc.


Caso 3:
Depois da notícia de um enfarte há 1 mês, ele estaria na cidade nesta semana. A troca de emails e mensagens foi intensa e, de repente, um silêncio mortal! Sumiu nesta semana.

Estava pensando nisso tudo...

Talvez os homens queiram apresentar-se em sua melhor forma, como um pavão para nos fazer a corte. Mesmo que nos façam esperar... E isso pq eles nunca se esquecem. Como é um lema entre nós, mulheres: "impressionante como eles SEMPRE voltam"

Aí está o ponto de divergência! O homem não se esquece, mas a mulher sim. Elas que pedem a separação pq, quando acaba, acaba mesmo - a não ser que a mulher seja insegura pacas e ache que não será capaz de pegar nada melhor. Nós mulheres, quando encantadas, não damos a mínima para vigor físico, barriga tanquinho, enfartados, barrigudos ou num desvio de carreira...

Mas se passar, já era.

Deste modo, cuidado ao nos fazer esperar... Pode deixar o trem passar para nunca mais encontrá-lo.





quinta-feira, 28 de junho de 2012

Caro Crocodilo


"Já está há muito resolvido pela física que a natureza não tolera o vazio. De acordo com isto, também as entranhas do crocodilo devem ser justamente vazias, para não tolerar o vazio; por conseguinte, devem incessantemente engolir e encher-se de tudo o que esteja à mão. E eis o único motivo plausível por que todos os crocodilos engolem a nossa espécie. Não foi o que sucedeu, porém, na disposição do homem: quanto mais oca, por exemplo, é uma cabeça humana, tanto menos ela sente ânsia de se encher; e esta é a única exceção à regra geral"
O Crocodilo - F. Dostoiévski

Deste modo...

Posso pensar que durante aquelas cirurgias, vc mal sabia qual era o seu corpo, de onde vinham as vozes que conhecia, afinal, mal conhecia este ambiente externo cheio de ar e luzes! Era bem oposta à situação do sr. Ivan Matviéitch que vivia dentro de um crocodilo. Se nesta situação há a voracidade, praticamente um buraco negro; naquela existia uma expulsão. Seu corpo se expeliu do interior materno, e enquanto auxiliava os cirurgiões a expelirem seus tumores, expeliu também sua alma.

Posso imaginar sua alma pairando sobre seus pais, apreensivos...
Os médicos no campo cirúrgico mínimo de um bebê

Aquele bebê não poderia mais ser vc. Se ele parasse, tudo certo - vc já estava livre dele!!!! 

Mas eis que vc sobrevive! Saudável! Mas aquela alma nunca mais foi a mesma...

Uma alma arredia, assim pode-se defini-la. 
1. Quando o corpo bambeia, nas situações difíceis, ela dá uma afastadinha... Pô, e vc funciona! E como! Sangue frio para suportar qualquer adversidade.
2. Quando a tempestade se vai e aquele mar tranquilo a vc se oferece, a danadinha volta.

Pô, este é um bom sinal! Acredito que lhe ofereça um mar tranquilo e estimulante, já que conheço perfeitamente tua alma. E nestes momentos, somos crocodilos mesmo, devoramo-nos.
Engolimos.
Digerimos.
Saciamos. Na fome.

Já te decifrei: quer me devorar.
Não deixe que as condições adversas expulsem tua alma e te torne com a "disposição oca do homem".
Entenda: não me deixo levar pelas condições. Devoro teu olhar-crocodilo, é dele que quero me preencher!

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Emboscada

Já devo ter falado sobre isso em algum lugar por aqui. Mas é impressionante como as coisas se repetem e vale a pena dizer e dizer e dizer para ver como funciona nosso pensamento, doido para arredondar arestas que ainda nem apareceram.

Qual o impacto de um "preciso conversar com vc pessoalmente"
ou um "tenho uma surpresa para te dizer"

Logo vem um "pode me adiantar o assunto?"

E se o outro diz que não. Que só pode ser pessoalmente, olho no olho.

Aí.. fodeu.

Poxa vida, por que imaginar o impossível? E sempre para pior? Por que não se confia no que há de bom na relação entre os envolvidos?

