domingo, 17 de janeiro de 2010

Ode à loucura

Na época das grandes navegações, o homem descobre um outro mundo, encontra diferentes costumes e verdades. Entretanto, as contradições das opiniões, dos juízos, acarretam reações diversas.
Michel de Montaigne passeia e abarca a grandiosidade da diversidade, proporcional à infinitude apresentada pela natureza. Assim, como estabelecer uma linha divisória entre o possível e o impossível, entre o verdadeiro e o falso, entre razão e loucura? Como julgar o que é infinito e movente? Tudo faz parte do infinito poder da natureza, só nos resta acolher e vivenciar as transições oferecidas, experimentar o que se muda, o que contrasta. Deste modo, propõe experimentar esta tênue diferença, e só assim pretender compreender e praticar o próprio "eu".
Já René Descartes procura o caminho da certeza verdadeira na ciência. Edifica seu texto, passo a passo, minunciosamente, excluindo qualquer possibilidade de desvio. O ponto de início? O "eu" que, ao duvidar, pensa; logo, existe como substância clara e distinta. A loucura não cabe no método. Não pode ser nem incluída nem resgatada. Não é um falso juízo, é ausência de juízo. Portanto, se penso, não sou louco. E se sou louco, não penso. À partir daí, esta razão instaurada no mundo ocidental exclui a loucura. Mas... esta razão só se constitui em parte equivalente do seu avesso: a loucura. Quanto mais intensa a luminosidade, mais definida a sombra.
O olhar filosófico faz-nos "atentos ao desconhecido que bate à porta", como cita Deleuze. Ficamos na passagem entre o "Mesmo" e o "Outro", entre o que somos e o que estamos vindo a ser.

Fechem as janelas! Tranquem suas portas!

Como bem disse Montaigne, "o maior sintoma de loucura no mundo é reduzir a vontade de Deus e a força da natureza à medida de nossa capacidade e de nossa inteligência." Abra a porta da sua casa sem medo, nem preguiça - são estes que desperdiçam a vida! E isso também é loucura.

Nenhum comentário:

Postar um comentário