domingo, 11 de setembro de 2011

Arrependimento

Para meu mestre Aristóteles, a ação (e não o pensamento) destina-se ao Bem. A felicidade seria o sumo Bem ou, a somatória de todos os bens. O que seria o Bem? O fim de uma ação justa, aquela em estreita conexão com o pensamento, feita mediante a reflexão sobre os meios que conduzem a ação.

Deste modo, para bem escolher, não se leva em consideração o resultado (fim) almejado, e sim os meios disponíveis naquele momento.

É um aprendizado. Quanto mais ações deliberadas deste modo, "melhor esculpidos" os fins conquistados e mais próximos estaremos da felicidade.

Mas nem tudo são flores...

Por vezes, agimos independente da nossa vontade. Forçados. Como quando opta-se por comprometer uma artéria nobre para extirpar um tumor. É uma ação involuntária. Causa dor.
"Por vezes é difícil julgar qual coisa se deve escolher ao preço de qual outra e o que suportar em troca de quê, e é ainda mais difícil perseverar nas resoluções, pois nas mais das vezes o que é esperado é penoso, e aquilo a que somos compelidos é vil; de onde há ou não louvor e censura a respeito de quem é compelido."

Outras, desconhecemos algum ponto que seria essencial no processo da deliberação. Ou, não conseguimos identificá-lo a tempo e só nos damos conta daquele ponto depois de ter agido. Como quando tratamos uma infecção com um antibiótico que traz uma reação alérgica naquele paciente. A crise alérgica foi suscitada por ignorância.

E onde fica o arrependimento nessa conversa de louco?

Aristóteles diz que quando nos arrependemos, o ato foi involuntário. Se não há arrependimento, o ato foi não-voluntário.

E por um acaso adianta nomear alguma coisa? O que importa se o ato foi involuntário ou não-voluntário?

Bom, se não há arrependimento, creio que não há aquela vontade de refazer tudo de novo, ou
1. o ato não voluntário foi bem deliberado, ou seja, o fim compensou o que foi deixado para trás. Sentimo-nos responsáveis pela ação que chega a ser louvável - apesar da dor pela perda.

2. ligamos o "foda-se" e não estamos nem aí para o resultado obtido. Foi circunstancial, acontece com todo mundo. Não nos sentimos responsáveis e pronto.

Se há arrependimento... Aí é foda. Dá vontade de voltar no tempo, fazer tudo de novo, e sabemos que, já que não conhecemos os "caminhos de minhoca", isso ainda não é possível.

Talvez o mais difícil seja discernir o que é a dor pela perda e o que é arrependimento, dado que são motivos e consequencias diversas de sentimentos próximos.

Acho que, no momento, estou arrependida. Fiz uma escolha sem conseguir enxergar direito as circunstâncias. A aflição era tanta, aferências diversas, não fui capaz. Eu queria voltar no tempo e fazer tudo de novo.

Mas o Filósofo de novo nos salva. As ações são frutos da razão aplicada às emoções. Como não há como matematizar as emoções, há que se fazer sempre um ajuste entre a razão e a natureza imprecisa do processo da escolha. Como um arqueiro que mira o alvo. Dificilmente o acerto é exato. Perdoamos a quem erra por pouco, assim como elogiamos a quem quase acerta.

"Ethica Nicomachea". Recomendo!!!

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