Temos, por hábito, a necessidade de prever o pior dos cenários, com a ilusão de que assim estaremos preparados para o pior e, quando ele chegar, não sofreremos tanto assim. Entretanto, a infinitude da vida nos apresenta SEMPRE uma situação diversa das antecipadas (e sofridas!)

Ainda acredito que, ao "treinar" ações e reações para todo e qualquer cenário, no momento em que realmente estamos vivenciando a situação, desviamos a atenção para o "poxa, como era mesmo que eu faria?"

Será que faz parte das provas escolares para as quais estudamos durante toda a vida? Poxa, acho que isso merece um post! Vou tentar me lembrar disso!
http://autretourdelafolie.blogspot.com.br/2012/07/prova.html

Deste modo, o estado de atenção ao inesperado deixa de ser pleno. E o momento deixa de nos propiciar nossa melhor resposta e vivência.

Acredite em nós! É o nosso melhor =)

Não há surpresas.
Pelo menos de minha parte, já que não tenho dúvidas.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Lembrete!

"O mais essencial: para amar, é preciso disposição para partilhar o mundo, não as faturas. O mundo envolve o unwelt (rs) afetos, cultura, esporte, partilha, desejo, corpo, copo, sonhos, cuidados, aspirações, ética, moral, crenças, ou seja, o mundo que temos ao nosso redor, em nós e em que queremos estar."
Do meu querido amigo, Alexandre =)

terça-feira, 19 de junho de 2012

trégua

Ah, sou dura sim
Daquelas que diz
"foda-se, não preciso dele mesmo..."
E sabe que não preciso.


Mas saiba que, se abro meu portão,
É meu santuário que ofereço.
O aroma capim santo,
Meu refresco para sua alma
O tapete mágico para onde sequer ouvira falar...


É pq sei quem és,
O que está além da vestimenta elegante
Além da fachada distante,
Falante blasé


E te cuido sim.
Sou pra ti
Te-me ofereço
O meu melhor
Lugar único

On line - in line

"Habermas pretende mostrar que a evolução histórico-social das formas de racionalidade leva a uma progressiva diferenciação da razão humana em dois tipos de racionalidade, a instrumental e a "comunicativa", imanentes a duas formas de ação humana. A ação instrumental é aquela orientada para o êxito, em que o agente calcula os melhores meios para atingir fins determinados previamente. Esse tipo de ação é aquele que caracteriza o trabalho, vale dizer, aquelas ações dirigidas à dominação da natureza e à organização da sociedade que visam à produção das condições materiais da vida e que permitem a coordenação das ações, isto é, possibilitam a reprodução material da sociedade.
Em contraste com esse tipo de racionalidade, surge a racionalidade própria da ação de tipo comunicativo, quer dizer, aquele tipo de ação orientado para o entendimento e não para a manipulação de objetos e pessoas no mundo em vista da reprodução material da vida. A ação orientada para o entendimento é aquela que permite, por sua vez, a reprodução simbólica da sociedade.
A distinção de Habermas entre "sistema"e "mundo da vida"..."
M. Nobre

Percebe-se no dia a dia esta diferença. Neste mundo de conexões flúidas, em que a informação impera (mesmo a informação sem formação - a opinião), tenta-se correr atrás do tempo, navegando nas estatísticas, nas manchetes de jornal e sites, tentando-se prever a crise econômica de acordo com gráficos malucos e probabilidades. O mundo líquido de Bauman.
À princípio, fascinante: trata-se de uma leveza, espalhada pelos 4 cantos, com a impressão de que se agarra o mundo com o dedo mínimo. O mesmo se passa nas relações humanas. As pessoas passam por nós na mesma fluidez. Afinal, já se desenvolvem como "esferas" lisinhas, fechadas, e que em nada se agarram. Saem do mesmo modo como nos esbarraram. Dizem ser uma questão de sobrevivência...

Nesta trilha, um amigo meu conheceu uma executiva-esfera-up to date. Ela lhe propôs sustentá-lo em troca de um filho, um lar e uma transadinha aqui e ali. Queria suas funções, ou como diz M. Nobre, suas "ações dirigidas ao êxito" do que ela objetivava como Ser feminino parideiro. Ou ainda, queria as ações do meu querido amigo para prover sua reprodução material na sociedade. Afinal, não é fácil prestar contas familiares à sociedade em sendo solteira e sem filhos. Pouco se importava com o que ele era, o que fazia, seus afetos ou seus valores simbólicos...

