quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A paixão pelo amor



"A impossibilidade da plena realização do encontro amoroso, que o percurso dos amantes indica, teria que ser entendida já como um extravasamento, uma excedência que os faz, mais do que se amarem um ao outro, serem presas do amor, "o amor do amor", num grau de narcisismo para além do espelhamento pessoal. A situação dos amantes é apaixonadamente contraditória: eles se amam mas não se amam , sentem-se arrebatados para além do bem e do mal numa espécie de transcendência das nossas condições comuns, num absoluto indizível incompatível com as leis do mundo, mas que eles sentem como mais real que este mundo. O que os liga de modo indissolúvel é uma "força estranha", "tormento delicioso" que opera no estranhamento e na fusão dos contrários. Transportados, entusiasmados, endeusados pela paixão, drogados de si e do outro, o que eles amam é o próprio ato de amar, o amor em si, e tudo o que se opõe a isso o exalta ao infinito (no instante do obstáculo absoluto que é a morte)."

José Miguel Wisnik - A paixão dionisíaca em tristão e isolda - Os Sentidos da Paixão


A vivência da vida
e da morte de muito perto
O que pode ser mais intenso que uma vida inteira, para além dela sob a luz do dia
E mais arrebatador que a morte, quando a lua nos abandona

Por um amor sem corpo... sem lugar para ser... sem estar para se consumar
e que por isso nos levava além do bem e do mal
equilibrávamo-nos na tênue linha entre o possível e o perigoso
onde não há distinção entre
certo ou errado
quente ou frio
dor ou prazer
em que a morte é só um lugar.... diferente daquele que nos repelia

Ilimitado... impulsionava-nos ao infinito - lá, só lá situava o nosso amor

Já nem sabíamos o que carregar... 

Ao mergulhar na insegurança do teu olhar, um punhal no meu peito abriu espaço para sugar o teu breu. O abismo encheu meus pulmões e eu não conseguia expirá-lo. Uma tremenda falta de ar me fez pular da tua cama e correr para a janela.

Não vi a lua
nem luz nas janelas
nenhum sopro de voz
só vácuo...

Quis fugir dali, correr muito, voar para... para onde? Como? Estava sempre com frio, cheio de espinhos, vazio... o corpo estava sumindo... cada vez mais leve... as mãos nas tarefas, e o olhar ausente... Naquele momento, atemporal, embebida pelo infinito, a morte era só um lugar, talvez, melhor...

A vida, que nunca me abandonou, me resgatou!
Presenciou-me. 
Engoli tua dor...
e parti.

Nada! nada pode ser mais Belo...

"O mundo é pobre para quem jamais foi doente o bastante para essa 'volúpia do inferno': é permitido, é quase obrigatório usar aqui uma fórmula mística. [...] e, sendo assim como sou, forte o bastante para ainda tirar vantagem do mais problemático e perigoso e com isso tornar-me mais forte, denomino Wagner o grande benfeitor de minha vida" 
Nietzsche - Ecce Homo



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