quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Baggage claim

é sempre aquele momento tenso. Depois de horas no avião, resta saber se sairá do aeroporto rapidinho, ou se ainda ficará horas ou dias esperando pelas malas. Já que irremediável está, resta correr os olhos pela esteira e então ficar olhando pelo buraco de onde elas saem.
TODAS as malas são pretas! Todas retangulares, todas têm aquela fita vermelha para se diferenciar, ziper nos mesmos lugares, bolsinhos na frente iguais... E como cada um sabe qual é a sua mala?
O pior é que a gente sabe! Parece que ela está viva, que é cria sua! Ela grita por vc.

O que faz com que algo exatamente semelhante a vários outros seja especial?

O zíper ferradinho naquela curva, a rodinha detonada que impede aquele deslize perfeito em solo pouco liso, a forma meio amebóide de tanta coisa que entuchou lá dentro.

detalhes
pequenas imperfeições

A gente costuma dizer que homem(mulher) é tudo igual, só muda de endereço. Que todos acabam fazendo parte do "clube dos chatos". Mais! Já ouvi dizer de uma mulher sábia que, se soubesse disso, teria ficado no primeiro casamento.

Concordo, oras. Não quanto a ficar no primeiro casamento. Mas que é tudo igual. Tá cheio de cara que sabe conjugar verbos, tocar violão, consegue ler um texto e te explicar do que se trata, finge que te olha nos olhos mas está vidrado nas tuas curvas, que morre por uma partida de futebol, bebe e fala besteira (de outras mulheres, por exemplo), arrota e solta pum... mas apaixonado por uma mulher (ehhhh poetinha!).

Contudo, alguma coisa... o jeito que movimenta os olhos para o lado esquerdo, como um pré-nistagmo... a voz quase rouca ao me chamar... o cumprimento com um aperto de mão... o cheiro bom do teu corpo... os olhos míopes... os pés gelados...

detalhes
pequenas imperfeições que saltam só aos meus olhos

te fazem vivo para mim. Parece que grita por mim. Identifico-te numa multidão.

Qual será o momento em que esses pequenos detalhes se tornam grandes chatices? Quando o zíper estoura? Quando a rodinha da mala definitivamente empaca? E aí, vale a pena consertar? Ou... a imagem não sobrevive a um remendo? Ou melhor, quando ainda vale a pena consertar é pq o remendo não faz a menor diferença e se dilui entre os pequenos detalhes. Mas aí, para que consertar? Isso prolongaria a mágica?

Duvido.

Acaba quando termina
e libertamos a mala para outro alguém.

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