Pascal: "Les hommes sont si nécessairement fous que ce serait être fou par un autre tour de folie de n’être pas fou’. (...) Il faut faire l’histoire de cet autre tour de folie, de cet autre tour par lequel les hommes, dans le geste de raison souveraine qui enferme leur voisin, communiquent et se reconnaissent à travers le langage sans merci de la nonfolie...”
sexta-feira, 29 de julho de 2011
White House
Sempre tive tudo.
Uma boa família
Bons colégios
Amigos preciosos
Trabalho com que gosto,
e este nos faz bem.
Tenho até um amor,
outro maior do mundo
Não tenho uma medalha,
uma dor elegante.
Mas carrego uma dor surda
muda e cega
a que não se ousa mencionar
e que por vezes quer me roubar do mundo
Não sei de onde vem
nem para onde quer ir
Não tem para quem gritar
E nem quem a ouça, posto que é muda
Como a da saudade
de alguém que nem vi ou ouvi ou senti
E, por vezes, cutuca
machuca
traiçoeira, arisca,
não a encontro
Procuro...
Capturo, com uma pinça
como a pontada de uma agulha fina
nos pontos com maior terminação dolorosa
fibras finas
dor aguda
de algum modo preciso localizá-la
Acho que é a dor de viver.
sábado, 9 de julho de 2011
A revolução sanguínea - parte 2
"ciúme é um complexo de pensamentos, sentimentos e ações que se seguem às ameaças para a existência ou a qualidade de um relacionamento, enquanto estas ameaças são geradas pela percepção de uma real ou potencial atração entre um parceiro e um (talvez imaginário) rival"
White, G. L. (1981)
Cabe salientar 3 aspectos:
1. A qualidade do relacionamento
2. A percepção de um real ou potencial rival - uma suspeita
3. O complexo de pensamentos, sentimentos e ações resultantes.
1. Quando o relacionamento está indo muito bem, o ciumento não consegue nele acreditar. Oras, impossível que os dois se gostem tanto... sempre vai sobrar um espacinho em que o amor não esteja presente (o passado e o futuro são ótimos e constantes exemplos, afinal, estão excluídos do presente!). Aí o próprio sujeito se perde do resto, pois, na identificação com o que ele acreditava ser o objeto do desejo do outro, algo vacila dentro do seu próprio ser.
2. Portanto, é neste espacinho imaginário que aparece esta "percepção". Não passa de uma suspeita, e não importa se o fato é real ou não... Assim que aflora, implica na sua automática repressão. O ciumento sofre tanto com a suspeita quanto com a insistência ridícula em se perturbar com algo absurdo. Um amor sem ciúme talvez fosse sinal de um ciúme bem recalcado pelo sujeito (o que se observa na política familiar e social).
3. Posta a incapacidade da desconstrução da suspeita, segue-se o complexo de pensamentos, sentimentos e ações resultantes. Os pensamentos e sentimentos ficam perdidos nos giros cerebrais. Impossível racionalizá-los, já que partem de uma premissa... inexistente!
Talvez só seja possível identificar e isolar as ações - desde a frigidez (Bentinho) à vingança (Othelo).
Ou...
Um silêncio de algumas horas...
O ciúme, ou a revolução sanguínea
Começa com uma aferência que nem sabemos de onde vem, e ninguém imaginaria que arrebataria - se soubesse do estrago que poderia suscitar, com certeza não faria...
É um desconforto retroesternal (no meio do peito, lá no fuuuundo) difuso, mas não uniforme. Como se uma revolução se passasse entre as hemácias, os neutrófilos, linfócitos, plasma. Todos em guerra e correndo em direções variadas. Acho que por isso se passa nesta região - é onde se localizam os grandes vasos.
Segue por uma alteração imediata nos músculos faciais. O que antes era só sorrisos, acaba por paralisar. Não há movimento possível. Até se tenta alguma contração voluntária, mas não se ativa nenhum complexo actina-miosina.
O rebuliço (agora precordial) soma-se às imagens e caraminholas que correm nas curvas do pensamento. O sinergismo é impressionante, eleva-se à enésima potência, e as glândulas lacrimais são ativadas. Parece que a atenção, a percepção dos movimentos e discursos alheios ficam aguçadas e à espreita. Qualquer brecha é estopim para uma saraivada de tiros precisos, ferinos, carregados de veneno. O alvo nem sempre tem a ver com o que desencadeia todo esse tormento. Tem a ver com o que mais afeta o outro. O ponto fraco. Ou, o que achamos ser o ponto fraco...
Trata-se de uma nuvem cinzenta em que a dor é tanta para todos os envolvidos, e que mal se identifica o que se tem de mais importante. O sentimento - nem se ousa falar amor aqui, moralmente não combina com coisa ruim, mas é ele mesmo! - é que faz aflorar essa dor de modo proporcional. A dor [que faz (ativo) ou não (passivo) atirar no outro] é tão grande quanto o sentimento. Talvez não mais ocorra quando o sentimento arrefece.
Quem se sente machucado nem imagina o quanto já machucou o outro... afinal, como já disse, essa revolução sanguínea ocorre com aferências que os próprios envolvidos, inconscientemente, pretendem subestimar.
Ruinheira total. Mas faz parte, infelizmente... Nada mais humano que admiti-lo, e, quem sabe, colocá-lo como objeto de estudo. Afinal, é o que o homem moderno e pós-moderno faz com tudo que o ameaça.
Mas será que este distanciamento tbém não arrefece o amor?
Sejamos humanos! A dor faz parte da cura!
É um desconforto retroesternal (no meio do peito, lá no fuuuundo) difuso, mas não uniforme. Como se uma revolução se passasse entre as hemácias, os neutrófilos, linfócitos, plasma. Todos em guerra e correndo em direções variadas. Acho que por isso se passa nesta região - é onde se localizam os grandes vasos.
Segue por uma alteração imediata nos músculos faciais. O que antes era só sorrisos, acaba por paralisar. Não há movimento possível. Até se tenta alguma contração voluntária, mas não se ativa nenhum complexo actina-miosina.
O rebuliço (agora precordial) soma-se às imagens e caraminholas que correm nas curvas do pensamento. O sinergismo é impressionante, eleva-se à enésima potência, e as glândulas lacrimais são ativadas. Parece que a atenção, a percepção dos movimentos e discursos alheios ficam aguçadas e à espreita. Qualquer brecha é estopim para uma saraivada de tiros precisos, ferinos, carregados de veneno. O alvo nem sempre tem a ver com o que desencadeia todo esse tormento. Tem a ver com o que mais afeta o outro. O ponto fraco. Ou, o que achamos ser o ponto fraco...
Trata-se de uma nuvem cinzenta em que a dor é tanta para todos os envolvidos, e que mal se identifica o que se tem de mais importante. O sentimento - nem se ousa falar amor aqui, moralmente não combina com coisa ruim, mas é ele mesmo! - é que faz aflorar essa dor de modo proporcional. A dor [que faz (ativo) ou não (passivo) atirar no outro] é tão grande quanto o sentimento. Talvez não mais ocorra quando o sentimento arrefece.
Quem se sente machucado nem imagina o quanto já machucou o outro... afinal, como já disse, essa revolução sanguínea ocorre com aferências que os próprios envolvidos, inconscientemente, pretendem subestimar.
Ruinheira total. Mas faz parte, infelizmente... Nada mais humano que admiti-lo, e, quem sabe, colocá-lo como objeto de estudo. Afinal, é o que o homem moderno e pós-moderno faz com tudo que o ameaça.
Mas será que este distanciamento tbém não arrefece o amor?
Sejamos humanos! A dor faz parte da cura!
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