quinta-feira, 14 de abril de 2011

Presente



No meio do caminho para um lugar que nem me lembro mais qual seria, um portal pulou na minha frente. Entre o caminho certo e enfadonho para o lugar esperado, e aquele fato completamente inesperado, resolvi abrir aquela porta.

Foi por um triz.

Foi num intervalo de pensamento.

Abri devagarinho... cheia de medo... olhando sempre para trás para ter certeza que poderia voltar para os trilhos.

Apesar de sombrio, não mais que uma luz difusa, a escada imponente de mármore contrastava com a penumbra local e emanava um aroma irresistível. Sem ter a menor idéia de onde iria parar, subia degrau a degrau. Fisgada, o frio na barriga me puxava cada vez mais para o alto. A cada etapa, uma enxurrada de emoções, como um tapa na cara. Já nem pensava mais no caminho de volta. Estava completamente perdida.

Ou...

Não mais me sentia perdida. Porque não havia mais caminho ou trilho certo para chegar ao lugar esperado (esperado por quem afinal?). Pela primeira vez, tateando, de antena ligada a quaisquer oscilações, subia degrau a degrau. O presente como presente.

Destemia, enfim, o inesperado. E tudo por um triz...

"O olhar filosófico não prevê, nem o dizer filosófico prediz. Apenas, como escreveu Deleuze, fazem-nos‘atentos ao desconhecido que bate à porta’. Situam-nos na difícil passagem entre o que já se diz e vê e o que não ainda, entre o agora e o devir, o Mesmo e o Outro, entre o que somos e o que estamos vindo a ser. É assim, creio, como pensamento de limiar que o pensamento filosófico é uma ontologia do presente.”
Muchail, S. em "Foucault, simplesmente"

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