Ações.. funções... informações.. desconectadas do Ser!!!!

Husserl no começo do séc XIX suspeitou da desconexão da matemática extremamente avançada (como pode existir um número imaginário ou irracional?) do mundo real, e fez questão de redefinir os números naturais. Depois de 2 séculos, há que se conectar ao mundo real novamente.

E se deixar conectar...

sábado, 16 de junho de 2012

Para além das evidências

A novidade vem sempre pela porta lateral!




 

sábado, 2 de junho de 2012

PS-G

Era uma vez uma garota chamada Érika (Carla) Harumi (Hiromi) Suzuki. Acho. Japonês, além de ser tudo igual, dá nomes parecidos. Ainda bem que minha mãe é artista e me colocou um nome diferente. Meu irmão, ao prestar vestibular, era homo-5 - o primeiro filho-homem ficou por conta do meu pai.
Bom, sei que não era Paula. Nem Akemi.

Nem importa. O que importa é que eu a conheci ao pegar a ficha do PS-gineco, qdo eu estava ainda na faculdade. Eram umas 22hs e despertou-me pelo nome "SUZUKI" - raríssimo uma japonesa naquele PS  - e pela profissão - estudante FEA. 

O residente, cansado, prosseguiu na anamnese:
- Quantas gestações?
- Esta é a segunda.
- Quantos partos?
- Por enquanto, um aborto
- Quando?
- Há 5 meses.

Nem imaginava o maior dos inusitados do quadro: a frieza: estava no segundo aborto em 6 meses, e com a maior cara de pau! O feto, desta vez, era grande! Como dos livros de anatomia! 

Quando ela se colocou na mesa ginecológica daquela sala horrorosa de parede de azulejos verde-escuros, metade daquela coisa vermelha estava para fora. Não havia o que fazer, e vi a cara de tristeza e decepção do residente - "este não tem salvação". Com uma pinça terminou o serviço e jogou aquilo que ainda se mexia no lixo, junto às gazes fedidas dos tumores de colo de útero, as compressas cheias de sangue, secreções de doenças sexualmente transmissiveis...

A Suzuki levantou, nenhuma expressão na face, o namorado gaijin a acompanhava - este sim carregava alguma responsabilidade pelo fato... O residente, palavras curtas e grossas: 
- Conhece algum método contraceptivo? 
Porra, para uma estudante da FEA?!?! Aquele residente era irônico: acreditava em Deus..
Ela, 
- Sim
Quase que eu completo: sim, o aborto - a ironia ainda não fazia parte de mim. Nem acredito em Deus. Mas nunca concordei com burrice.

Ela saiu do PS-Gineco. Nenhuma face de dor. Fui de novo ao lixo: aquilo que se mexia, agora era imóvel e se confundia com a matéria orgânica ali depositada.

Se é que existem anjos, aquele prenuncio de uma vida totalmente utilitária, carreirista, focada, contribuiu mais uma vez para o disparate desta vida pós-moderna. Estamos no ponto em que a reta faz a curva. Onde a defesa dos direitos humanos consegue chegar ao extremo do perdão àquele que tem voz para gritar, e os anjos vão escapando ao longo do caminho...

O que é vida, afinal?
Com que direito julgá-la ou... preservá-la?

quinta-feira, 31 de maio de 2012

ex-ex.ex..ex...(ex)

Estava pensando outro dia sobre a forma dos relacionamentos.
Por que é tão dificil re-estruturar uma relação quando ela se muda? Principalmente aquelas carregadas de afeto:

É possível ser amiga de um ex?
E quando os pais deixam de ser heróis?

Demoramos a nos conformar. Dá uma preguiça enorme de reformar.
É preciso desmontar tudo o que foi construido com tanto afeto e gasolina,
Despir-se-lhes das expectativas, da admiração vazia, das decepções que nada mais são que...

... a pessoa como ela é, e não como a víamos.

O carinho com os pais, é inexplicável. O mesmo que com os filhos. Sempre há o que se resgatar. Impressionante como há. Não se trata de gratidão, deve ser algo animal mesmo.

