Pascal: "Les hommes sont si nécessairement fous que ce serait être fou par un autre tour de folie de n’être pas fou’. (...) Il faut faire l’histoire de cet autre tour de folie, de cet autre tour par lequel les hommes, dans le geste de raison souveraine qui enferme leur voisin, communiquent et se reconnaissent à travers le langage sans merci de la nonfolie...”
domingo, 31 de janeiro de 2010
Rede
Prossigo na rede
no meu labirinto
Flúida, úmida, avanço
com a força de uma enxurrada
Capto a fome
dela me alimento
Abocanho...
Lambuzo
Engulo
Torna-se-me passagem
e prosseguimos
descolados da alma
sábado, 30 de janeiro de 2010
Teu sangue
Kombat
no ringue 2 sacanas
um mole, o outro coxo
pra cada um, olho roxo
mosca volante
vislumbrou
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
Vício
o corpo leve
acolchoado patchwork
de imagens frias e quentes
amorfa, desconexa
2- LEMBRANÇA
as marcas no corpo
inevitável classificação
de gestos e expressões
na escala do prazer
3 - SAUDADE
as marcas na alma
classificação acolchoada
pelo desejo
a turvilinea entre
sonho e vigília
4 - FOME
força eletromagnética
do rombo no baixo ventre,
buraco negro em potencial
uma dor física
5 - TERAPÊUTICA
tarefas diárias
um dia de cada vez...
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
Tênis de primeira
Do you know when not to take less than you deserve,
if you do, then you´re an honorable man"
Ano passado fui ao paraíso do consumo e, como todos, comprei um tênis MARAVILHOSO! Para pés neutro-supinadores, sistema de amarração bacana, amortecimento adequado na entressola, farol de milha, freio ABS, air bag duplo, roda de liga l... Além de tudo brilhante! Ocupou um lugar considerável na bagagem de mão - vai que minha mala extravia! - mas valeu a pena.
O cuidado com meu tênis novo era tanto que não tinha coragem de usá-lo: não queria instigar a cobiça alheia - com certeza o levariam de mim. Corria então com o tênis velho, cadarço desfiado, sujo de terra... esse, nem eu queria!
Até que, num surto psicótico rousseauniano, encarei o mundo como o da igualdade humana pré-social (sem inveja nem cobiça), e saí com meu tênis novo! Nunca corri tão bem, voava no parque.
Com o espanto, o encanto...
Pelo medo da perda, nos submetemos a cada coisa...Tênis velho, relacionamento apagado, trabalho chato, vida sem sentido.
Será que esta vida de segunda classe resulta do medo de perder o que se tem?
.......Ou da preguiça de encarar o risco inerente ao prazer - não ser capaz de sustentá-lo?
..............Qual seria o risco de não ser capaz de sustentar o prazer?
Não dá para saber... No máximo, voltar para onde se está (no tênis velho, na vida de segunda).
Esta volta toda para perceber o medo ou preguiça de cair na desgraça de... continuar na mesma!
Aí fica fácil, só tem uma solução: viver de primeira classe
............e correr com um power tênis!
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
Tosca... tosca... tosca
But sometimes I think that you're my sin
Some say that I'm fool
But poor my soul without you
Somehow I feel that you're my home
How sould I, if Ican't feel your heart
Somewhere we'll meet again
Where, if we don't find the way
Sometimes I want to runaway with you
But I'm afraid I can ruin all over again
Sometimes I want to forget you
But how, if you're in my soul
Sometimes I think that I've always been looking for you
But sometimes I think that you're nothing more than poetry
So I feel you
.....I touch you
.....I hate you
.....I love you
... nothing more than sometimes
sábado, 23 de janeiro de 2010
Ressaca
Disseca veias
Decepa a alma,
e septa a memória
recente
Monto tua boca no corpo dos cachos do sorriso de braços que apertam meu corpo que insiste em te procurar...
... e passa
Teu gosto?
Passou.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Enigma
Não preciso de um provedor
Tampouco de um pai para meus filhos
Professor? Para quê?
Não me interessa o caráter utilitário que me possa oferecer
... ou o prazer calculado
Quero, isso sim, o que não tem e procura
o que ainda não é
o que não está
Quero o que vela e nem sabe
que revela uma fresta,
um fio no meio do novelo embaraçado
Que reluz e me fascina,
domina e contamina...
