Há alguns anos atrás, na época das grandes navegações, qual não foi a surpresa em se encarar um outro tão diferente, vestindo-se de modo completamente diverso, inserido numa natureza que feria os olhos de tão verde e ensolarada... Não ser o centro do universo já foi difícil de aceitar. Que dirá do "outro": mesma espécie - homo sapiens - mesmas necessidades, e TANTAS diferenças... Como poderia ser? Como o outro poderia viver bem, sendo tão diferente? As aferências eram tantas, tantas informações, tantos focos, que acabavam ofuscando o que se enxergava.
Desta época, encontra-se já na "Encyclopédie" ou dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers um verbete sobre a Intolerância:
"...entendida comumente como essa paixão feroz que leva a odiar e a perseguir aqueles que estão no erro.
(...)
Todo meio que excita o ódio, a indignação e o desprezo é ímpio
Todo meio que desperta as paixões e que nelas tem objetivos egoístas é ímpio
Todo meio que afrouxa os laços naturais e afasta os pais dos filhos, os irmãos dos irmãos, as irmãs das irmãs, é ímpio.
Todo meio que tende a sublevar os homens, a armar as nações e a molhar a terra de sangue é ímpio.
É ímpio querer impor leis à consciência, regra universal às nações. É preciso esclarecê-la e não constrangê-la.
Os homens que se enganam de boa fé são para lastimar e não para punir."
Muito bem. Vamos respirar fundo. E procurar então o verbete sobre a Tolerância:
"... é a virtude de todo ser frágil destinado a viver com seus semelhantes. O homem, tão grande por sua inteligência, é ao mesmo tempo tão limitado pelos seus erros e por suas paixões...
(...)
... como a razão humana não tem uma medida precisa e determinada, o que é evidente para um é frequentemente obscuro para outro. (...) De onde se segue, que ninquém tem o direito de dar sua razão por regra, nem pretender submeter ninguém às suas opiniões."
Incrível como, passados alguns fatos e outros tantos atropelos, voltamos ao mesmo ponto. Ainda nos obrigamos a nos encher de opiniões. Em um mundo recheado de informações rápidas - ninguém mais tem tempo para entender nada - basta que uma ou outra informação chegue aos nossos olhos ou ouvidos para emitirmos uma opinião.
Quanto mais polêmica, melhor. Ou, quanto mais carregada de paixão, melhor.
Será...
Que o cotidiano é tão vazio, tão mecânico, que necessitamos de algo que nos suscite o afeto?
A rotina engoliu o afeto!
Perdidos na trilha certa, desesperados em busca de qualquer informação que o traga de volta... Nem mais importa se atropela o outro.
De novo, uma pena...
Um desperdício de humanidade...
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