segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A paixão







è un venticello,
un'auretta assai gentile
che insensibile, sottile,
leggermente, dolcemente
incomincia,
incomincia a sussurrar


Começa pequenininho. Pura diversão. Gostosa lembrança que nos chega quando permitimos - num momento em que, cansados das tarefas, suspiramos e desviamos o olhar para o além. Confortável, não atrapalha nossos afazeres, por vezes pincela o cenário com umas cores bacanas!





Piano piano, terra terra,
sottovoce, sibilando,
va scorrendo, va scorrendo
va ronzando, va ronzando;
nell'orecchie della gente
s'introduce,
s'introduce destramente,
e le teste ed i cervelli,
e le teste ed i cervelli fa stordire,
fa stordire e fa gonfiar.


Pouco a pouco, traiçoeiro, vai se infiltrando nos nossos giros cerebrais, invade e cava devagarzinho o estômago, atiça o sistema adrenérgico quando toca o telefone... e viciamos naquela endorfina que vem depois...

Mas tudo bem! O autocontrole é tanto e tão confiável que restringimos sua decretada importância ao espaço adequado. Não informamos aos pares... Não aparece no facebook... Não colamos na nossa testa! Para o mundo pragmático, NÃO EXISTE!!! Fácil fácil... se for negado, nem interfere na nossa vida.





Dalla bocca fuori uscendo
lo schiamazzo va crescendo
prende forza a poco a poco,
vola già di loco in loco;
sembra il tuono, la tempesta
che nel sen della foresta
va fischiando,
brontolando, e ti fa d'orror gelar.


Com a troca de seivas, saliva, e a sede de desvendar cada vez mais o outro, já que cada verso é o mundo, e cada estrofe uma sinfonia, não suporta o espaço devido. Uma tempestade que grita, exigindo mais e mais espaço.

E amedronta... Apavora!!!

Tem-se a sensação de que ainda está sob controle porque não permitimos (uhh, doce ilusão) que invada os outros espaços: status de relacionamento: SOLTEIRA!!!!!

Mas pouco a pouco...

Percebemos que estamos vivendo pela metade. Metade no espaço social, e metade no espaço que nos abduz, aquele dos extraterrestres, lunáticos mesmo.





Alla fin trabocca e scoppia,
si propaga, si raddoppia
e produce un'esplosione
come un colpo di cannone,
come un colpo di cannone.
Un tremuoto, un temporale,
Un tumulto generale
che fa l'aria rimbombar!
E il meschino calunniato,
avvilito, calpestato,
sotto il pubblico flagello
per gran sorte ha crepar.


Este amor poderoso e exigente (quem dera fosse uma calúnia...) não dá aviso prévio antes de explodir. Se não somos perspicazes o suficiente para abrir caminho para que ganhe corpo naturalmente... Transborda e estoura!!!

Ficamos em frangalhos... Espalhados para tudo que é lado. Parte aqui, parte acolá...
Todas as defesas: restringir seu lugarzinho, para-quedas, plano B, banco de reservas...

Cadê mesmo?

Mas tá tudo bem! A gente transforma em arte - a vida, afinal. E prosseguimos nos transformando, tornando-nos uma grande obra de arte...


P.S. Lembrei-me desta ária do Il barbieri di Siviglia - La calunnia è un venticello. O caminho é muito semelhante. Talvez por conta do medo que se ampara na razão.














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