E te ofereço o que não tenho,
a minha fome insaciável
de ti
Assim nos achamos
margeados e acalentados
no caos das incertezas
O que nem é
Quiçá o porvir
Será que cheguei perto?
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
Sinal fechado
Mas por vezes, vale a pena esquecer um pouco a dor, e prestar atenção para o que está ao redor... Foi quando vi na extremidade da outra calçada, uma garotinha de vestido vermelho de mãos dadas com o pai. Na outra mãozinha, uma sacolinha branca. Cabelos cacheados ao vento, e um
s...............................o .........l..i..n..d..o..!!!
....o........................s
......,..r..............i
.................r
como se não visse a hora de chegar em casa e abrir o que tinha dentro da sacolinha branca!
Com um ..s..o..r..........i...s...o...... tímido, um filme passa na minha frente:
.............................r
mas o que poderia ter de tão especial naquela sacolinha? Uma boneca? Um chocolate? Não consegui pensar em nada mais...
E o que teria sido ainda mais terapêutico que o método "cathártico"? Imaginar o delicioso conteúdo da sacolinha branca? O vestido vermelho? A leveza dos cabelinhos cacheados ao vento?... a leveza e inocência do sorriso largo... Véus translúcidos que recobrem algo essencial, interno que, emitindo melodias no silêncio, e imagens na penumbra, deixa surgir a presença da Vida. Com essa abertura para que possamos ex-sistir e correr livre pelo espaço, acolhemos a essência da existência, o que se revela enquanto vela, o que se ilumina enquanto sombreia...
Tudo, mas tudo isso mesmo, com a inocência de um sorriso sincero...
domingo, 17 de janeiro de 2010
Ode à loucura
Michel de Montaigne passeia e abarca a grandiosidade da diversidade, proporcional à infinitude apresentada pela natureza. Assim, como estabelecer uma linha divisória entre o possível e o impossível, entre o verdadeiro e o falso, entre razão e loucura? Como julgar o que é infinito e movente? Tudo faz parte do infinito poder da natureza, só nos resta acolher e vivenciar as transições oferecidas, experimentar o que se muda, o que contrasta. Deste modo, propõe experimentar esta tênue diferença, e só assim pretender compreender e praticar o próprio "eu".
Já René Descartes procura o caminho da certeza verdadeira na ciência. Edifica seu texto, passo a passo, minunciosamente, excluindo qualquer possibilidade de desvio. O ponto de início? O "eu" que, ao duvidar, pensa; logo, existe como substância clara e distinta. A loucura não cabe no método. Não pode ser nem incluída nem resgatada. Não é um falso juízo, é ausência de juízo. Portanto, se penso, não sou louco. E se sou louco, não penso. À partir daí, esta razão instaurada no mundo ocidental exclui a loucura. Mas... esta razão só se constitui em parte equivalente do seu avesso: a loucura. Quanto mais intensa a luminosidade, mais definida a sombra.
O olhar filosófico faz-nos "atentos ao desconhecido que bate à porta", como cita Deleuze. Ficamos na passagem entre o "Mesmo" e o "Outro", entre o que somos e o que estamos vindo a ser.
Fechem as janelas! Tranquem suas portas!
Como bem disse Montaigne, "o maior sintoma de loucura no mundo é reduzir a vontade de Deus e a força da natureza à medida de nossa capacidade e de nossa inteligência." Abra a porta da sua casa sem medo, nem preguiça - são estes que desperdiçam a vida! E isso também é loucura.
Poetinha de saias
Por vezes cheio de medos
Outras, arrogante - como escudo
Aí vem cheio de histórias
Depois, divaga nas poucas histórias
Tem o carregado de certezas
E o que pesquisa incertezas
Gosto quando tem um brilho no olhar
Divirto-me quando o perde e nem faz questão de achar
Tem o que ferve
quando me faz derreter
E o que estremece
quando deixo arder
Aparece quando menos espero
E se vai quando mais o quero
Mas é assim que te quero:
...l ..i ..v ..r ..e
E assim te espero:
...l ..i ..v ..r ..e
... como não amar quem
irresistivelmente e
irremediavelmente
sempre volta...
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
Trapaça
Descompasso
do amasso
Chega e eu vou
Vai e volto
A vontade fica
e sinuca a saudade
Sem espaço
perco o passo
e me desfaço
no teu laço
domingo, 10 de janeiro de 2010
Portal dimensional
A gente se via e nem se notava. Não havia coincidências. Eu te encontrava na fila daquele banco porque ele era próximo do hospital. No elevador porque era hora do almoço e trabalhávamos no mesmo prédio. E o cinema? Os mesmos gostos, como não encontrar?
