terça-feira, 9 de julho de 2013

Crise da Medicina

Estamos num momento de indignação por aqui. E a última delas, ou a que mais me atingiu, foi a que se manifestou contra os médicos. Estamos observando uma saraivada de críticas que maculam sim aquela imagem endeusada do que tem a arte de curar.

Evidente que meu sangue ferve. Mas não dá para ficar nisso. Há que se perguntar o porquê disso.

Temos que reconhecer. O médico não é mais aquele que tem esta propriedade. Ou melhor, o conhecimento até tem, mas não sabe mais como mostrá-lo em sua atitude, em sua maneira de conduzir a ciência.

Estou estudando o último curso de Foucault - A Coragem da Verdade. Ele se propõe a, justamente isto. Analisar a verdade não enquanto ao discurso, à veracidade do seu conteúdo. Quer analisar a relação entre sujeito e verdade ou, o tipo do ato pelo qual o sujeito, dizendo a verdade, se manifesta. Qual o tipo de ato que representa a si mesmo e é reconhecido pelos outros como dizendo a verdade.

Neste comecinho do curso, ele diz ser imprescindível a presença do outro, para que este ato do dizer verdadeiro, apareça. E a condição para ser este outro, é que ele seja um "parresiasta"... Aquele que tem como prática, e é reconhecido por quem tem a fala franca. Para quem o dizer verdadeiro sobrepuja a vida (como Sócrates, como Giordano Bruno...).

Ainda vou prosseguir nos estudos.

Mas é isto que se perdeu entre os médicos, entre os professores principalmente os que se mantém na academia, entre os amantes... A parresia. A fala franca. Não a veracidade da fala, mas a relação que temos com a verdade - nossa atitude.

Por vezes o discurso verdadeiro (a doença, a morte, a ignorância, o desamor...) machuca e assim queremos desprezá-lo. A verdade desafia. Mas se não tivermos a coragem de abarcá-la e acolhê-la como merece... caímos em total descrédito.
Como está o médico hoje em dia...

... professores
... profissional qualquer
... amantes

Foda.

3 comentários:

  1. O movimento dos médicos tem uma lógica corporativista e essencialmente mercantilista. Partem do princípio de quanto menos médicos, maior a demanda e maior a remuneração. Além do que a escassez de profissionais lhes propicia o luxo de trabalhar onde e como lhes convém. Simples assim. Baseiam-se na lei da oferta e procura. E a saúde dos menos aquinhoados e do povão das regiões periféricas que se dane... Foda!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Caro anônimo,
      Em geral, quando há um ranso deste nível, com generalizações sobre particularidades, sem parar para analisar outros fatores (e tem, viu! Basta ler os jornais - 1. não há escassez de profissionais 2. infelizmente não se exerce uma boa medicina sem tecnologia. Portanto, não basta o médico - há que se ter estrutura. Nenhum médico parte para um idealismo de ver, à sua frente, a doença se alastrar por falta de estrutura. Não se brinca de Deus, decidindo quem terá ou não acesso ao tratamento (mesmo que seja a vaga numa ambulância para uma cidade de melhor recurso) 3. Médicos estrangeiros, que mal falam a língua do paciente, sem qualificação comprovada, ou o diagnóstico e tratamento feito por não médicos... isso sim é propiciar uma boa saúde para a população carente?), trata-se do que chamamos de TRANSFERÊNCIA. Ou seja, o ranso é por alguma experiência particular extremamente frustrante com um médico.
      Relaxa... Vc vai superar isso e assim entenderá melhor a situação que é muito mais complexa do que citou.
      Abraço!

      Excluir
  2. A falta de infraestrutura é geral no Brasil e na maior parte dos países em desenvolvimento, atingindo todas as classes de trabalho. Sonhar em padrões de primeiro mundo para justificar o não atendimento destas comunidades é utopia e empurrar responsabilidade. Penso que os médicos brasileiros são os únicos que me lembram daquelas crianças birrentas que se negam a ir à escola porque o papai não os leva de carro e os obriga a ir de metrô ou ônibus. Estes médicos Cubanos e Espanhóis (que chegaram esta manhã em Recife, fonte: http://tinyurl.com/kpvfyvd) na sua grande parte irão exercer medicina geral (e não especializada), logo não entendo o porquê da intolerância.
    Os teus argumentos são parecidos aqueles em que o PT usava quando estava na oposição e ficava acusando a situação de abandonar os nordestinos do semiárido e os mistificarem como

    "os miseráveis que foram condenados por uma região devastada! Porque o governo federal não lhes entrega recursos para sobreviverem dignamente?"

    Ora? Como explicar os povos do Oriente Médio, que ha milênios sobrevivem em condições semelhantes e sem infraestrutura? Acho que posso fazer aqui uma reflexão e refazer a pergunta: Porque os médicos não se tornam mais criativos e não deixam de jogar a desculpa na falta de infraestrutura? Até onde eu sei, a falta de condição nos atendimentos é por falta de médicos em hospital publico, porque muitos médicos sem infraestrutura conseguem atender quando são bem remunerados. Até bater ponto em hospital público o fazem para em seguida irem para casa, com a sensação de dever cumprido. (Mesmos jornais onde você obteve os teus últimos argumentos, fonte: http://tinyurl.com/msztzd8).

    ResponderExcluir