Começa com uma aferência que nem sabemos de onde vem, e ninguém imaginaria que arrebataria - se soubesse do estrago que poderia suscitar, com certeza não faria...
É um desconforto retroesternal (no meio do peito, lá no fuuuundo) difuso, mas não uniforme. Como se uma revolução se passasse entre as hemácias, os neutrófilos, linfócitos, plasma. Todos em guerra e correndo em direções variadas. Acho que por isso se passa nesta região - é onde se localizam os grandes vasos.
Segue por uma alteração imediata nos músculos faciais. O que antes era só sorrisos, acaba por paralisar. Não há movimento possível. Até se tenta alguma contração voluntária, mas não se ativa nenhum complexo actina-miosina.
O rebuliço (agora precordial) soma-se às imagens e caraminholas que correm nas curvas do pensamento. O sinergismo é impressionante, eleva-se à enésima potência, e as glândulas lacrimais são ativadas. Parece que a atenção, a percepção dos movimentos e discursos alheios ficam aguçadas e à espreita. Qualquer brecha é estopim para uma saraivada de tiros precisos, ferinos, carregados de veneno. O alvo nem sempre tem a ver com o que desencadeia todo esse tormento. Tem a ver com o que mais afeta o outro. O ponto fraco. Ou, o que achamos ser o ponto fraco...
Trata-se de uma nuvem cinzenta em que a dor é tanta para todos os envolvidos, e que mal se identifica o que se tem de mais importante. O sentimento - nem se ousa falar amor aqui, moralmente não combina com coisa ruim, mas é ele mesmo! - é que faz aflorar essa dor de modo proporcional. A dor [que faz (ativo) ou não (passivo) atirar no outro] é tão grande quanto o sentimento. Talvez não mais ocorra quando o sentimento arrefece.
Quem se sente machucado nem imagina o quanto já machucou o outro... afinal, como já disse, essa revolução sanguínea ocorre com aferências que os próprios envolvidos, inconscientemente, pretendem subestimar.
Ruinheira total. Mas faz parte, infelizmente... Nada mais humano que admiti-lo, e, quem sabe, colocá-lo como objeto de estudo. Afinal, é o que o homem moderno e pós-moderno faz com tudo que o ameaça.
Mas será que este distanciamento tbém não arrefece o amor?
Sejamos humanos! A dor faz parte da cura!
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