Pascal: "Les hommes sont si nécessairement fous que ce serait être fou par un autre tour de folie de n’être pas fou’. (...) Il faut faire l’histoire de cet autre tour de folie, de cet autre tour par lequel les hommes, dans le geste de raison souveraine qui enferme leur voisin, communiquent et se reconnaissent à travers le langage sans merci de la nonfolie...”
quarta-feira, 31 de março de 2010
Desrazão
Achava que gostava do que estava me tornando, mas percebo que em determinados espaços assumo a mesma postura que de hábito assumia - e tudo parece voltar à estaca zero. A mesma sensação de inércia. O tempo roubando minha vida...
Nesses momentos quero me resgatar! Quero ouvir tua respiração ofegante, o olhar que me atravessa, as mãos que exploram e se encaixam nas minhas curvas, o beijo que liberta da razão que sufoca. Sinto teu cheiro e me aqueço sob teu corpo que veste minha alma. Teus movimentos cada vez mais desesperados vão de encontro ao desejo de que me arrebate e me vire do avesso. Quero que puxe os cabelos e sinta a penugem do pescoço nos teus lábios úmidos que sugam meus devaneios. Que venha forte! E roube toda a minha razão.
Assim, irracionais, não há loucura. Permite-se a devassidão, o avesso, o que há de mais puro e sagrado...
...o amor.
terça-feira, 30 de março de 2010
domingo, 28 de março de 2010
Saudade
Nesses momentos, a falta imensa do imput sensorial com a sua voz, sussurros e gemidos, o som que emana da interação com as cordas do violão, o toque na minha pele que arrepia, os beijos que me liquefazem, as mãos... o abraço... o olhar... ; precisa se transformar para não abafar. E se faz dor.
Começa atrás dos olhos, dispara a glândula lacrimal. Prossegue pela nuca e irradia para dentro da caixa torácica, alterando a respiração e a frequência cardíaca. Não se tem mais idéia da organização interna do corpo - onde vão parar os órgãos, se o vazio é tão grande? Quanto maior a lembrança, maior o rombo. Acabo invaginando, como que sendo sugada por esse buraco negro, enquanto o vazio toma conta do meu espaço. Me perco nesse espaço, não reconheço mais meus limites.
Sou ponto. Dor pura... e lágrimas.
Pouco a pouco, consigo perceber a respiração...
Começo a re-expandir de modo regular, uniforme, todos os meus infinitos pontos emanam dessa força vital centrífuga, reconstituo-me como uma esfera de superfície lisa e escorregadia, nada me segura. Passam por mim e nada fica. Passo por tudo e em nada me prendo. Não há pontos frágeis ou deformáveis para em mim penetrar. Sou rápida, veloz, intrépida, esperando que, a qualquer momento, me toque novamente com seu imput sensorial.
Talvez assim me salve! Talvez consiga evaginar e abraçar aquele mundo que um dia foi tudo.
Mas esta é uma outra conjectura...
sexta-feira, 26 de março de 2010
Brasília é longe
Em Brasília, seca... Em São Paulo, chove... de l'eau
Vc de terninho... Eu de regatinha... no pé, melissinha
No teu braço, um felino... no meu pulso, reflexo... souplesse
Vc no cocktail... Eu de coq au vin... la joie
Na Tuim árvores despencam... Na Amazônia são overthrown
Brasília é só deserto... Baby... teu coração tá aberto?
Goldberg sound
Há momentos que vivemos como se fosse um acontecimento ordinário. Bacana, mas ordinário. Por vezes até pensamos que é especial porque nos traz aquela sensação de inusitado, de estranheza. Como uma peça que encaixamos no quebra-cabeças apertando e forçando um pouquinho as bordas - a imagem se mimetiza no contexto, mas o encaixe continua estranho.
O tempo vai passando... e pouco a pouco nos damos conta da beleza, da singularidade daquela peça. Ganha vida, escapa do encaixe programado, salta ao olhar e impregna em todo o nosso aparato sensorial. Com uma pinça delicada, deslocamo-na para um cantinho especial, envolta numa redoma de cristal.
E, nos momentos de turbulência, já sabemos para onde correr! Por baixo do cristal, mergulhamos naquela peça e nos embriagamos de toda a atmosfera, do mundo que se revela enquanto vela, que nos faz escapar do encaixe programado. Submersos no som dourado, atravessamos a tormenta com maestria... inusitada!
terça-feira, 23 de março de 2010
Ondas
aquarelar teu dia
Afagar teus cabelos
com a maresia
Roubar teu olhar
para o meu mar
Escuta o rítmo das ondas
que embalam o nosso ser
E veja com teus olhos míopes
a turbulência do silêncio do mar,
que agita o coração
e fura o estômago
Estou a teu lado
No breu da noite
o som divino reverbera
Onda que se propaga
e superpõe à coerente
que emana do meu ser
Queria que nelas surfasse,
bailasse e abrandasse teu sono
Colapse-as e verifique:
sempre a teu lado
sexta-feira, 19 de março de 2010
Write me down
a poem, a leaf, a song
Lift me, travel me around
scent, sense, wisdom
wishbone, a tale
Sail my ship along
sandstorms and blaze
ice cold and rain
Land me
where your body belongs
Por causa do telhado
não vejo o céu
que te esquece
- eu não!
O céu aparece
com ele tua visão
Amazônia ou Sudeste
gosto ou retidão?
