Mal chego em SP e deparo com uma série de manifestações.
Justo quando a indignação era o tema do meu momento. Principalmente depois do que vi em Berlim. Por lá mesmo, parei para pensar nisso...
Já escrevi por aqui sobre a indignação. Para mim, a caldeira para isso é a sensação de mãos atadas. Ainda bem que existe válvula de escape, assim como nossos mecanismos de defesa. Aprendi algum dia, na faculdade, sobre eles - sublimação, histeria, dentre outros que no momento não me recordo.
Mas vamos sem termos técnicos. Diante de uma indignação, qdo ficamos sem voz (poxa, qdo eu era pequena sonhava TANTO que estava afônica! Que queria gritar, brigar, e não conseguia... era o pior dos pesadelos. Ainda bem que parei com estes sonhos há uns... 5 anos rs), há inicialmente 2 vias:
1. Irascível - ou quando a raiva, que nos movimenta, nos domina:
- aí vem as brigas por um lugarzinho no vagão do metrô, como já coloquei por aqui.
- ou, se canalizada por um objetivo comum, as manifestações - como presenciamos em SP nesta 2f. Aliás, foi lindo, viu!!! Parecia a torcida do corínthians naquele jogo roubado contra o boca juniors pela libertadores...
2. Passivo - ou quando existe uma vontade de expressão, via o belo ou o humor, enfim, que abarque a estética/prazer que sabemos que é o melhor jeito de nos atingir.
- arte
- humor
Estas vias nos dão a sensação de burlar, de escapar do sistema que nos aprisiona e sufoca.
Em Berlim, a violência imposta à população foi absurda! Primeiro com as guerras, e depois com o muro. E tudo muito juntinho... Poxa, foi "ontem" que houve a queda do muro de Berlim!
Já imaginou, de repente, sua família ficar do outro lado do muro? Seu namorad@? Seu melhor amig@? Imagine a indignação! As crianças nascem neste clima, em que o outro lado é completamente obscuro e fantasiam, diante da guerra fria, sobre o que está atrás do muro. Não há melhor alimento para a fantasia do que a ausência de informação.
O que houve com a queda do muro em Berlim: os jovens orientais correram para a liberdade de expressão e consumo do lado ocidental e esvaziaram o espaço por lá. Os jovens ocidentais perceberam a liberdade de espaço - ainda paro para pensar nisso... se a liberdade de espaço não seria o avesso da liberdade de expressão e consumo... - e ocuparam os espaços vazios. Agora, a vida cultural está em Berlim Oriental, inclusive nas ruas. A expressão qto a indignação atual, ocorre justamente onde era proibido: no espaço oriental.
Não é incrível?
A indignação pode sim render bons e belos frutos
Irônicos, ácidos, politicamente incorretos...
Contundentes e, obviamente, tensos...
É o que espirra! Mas há que se ter atenção para encontrá-los! Que tal começar justamente naqueles espaços que escapam ao nosso olhar sistemático...
Vale uma encarnação! Ou várias rs