sábado, 17 de março de 2012

Eu uso óculos

Hoje estava num lugar pouco nobre enquanto aguardava o parecer técnico sobre a revisão do carro. Assistia a um canal aberto condizente com aquele espaço, em que passava uma reportagem ainda mais sincrônica, de onde extraí a seguinte afirmação:

 "As mulheres cariocas são as mais infiéis no mundo - 44% delas já traíram os parceiros. Seguidas pelas suíças. Particularmente as do Leblon".



Dados colhidos em um "site de relacionamento".

O mais divertido eram os depoimentos. "Ahh... aprendi com os homens" ou "Traí porque fui traída"

Fica aí uma confusão se este comportamento é inerente às mulheres ou se são reativos à traição masculina. Deste modo, pode-se suspeitar que talvez os cariocas sejam também os maiores traidores. Ou os que dão mais bandeira. Ou então, as meninas do Leblon é que usam óculos...

Enfim, toda confusão de opiniões e sentimentos mostram que existe um ponto mais profundo e escondidinho que permitiu tamanha divergência de caminhos. Geralmente, um ponto que causa estranheza e dá um soco no estômago - o medo de encará-lo é tanto, que é melhor deixá-lo onde está.

Entretanto, cada vez mais interesso-me pelos avessos. Tento despir-me das pilastras e fundações que mantém a arquitetura deste edifício que nos foi imposto.

Por que a impossibilidade de se amar mais que uma pessoa?
Acredito que seja difícil sim nos apaixonarmos por mais de uma pessoa, já que este sentimento é ENORME e nos consome. Um relacionamento que se preze, ao meu ver, começa com uma paixão. Mas ela vai embora - e isto é fato até comprovado via neurotransmissores... Mas é tão especial e estarrecedora que imprinta-nos sua exclusividade e efemeridade.

Aí precisamos das garantias racionais e institucionais: "sou só sua (seu) na alegria e na tristeza, até o fim dos meus dias..."

Não é assim, vai...

O amor, aquele do dia a dia, em que respeitamos e admiramos o outro e a presença dele queremos em momentos especiais (na alegria e na tristeza), dormir juntinho, conversar sobre o infinito entrelençóis no escuro do quarto, saber pela mudança do padrão respiratório se o sono já chegou ou não, talvez até seja duradouro sim (pelo menos é o que mostram os neurotransmissores), mas quem disse que é exclusivo?

Quem tem filho sabe. Quando esperamos o segundo, achamos IMPOSSÍVEL amá-lo tanto quanto o primogênito. E vivenciamos. O amor não é o mesmo. Afinal, são diferentes (e fazem questão de ser diferentes!!! Já nascem sabendo que precisam ocupar o espaço que o outro não ocupa!). São incomparáveis. Não dá para colocar lado a lado, parear, classificar e ranquear. À partir do momento em que assim se faz, entramos em tilt por comprovar a injustiça com o desfavorecido.

Entre irmãos existe a estranheza, o ciúme. Mas a convivência e a sinceridade garantem a força do afeto, ameniza a situação e permite a convivência - oras, a família!!! O segredo talvez seja o respeito e sinceridade deste amor por ambos. A certeza de que são diferentes, grandiosos e incomparáveis. Por isso não há possibilidade de escolha. E, deste modo, não há desrespeito.

Daí a integridade do afeto - o respeito por sua essência.

Não se pode permitir que a moral desrespeite a existência do amor. Ele não é exclusivo pq é incompleto (ainda bem! O dia em que se acreditar que o amor completa, passa a se acreditar em príncipe encantado e contos de fadas...). E precisa ser respeitado.

Como diz Sade, de novo, somos nossos principais tiranos. Toda a moral imposta para afastar o medo do que machuca, acaba nos corroendo ainda mais. Talvez o maior ensinamento deste diacho desta vida seja confiar em nossa capacidade de tratar a própria ferida. Sem medo, isso fica cada vez mais "fácil".




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