quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Tapa na cara

Existe casamento duradouro e prazeiroso? Percebo constantemente a troca de olhares semelhante a um duelo de luta livre - nada elegante. O homem, enjaulado. A mulher, fazendo de tudo para abafar qualquer rebarba: cortante com um sorriso estampado. Enjaulado, mostra-se ora apagado, ora com um brilho furioso. Sorridente, ora o ignora, ora o massacra com seus espinhos. A ironia agressiva, o silêncio que esmaga. Isso tudo porque se amam. Ora, o amor vai se transformando - é isso que nos dizem. Da paixão repleta de descobertas e o suspiro inesperado, para o confortável comportamento previsível da convivência e do amor fraternal em que se prevê até a frequencia respiratória nos diversos momentos da rotina. O hábito faz das armas, diálogo. A destruição é tanta, que a solidão se mostra assustadoramente como beco sem saída: impossível sobreviver sozinho. E aí a razão encontra explicações para o injustificável:
- Ele tem bom coração
- Ela é a mãe dos meus filhos
- Ele é um pai exemplar
- Ele(a) me dá a liberdade para fazer o que eu gosto - sozinha(o)
- Nunca faltou nada em casa
- A transa é ótima! Já nos conhecemos bem e sabemos direitinho o que fazer - a sequencia é certeira. Sábado, quando não precisamos acordar cedo no dia seguinte, fora da maré vermelha e longe dos períodos férteis. OU - Sabe como é... chega um momento na nossa vida que isso já não é mais importante.

Enquanto, no fundo, a razão em sua face mais cruel e repleta de moral:
- Eu PRECISO dele(a) porque já nem sei mais como caminhar sozinha(o). Quem vai me sustentar? Quem vai manter a casa? Quem fará meu IR? Quem irá ao supermercado para mim? Quem cuidará das crianças? Quem? Quem? Quem?

Vc se procura no espelho e não reconhece mais seu reflexo. Mais que o medo da solidão, está
O PAVOR de se encarar e se perceber completamente incapaz!

Mais fácil encarar as agressões veladas com o cheiro de amaciante dos lençóis, geladeira farta, férias na praia... conforto... conforto... conforto
A vida fica pequenininha, mas confortável. Não falta nada.

Ou falta?

A vida circular se mantém às custas de energia. Uma PUTA energia. Lembra que para cada ponto no movimento circular, existe uma força tangencial? Por que não escapar? Por que não se jogar no abismo e reencontrar suas inúmeras faces em potencial? A útil/inútil, forte/frágil, carente/generosa, amiga/inimiga, empreendedora/fracassada... Tudo, mas tudo mesmo, só caminha acompanhado do seu avesso. Não precisa temê-lo - só o encarando conseguimos a independência da face desejada.

E tem coisa melhor do que, enfim, conseguir enxergar nosso reflexo no espelho?

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