Um dia fostes tudo para mim. Te dei meu sol, minha lua, meu sim, meu não, até meus sonhos. Nada além enxergava. Não era possível. E ainda assim não me sentia capaz de te dar o que merecias. Tudo ainda era pouco.
Com o tempo, fui percebendo que já não tinha nada. Não me encontrava no pouco que restava de mim. Como procurei... Nos filmes, nos livros, no fiasco de paixão que sobrava do olhar de um outro alguém.
E que inveja...
Eu não tinha mais nada para oferecer. Eu não era mais ninguém. Restava o espaço que meu cisco de corpo ocupava em algum lugar da casa, do consultório, do hospital ou dos lares dos nossos amigos que nos viam como um... e alguma casa decimal.
Bom, por algum milagre, acho que por instinto de sobrevivência, capturei o soprinho de vida que ainda tinha e, alcei vôo - acho que já tinha virado pó e não sabia! Gostei da brisa, senti enfim o ar entrando pelos meus pulmões, insuflando os alvéolos atelectásicos, voltei a ter volume. O espaço que agora ocupava, não cabia mais naquele cisquinho que me era de direito. Quando insistia em voltar, sentia novamente o colapso alveolar progressivo e lento... Por hábito. O fluxo já tinha direção e sentido estabelecido. Irremediável.
Agora, sei que o mundo me espera. Sei da fome que meus olhos sentem pelas infinitas imagens oníricas, sonoras, inusitadas, poéticas, irônicas, concretas, ideais, experimentais, essenciais... O caminho é repleto, banhado pelo luar. O sol está chegando. Pouco a pouco.
Mas... o que deixo , o que de mim se foi, o mundo que te dei e se foi, não recupero mais. A sede de beber o teu desejo se foi. E com ela, o melhor e o pior de mim. Ao teu lado me vejo pó.
Preciso voar.
Preciso!
Desculpe-me... é questão de sobrevivência.
Por mais tempo que passe, continuo perdidamente apaixonado. Apenas finjo que "está tudo bem", porque é este o meu papel. As lágrimas, eu as choro para dentro da alma e deste modo ninguém precisa ver a minha dor. No fundo, admito sim te perder para o mundo, pois somente assim o mundo pode tê-la plena. Passado, presente, futuro. Olho para o passado e considero-me um privilegiado por tê-la ao meu lado durante todos estes anos, mesmo sem saber que o cotilédone guardava a flor. No tempo presente, fico perplexo com tanto tesão e vontade de viver: sinto profunda inveja dos homens, reais e imaginários, que merecem este versos maravilhosos que todos podem ler. No último dia do meu futuro, eu olho para trás confiante e digo para mim mesmo: ninguém amou esta mulher mais do que eu amei. Por isso (mas não só por isso), vai, busca o sol que te aquece, busca o sol que te alimenta, voa sobre as nuvens e me deixe aqui no chão, embasbacado com o brilho das tuas asas novas.
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