Lobo-guará, jacaré-tinga
Av. Jacutinga, av. Rouxinol
meu lugar no mundo
de você estar
quinta-feira, 11 de março de 2010
Trem das cores
"a maioria dos acontecimentos é indizível, realiza-se em um espaço que nunca uma palavra penetrou, e mais indizíveis do que todos os acontecimentos são as obras de arte, existências misteriosas, cuja vida perdura ao lado da nossa, que passa." RM Rilke, Cartas a um Jovem Poeta
D(#5) era assim como se ouvia: leve, lindo, sorridente, enriquecia qualquer melodia e a ela acrescentava a possibilidade de múltiplos caminhos. Pra onde? Nunca seria possível prever! E essa era a graça. O c a m i n h o! Porque a música, com ele, sempre seria bela. Sedutor. Como não seria?
A/C# era radiante! Um som decidido, olhar de menina, fragilidade tonal... Aliás, qual o tom de A/C#? Como saber? Com ela, a harmonia ganhava cores e sabores sutis. Exalava paixão libertária e generosa por onde passava, inspirava a deuses e mortais com seu canto.
E assim, no trem das cores, se esbarraram. O encanto pelo contorno da imagem, o rítmo frenético e a dança esfuziante foi imediato. Sem saber o caminho, suas sombras se encontraram, dançaram entrelaçadas, perpassadas, transpassadas. Neste espaço de penumbra, tudo era possível, não havia avesso nem restrições, o balanço e as posições no rítmo do prazer, ela agia de acordo com o desejo dele e vice-versa. A música, cada vez mais encorpada, por vezes aparentava uma quantidade cada vez mais infinita de notas, mas na essência se sabia que a riqueza se encontrava na plenitude alcançada com simplicidade incrivelmente maior.
Na dança das sombras, pouco e muito se percebe de D(#5) e A/C#. Um dia, do trem das cores escapam. Vão compor outros sons. Sons que rodam mais, menos, circunstanciais, confortáveis, adequados, como lamentos... Poucos como uma obra de arte.
E, ao reconhecer uma obra de arte, nos embriagamos de toda a penumbra dos sons e cores porque nossa melhor música a ela abraça. Assim voltamos a encontrar nossas sombras entrelaçadas naquela dança que trazia inveja aos deuses e ruborizava qualquer mortal.
Com esta sombra de composição mágica e existência misteriosa, a vida passa sim. Mas muuuuuito melhor!
sábado, 6 de março de 2010
Tempo de encanto - In my life
Lennon & McCartney
O erro dela foi deixar de esquecer que nasceu antes do tempo
Onde fica guardado o tempo presente?
Onde escondemos o tempo ausente?
Como nos proteger do tempo distante porvir que sempre nos bate à porta?
o tempo de desejo quase incontrolável
de vontade de te enlaçar, desvendar, fundir
na presente ausência
E não se render ao espanto pelo pouco tempo de convivio frente à impressão da eternidade na intimidade.
A fusão da essência num instante
Em que somos senhores do tempo
Te procuro tanto...
corpos semelhantes, mentes brilhantes,
mas a essência... não roda comigo.
E se perde no tempo
Já não sei mais o que esperar, o que deliberar
Querido super hero
Se não vieres me buscar
Irei ter contigo
Ter muitas flores, cristais e brincos
Festas e afagos
Beijos acordados
Acordes de violão
Bailarinas suspensas
Ventos de outono
Sem rumo e sem dono
quarta-feira, 3 de março de 2010
Joker
Rir da seriedade
Encarar o ridículo com respeito
Afinal, há o que se respeitar?
Se tudo sempre termina
e quando menos se espera
Me entrego então nos teus braços
ilimitados
atemporais
eternos
sem cobranças nem neuroses
sem nada esperar
sem nada a oferecer
além do momento
Nada quero construir
nem relação, nem futuro
sem tecer ou maquinar
só quero os teus braços
teus lábios, o amasso
as pernas que se confundem
na loucura do desejo
e, sem pestanejar
nus e melados
me esfrega, te penetro
à força, com força
que meu corpo se dissolva no teu
Não quero mais corpo,
nem espírito
Só destila meu desejo,
a essência
a única força
que escapa e move
...a grande piada
segunda-feira, 1 de março de 2010
Lisonja
A era apaixonado por B. E como não seria?
B era o mais inteligente, o mais bonito, generoso, de uma elegância...
E A?
Ah... A sonhava... Sonhava que um dia seria tudo para B, assim como B fazia do seu mundo muito melhor! O mundo com B era colorido, sentia-se flutuar na brisa fresca constante. Nada daquele sol escaldante sufocante, ou da chuva que gelava a alma.
Assim, sempre que B aparecia, A sorria e trazia à tona todo aquele mundo de sonhos. B achava tudo aquilo de uma generosidade doce, ficava comovido com tanta atenção. E A continuava a esbanjar material digno para a construção de um castelo precioso para B.
B, lisonjeado, assim o fez. Pedra por pedra, suspiro por suspiro, de flor em flor... o castelo montava.
De repente, sem explicação, A se cansou. Ou talvez, B tivesse deixado de lado tudo aquilo que era para... construir castelos. Ou mais: talvez B nunca tivesse sido aquilo tudo por quem A suspirava...
O fato foi que A conheceu C, este sim o mais inteligente, o mais bonito, generoso, elegante que só.
E B?
Está lá, aguardando peças, perdido naquele castelo sombrio inacabado, em que tudo veio e viria somente de A