Mas com um ex...
Ao se forçar a antiga forma, definitivamente não há o que se resgatar.
Ao se desistir de se lembrar da antiga forma, resgatar o que? Se não há mais?
Se a admiração foi real, para além do afeto, tvez haja matéria prima para uma nova estrutura
Se o afeto foi o principal combustível para a admiração... tvez não haja nada real a se resgatar.

Talvez, quanto maior a paixão - aquele afeto enorme capaz de acolchoar e embelezar a realidade - mais vazia a admiração... E quando ela se vai, é cruel a percepção de que nada há!!!!

Não há.

Há sim, a lembrança, a bela história para contar =)

segunda-feira, 14 de maio de 2012

noite fria de vazio de gente

A noite está friiia..

Da janela, vejo as luzinhas coloridas naquela torre da Av. Paulista
Dou uma pausa nos estudos
e te escuto, um gemido mudo





Sem mais,
retorno ao que me chama
com aquele vão estreito e longo no peito.

serzir

Por que é tão difícil confiar?
Quando a intuição diz uma coisa e a lógica racional diz outra?
Por que a verdade assombra?

Um serzir entre a intuição e a lógica racional
a agulha fina corre por nossa interação
Na ausência, a saudade pede o sentimento vivo
Ela eSPeTa a cada conta perdida na memória
Cada ponto, uma dor... 
a dor é forte. Aguenta.

Quanto mais te espero, mais espeta
quanto mais te procuro, costuro,
mais cubista e amorfo o desenho

E te encontro
a agulha fininha passeia pela emoção
no contato da pele, 
nossas almas se entrelaçam
entretecem uma renda fina, delicada, singela

É esta que precisa me sustentar!!!

O que costuro com retalhos, contas, fatos, palavras à esmo...
não pode prevalecer.
mas perturba
engole meu canto

Não quero mais.

sábado, 5 de maio de 2012

Fim no meio





Tvez o grande lance não seja encarar cada movimento como menos um que te levará ao cume
se assim o fosse, bastaria uma escalada!

Talvez a graça esteja em desfrutar e comemorar cada movimento,
sem pressa nem medo do abismo que está à espreita,
não importa para que fim.

O fim precisa estar encerrado em si mesmo.

Whispering

You say that you know where to go
and how to do
Do you really know?

Watch your steps
Keep your mind off
See the moonsmile

Just for a little while

Listen up!
your heart's CrAcKliNg

Can't you hear me?
w..h..i..s..p..e..r..i..n..g..



Whispering while you cuddle near me
Whispering so no one can hear me
Each little whisper seems to cheer me
I know it's true dear....there's no one but you
I'm a singin'
Whispering why you'll never leave me
Whispering why you'll never grieve me
Whisper and say that you believe me
Whispering that I love you
Whispering while you cuddle near me
Whispering so no one can hear me
Each little whisper seems to cheer me
Just whispering that I love you
J Schoenberger & R Coburn

See?
You know it's damn true.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Movendo-se, descansa... (Heráclito)

"Trata-se, em suma, de interrogar o caso de uma sociedade que desde há mais de um século se fustiga ruidosamente por sua hipocrisia, fala prolixamente de seu próprio silêncio, obstina-se em detalhar o que não diz, denuncia os poderes que exerce e promete liberar-se das leis que a fazem funcionar."
M. Foucault - História da Sexualidade I

Comece pelo que te perturba
A estranheza, algo que não bate
Encare de frente, o que é bem definido
os detalhes sob a luz, o conhecimento,
a análise

Mas não pare por aí.

Vá mais fundo.
Toda imagem tem sua sombra
seu avesso
o outro lado

Sinta
Feche os olhos
Respire
Escute

E vem!

Imagem assustadora, 
aquela que vc adoraria que permanecesse nas sombras
aquela que nem precisa pedir por uma opinião
de uma veracidade que assombra.

Continue, afinal, o tempo não pára...

É isso aí!
Conectou.
Até perdeu a importância pq já está em ti.

Sim, agora se reinventou.
Bora partir pra outra!

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Só sei dançar com vc

Tá tudo tão esquisito
Como se uma peça do quebra-cabeças, vermelha, se encaixasse como uma luva no azul do céu.

Sim, meu dia a dia está azul! Não parece caber mais ninguém nesta dança.
Danço só. E adoro!

