Pascal: "Les hommes sont si nécessairement fous que ce serait être fou par un autre tour de folie de n’être pas fou’. (...) Il faut faire l’histoire de cet autre tour de folie, de cet autre tour par lequel les hommes, dans le geste de raison souveraine qui enferme leur voisin, communiquent et se reconnaissent à travers le langage sans merci de la nonfolie...”
sábado, 14 de abril de 2012
Escaninhos
Acho que temos uma mania de otimizar tempo e espaço. Já Kant começa - para conhecer um fenômeno, precisamos situá-lo no tempo e no espaço.
Deste modo, organizamos nosso pensamento para conhecer alguma coisa.
Com o tempo, o conhecimento vai ficando cada vez mais complicado. É um hábito - e talvez o único jeito que sabemos - encaixar a novidade no que já está dentro de nós. Como num quebra-cabeças, as coisas vão se familiarizando, vão se encaixando e tudo retoma a harmonia... Como no canto direito do desenho, em que o espaço até já se encontra preparado para receber o "novo" conhecimento.
Entretanto, por vezes, aquilo que é realmente novo tem tamanha força que destoa do restante do conteúdo já organizado em escaninhos no nosso pensamento e modo de vida. O espaço destinado a esta sementinha, daria direito a uma florzinha naquele jardim, já ocupado por diversas outras flores mais ou menos belas, mas com o mesmo formato (como no canto inferior esquerdo do desenho exposto). A força e a personalidade desta "coisa" atinge proporções tais que ameaçam tuuuuudo que foi milimetricamente encaixado para manter a harmonia. A beleza, tanta, que hipnotiza e parece que quer te expulsar do teu mundo.
O que fazer com esse "monstro"? Se o mantém, periga ocupar um espaço com o qual vc não estava preparado. E, se não está preparado, se esse monstro esvanecer, o que será do pouco que restar?
Se o expulsa, como não se arrepender por ter deixado escapar algo que fascina justamente por sua força e imposição de não se render à estrutura já formada?
Dilema... Parece se estar num beco sem saída.
O que venho aprendendo... aos poucos...
A harmonia dos encaixes, não passa de ilusão. A novidade, assim que se amolda às outras estruturas, deixa de ser novidade. E deixa de ser novidade por nossa culpa. Pelo medo de nos render à sua força e ineditismo.
O que fazer?
Não há encaixes. Não há escaninhos. Os espaços não são delimitados, e não precisamos deles para conhecermos. Há que se respeitar o que quer se impor. O que tem força para crescer. E se ganhar proporções enormes e estourar, como uma bolha de sabão?
Lembra que os espaços não são delimitados? Que não há encaixes nem escaninhos? Portanto, não haverá o vazio, a memória dolorosa daquele espaço. Sim, a lembrança existe e é boa. Aquela que nos relembra do que vivenciamos e do quanto aquilo nos transformou para sermos capazes de acolher outra novidade de peito aberto. Seja qual for, seja o tamanho que for ocupar, ou o tempo que durar.
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