Aquele dia amanheceu como qualquer outro. O cheiro do café era o mesmo, a hora do relógio do microondas, a mesma. Na sala de reuniões, as pessoas sentadas nos mesmos lugares: o que brincava com a caneta entre os dedos, o que ficava descalço, a que chorava pelo canto dos olhos... A mesma cena de ontem e de amanhã: mais um previsível dia no tempo circular, em carrossel.
Entretanto... Leio "Sr. José" na tela do palestrante. Ao mesmo tempo, meu olhar se atrai para o teu livro de capa cinza com a figura da escadaria do Escher - "Todos os nomes". Aquele livro que bloqueou Saramago do meu repertório - não passei das primeiras páginas! Nunca mais peguei um Saramago nas mãos. Fiquei intrigada... No meu olhar míope, o livro aparecia incrivelmente nítido!
Intervalo e te abordo: o que te encanta nesse livro? Começa a falar... os olhos voam e brilham! Mergulho no som, no tom, ganho uma pontinha do teu universo de vibração tal que escapava pela tangente do carrossel que estávamos ocupando. Éramos muito mais:
....aroma adocicado
..........cores vivas e quentes,
.......um som translúcido que embriaga e nos faz
............................l ................t........rr.
................................e...v...i.......a
Nesta dimensão o calor é insuportável. A taquicardia e a respiração ofegante só potenciam o rubor cutâneo. Instintivamente, procuro a suavidade refrescante dos teus lábios enquanto teus braços me fagocitam. Vamos num crescente... mezzo forte... fortissimo... nos livramos dos tecidos, tamanha a temperatura corpórea. Teu toque me arrepia, sinto um fiozinho gelado descendo pelas costas que irradia para o baixo ventre. Frio e quente se misturam no mel úmido que me encharca. Ávida, te fagocito... Na cadência do desejo, seguimos nosso andamento e dinâmica com perfeição, até sentirmos um apeeerto que expulsa nossos flúidos e sentidos que salpicam na nossa vibração. Deste modo, com os sentidos em espaço extra-corpóreo, presenciamos todas as faces do nosso ser.
Agora rallentando... piano... tentamos manter a penumbra que atiça a curiosidade pelo mundo e nos permite acolher a vida como ela pode ser: repleta de aromas coloridos, sons translúcidos e sabor áspero que desliza sobre a brisa...
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
Keep walking
gente-retrato,
..........-animação,
..........gente-delineada,
....................-borrão,
....................gente que vem e some,
...............................que vem e vai,
...............................que vem e fica,
.............................gente por quem a gente passa e nem percebe...
............................................Gente................... dança
..............................................................que ................. !
Tempos diversos, matizes distintas. Eu só posso dizer que não tenho mais escolha: caminho na direção e sentido da cor vibrante, que dança no rítmo das batidas do meu coração.
Os retratos de cor pastel, sépia ou em escala cinza ficam guardados em algum lugar do tempo. Quem sabe, com o tempo, voltem a florescer...
sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
Natal, um falecido e o DIU
E se a saúde não vai bem? A agressão ao corpo? Nada melhor que um DIU (dispositivo intra-uterino). Melhor que a TPM mensal, o DIU é permanente - 5 anos!!! Infecção urinária? DIU. Corrimento? DIU. Odor pútrido? DIU. Quer dar mas é melhor fazer um doce? DIU. Não quer dar? DIU. E n l o u q u e c e u - simplesmente quer dar! DIU. Engorda? DIU. Tropeçou? DIU. Choveu? DIU! O DIU é uma justificativa para qualquer alteração física incompatível com o ideal feminino de perfectibilidade. Justifica e permite o estado do corpo vulnerável.
Muito bem, caríssimos. Meu ex-marido está bem vivo e é bem bacana, não convém fazê-lo nem de vilão, muito menos herói. Tirei meu DIU. O que resta? Um corpo vulnerável e uma alma solitária. Ou seria um corpo solitário e uma alma vulnerável?
Bah, só uma mulher, com a "falta lacaniana" que lhe é companheira fiel, para gastar tantos ATPs para justificar o injustificável nestas malditas festas comemorativas. Da próxima vez, venho homem: um carro pro corpo e um time de futebol para a alma. E basta!