Se alguém me pega para dançar, travo.
Não sei me deixar conduzir, digo.
Não tenho coragem de me deixar levar, paro.

Eu achava... que o azul se encaixava no azul.
Harmônico, oras
Mas as curvinhas desta peça só entram na marra!!!

... não rola...



E vem este rubro
que me ruboriza
enraivece
atiça
cativa
arisco,
belisca
torce

IRriTa!!!!!

IntRIgA...

Mas quem é vc?
De onde veio? Por onde anda?

Seus lábios nos meus embalam a cantiga
Seus dedos entrelaçam os meus
e, sim, eleva meus pés
Conduz meu corpo nesta dança
enquanto o que em mim reluta,
sucumbe...
Submissa e hipnotizada,

me deixo giraaaarrr...

Sim, é tranquilo!
Calmo
Morninho
Aconchegante


Que estranho...

terça-feira, 24 de abril de 2012

Fait attention ll

http://autretourdelafolie.blogspot.com.br/2012/04/aos-10-para-os-13.html

Talvez eu não tenha mais a pretensão de não levar sofrimento aos outros - isso fazemos sem perceber.
Acho que agora preocupo-me em não deixar que o sofrimento seja capaz de me assustar, e para tanto, tornar-me distante.... Por isso, escrevo para mim mesma.

"Olá! Sou eu, a do seu futuro, e estou a 4-7 meses do seu tempo. Talvez não acredite, mas esta dor que sentirá, que não te permitirá ver nada além do branco (aquele mesmo de São Petesburgo, em que anoitece e amanhece e é o mesmo branco, tudo em potência, e nada se mostra), PASSA.

Ai que preciso de dois goles de pinga...


Tanta, tanta dor, aquela da ausência de vc mesma, em que já não coincide com seu próprio corpo.
Tanta, que anestesia - chega uma hora em que até a dor cansa de doer...

Esta dor vai mudar de tom.
Vem a saudade... a raiva... a esperança... a indiferença em superfície...
e enfim, vai encontrar um soco na cara.

Sim, aquele que incha suas pálpebras com tanta violência que ameaça sua dignidade...
Vai te tirar deste beco sem saída. Porque, se nele continuar, vai te despersonalizar como gente que é, e que te fez chegar onde chegou com suas vitórias e derrotas. Derrotas estas que te trouxeram vitórias sim. Um tombo-que-vira-uma-cambalhota que muda o caminho para melhor - e é impressionante como SEMPRE é para melhor,
ufa!

Depois deste soco, deste trauma, não cabe mais perdoar. Não há discurso moral ou, de contos de fadas, que justifique condenar ou perdoar.
Já não é esta mais a questão...

Não poderá se esquecer do que está sentindo neste momento!
Uma vontade de abraçar o infinito, de tão gigante que sente seus braços.
Aquela força de mudar o destino. Forte, tão forte que te faz se sentir capaz de vencer quaisquer fronteiras. Que faz o medo se esconder e ficar paradinho naquele buraquinho láaaaa no fundo. Este diabinho que teme que a rolha ao lado escape e tudo se escoe pelo ralo...

Lembre-me desta vontade que tem de tricotar os versos vivos, "os tons, mil tons, seus sons e seus dons geniais",
que tecem uma trama tão delicada, singela e cristalina que forma um cristal:
Transparente, sonoro, puro e Belo...

Sim, este é o grande segredo para uma vida decente.
Faça-me lembrar disso!
Lembre-me a cada instante. Em todos aqueles momentos em que ficamos a um fio de guardar as agulhas do tricot lá no alto da prateleira, para nunca mais encontrar.

- Quando os dias brancos querem nos sequestrar

- Quando o tempo parece querer nos engolir

Sim, saiba que a vida não é um conto de fadas, ainda bem. Embora não exista o "felizes para sempre", isto não é o fim do mundo, já que a própria vida nos oferta um caldeirão de novidades.
Príncipes, sapos, cavaleiros, ogros, heróis, bandidos...

Basta que não nos esqueçamos de tudo isso que aprendeu a tecer.

Lembre-me!

Não me esqueço... Isso deve ser para sempre!

Que tenhamos uma vida ótima,

Beijos,

K =)"