domingo, 14 de outubro de 2012

"eu to cansada dessa merda"

‎"Diverte-se a multidão que exige o sensacional. Paradas, encenações de grandes espetáculos, a morte de homens ou de animais são o lote cotidiano de um público que pede para ser enfeitiçado".
Jean-Noel Robert.

Chupinhei esta citação do perfil de um amigo. Não conheço Jean-Noel Robert, nem sei de que época fala, mas é beeeeem atual. Na realidade, é essencial. Faz parte da natureza humana, seja na antiguidade, oriente, agora...


Acho que meu amigo anda de saco cheio, feito eu rsrs

O interessante de se envelhecer é vivenciar, cada vez mais, o que se lê e vê na literatura, no cinema, na ficção. A cada dia fazemos links entre o abstrato e o real, sem pesar ou prazer, é o que é.
Já disse um dia a alguém que escrevo este blog para minhas filhas. E acho que cada letra aqui provém disso - da "realização" do fantástico, da comprovação das coisas que parecem absurdas e fantasiosas. Um diário de bordo sobre o que é vivenciado, na pele, o que passou do mundo das idéias para o mundo do real (inclusive as idéias podem ser reais, diferente das conjecturas...).
Daí as diferenças entre um estado anárquico aos 15, aos 20, aos 40, aos 60, aos 80, aos 100 (sim! Tenho alguns pacientes entre 90 e 100 anos! Hiper lúcidos e ativos!!!). Se antes era "bacana", se há governo sou contra, etc, etc, passa-se depois por uma certa vergonha. Vergonha de não conseguir assumir lado algum, de ter desistido de ler jornais, de se passar por um alienado e desinformado (desEnformado rs). Chega uma hora, de tanto vivenciar a coisa podre, que acaba a vergonha. Não nos rendemos mais à pressão: "vc vai se alienar? Vc é responsável por isso!!!! Faça alguma coisa!!!"

Cara, fazer O QUÊ?!?!?!

Se, desde a antiguidade é esta merda? Sempre que se pensa no coletivo, chega-se à conclusão em que Platão chegou sobre Atenas - tá deteriorada, não tem mais jeito!

Comecei a campanha ao voto nulo. E nunca foi tão consciente. Aquele medo de ser responsável, acabou. Só nos chamam para a responsabilidade nestes cenários impossíveis. Sou responsável pelo que está ao alcance das minhas mãos, e não por esta merda.

Tenho sorte na minha profissão. Independente de governo, de credo, de cultura ou linguagem, lido com o corpo humano. Sei lá, não dou conta de tratar animais ou marcianos, mas a linguagem do corpo (olho) humano, entendo e sei tratar. Faço isso aqui, em Bali, na faixa de Gaza, no futuro, no passado... Sob petistas, sob tucanos, corruptos, presidiários, sacerdotes, o que for. Tenho sim uma profissão independente e universal, ainda bem! (Meninas, existe melhor profissão? Sigam-me! rsrs)

E... tenho sorte em conhecer Rilke: "se a própria existência cotidiana lhe parecer pobre, não a acuse. Acuse a si mesmo, diga consigo que não é bastante poeta para extrair as suas riquezas."

Mantra.
Pronto, acabou o desabafo. Rilke SEMPRE salva...

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