quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Por um triz


Situação branca, branda
Brinquedo de criança
Cansa a rotina,
Neblina, mas tudo bem

Vem a mim, absorvo, me acomodo
De um modo ou de outro sofro
Nada a cada neblina,
Mas tudo bem

Chega nossa hora, chora
Chama-os não adianta
Canta a tua música
Vai, aparece!
Merece a cada momento
O tempo que corre
E a neblina?
Já não tem!

Caos:
Pode-se dizer que Descartes foi o símbolo do pensamento racional ao duvidar da existência de tudo o que nossos órgãos do sentido são capazes de captar, conservar e se pautar pela única certeza possível: o pensamento e toda a “construção racional” de uma estrutura capaz de nortear a vida.
Deste modo, construímos o túnel da nossa existência. A neblina aparece, mas seguimos em frente. E parece ficar tudo bem: um dia depois do outro, trabalho, casa, contas, fim de semana, férias, feriados... e continuamos no túnel seguro que chega em algum lugar. Afinal, o túnel fica cada vez mais confortável: mobiliado, habitado, carro do ano, diplomas na parede, teses de mestrado e doutorado defendidas... Mal se tem consciência a que custo a secularização mantém o túnel armado, único e estável.
Mas as neblinas continuam a aparecer. E começam a perturbar... Aí, meu caro, a percepção por um triz de uma janela aberta, e a observação de um jardim florido, ou o barulho do mar, ou o silêncio absoluto da neve, ou o cheiro de jasmim; começam a desmoronar anos-luz de concreto armado, receitinha de família que sempre deu certo (?). Não se pode dizer que não seja um momento de graça. Um momento em que contemplamos o BEM-platônico através do BELO transparente.

Cosmos:
Apesar de infinito em extensão e em matéria perceptível e imperceptível, cada corpo interage de acordo com sua própria Natureza, e daí advém uma certa Justiça Universal. E para nós, pobres mortais de existência finita? Resta-nos a consciência da própria finitude num mundo infinito. A vida nos oferece e nos mostra o Cosmos: as janelas se abrem e fecham num nanômetro de segundo. Seguimos nossa própria Natureza ao percebermos estes momentos e, diante de uma escolha praticamente aristotélica, mergulharmos ou não. Por um triz. Estamos aqui por um triz. Aí sim cheios de graça. Aí sim generosos.

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