segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Poço Midriático

Esses dias voltei a me lembrar do mundo underground.

Eu me lembrava de escutar, há muuuuito tempo atrás, do povo midriático-alucinado, que o fármaco abria as portas para a intuição, para a criatividade, para o inconsciente, blá blá...
Como sempre fui de dar corda para o discurso do outro, para conhecer outras formas de pensamento, concordava e fundamentava numa cadeia lógica de razões (até as hipóteses mais estapafúrdias são convincentes dentro de uma cadeia lógica de razões... o outro dificilmente capta um absurdinho bem encaixado rs..), escutava...
observava a fala truncada e a midríase fixa...
a coriza...

E ficava na minha.

Mas aí, numa festa da biologia, aquela com fogueira e Pink Floyd, meu olhar se cruzou com aquela midríase... na penumbra da combustão incompleta da lenha... o cara estava com meu super-amigo-de-infância, músico, hoje um violonista de primeiríiiiissiimaa!

Bom, se "boi malhado anda com boi malhado", como uma tia sempre me dizia, trocamos telefones. E fomos a uma festa perto da USP, muuuuito maluca.

Ficamos num sofá, hoooras. No silêncio. Olhando para os ponteiros do relógio.
Cada coisa que a gente faz no auge da juventude... Hj, só rindo! kkk Mas achei que algo estava esquisito.
Resolvemos sair para a festa, que estava quase acabando (putz, foram hooooras SÓ no silêncio). E aí, um pouco desgrudados, eu o ouvi falando sobre o fármaco - que, sorte minha, havia acabado.

Acho que fiquei meio incomodada com aquilo - sempre fui certinha, já estudava medicina e já sabia dos prós e contras...

Bom, mas aquela "conversa"de olhares na penumbra sob Pink Floyd ficou na minha cabeça. Resolvi insistir.

Fazia farmácia por imposição dos pais, e nos encontramos uma ou outra vez na Química - ele era beeeem devagar mesmo ("bradi", jargão dos fmuspianos)
Fazia ECA - música - e o ouvi tocar: um espanto! Isso sim o revelava. Na música eu reencontrava aquele que acolhi na festa da biologia. Nem reparava no olhar midriático, nem precisava. O cara era o Mundo de Heidegger. Na Terra (música) se mostrava Mundo (o Ser).

Mas era um Ser dicotômico. Não dei conta de montar o quebra-cabeças (afinal, primeiro eu teria que montar o MEU quebra-cabeças..), e nos perdemos nesta vida.

Até que, já grisalho, o reconheci sob a ficha do novo paciente.
PUTZ!!!!
Fisicamente, o mesmo. Algumas rugas e cabelos brancos a mais...
mas irreconhecível. Parecia desconectado do mundo.

Perguntei sobre a música! Quem sabe assim o reconhecesse!

Nem assim.

Uma pena...

Talvez algumas pessoas, dicotômicas ou não, acabem se afogando nesse poço midriático da intuição, criatividade, do inconsciente, e se perdem
Desconectam do mundo real
e os perdemos sem nem perceber quanto.




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