domingo, 29 de novembro de 2009

Por um instante

Meu olhar clínico sempre enxerga o que não se vê, o que não é dito, o que se mostra pelas beiradas... o que não se entende. Reúno o conjunto de sinais e sintomas, a estatistica que em mim vive, e faço meu diagnóstico.

Nas entrelinhas, percebo a intenção. Nos gestos, a informação.

Assim, sabe que te espero. E sei que me espera. Sabe que não quero todo o teu tempo. Sei que não posso te oferecer todo o meu tempo. No entanto, um laço nos enlaça em algum momento, curto, longo, esporádico ou frequente. Momento de escape, de vida grandiosa, de... entrega.
Deste modo, por mais que o objeto seja ideal, a tua vivência me conforta, me faz melhor, me faz o ser redondo com 4 braços e 4 pernas do Aristófanes, aquele que corre mais que qualquer ser humano, que desmedidamente desafia os Deuses: quando estamos encaixados pelo prazer, face a face, corpo a corpo, confundindo nossas pernas, os toques das mãos (de quem são as mãos?), misturando nossas seivas, cheiros, olhares, quando meu desejo ganha proporções absurdas quando se reflete no teu... Alcançamos a velocidade da luz, driblamos o tempo dos mortais, atingimos a esfera supra-lunar. Vivenciamos o infinito durante a pausa que nossa existência nos oferece.

Só precisamos nos permitir. Permitir que o medo da entrega seja acolhido, porque este faz parte da existência! E mergulhar no desejo, sem culpa, sem receio de tropeçar, sem temer a decepção.

É possível!!! Porque sabemos dos limites. Sabemos quando acaba. E só acaba para começar de novo, com outras cores, com o mesmo sorriso, com o mesmo olhar...

Te amo...

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Ginger e Fred

Ginger e Fred
Gengibre e maionese
Dois bailarinos
E a Ginger se apaixonou pelo Fred
Dois meninos
Marcaram o salão , quadril a quadril
Dois arlequinos
Ginger só aconchego, Fred só diversão
Dois colombinos
Na quarta-feira descobriu-se a farsa,
de Carnaval; seguiram
Dois destinos

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Des-graça

Não se aproxime
Graciosa,
Sou doce ao paladar,
Moldo ao teu abraço
Frágil ao olhar
Pulverizo sonhos pelos poros

...mas não se aproxime
Tua virilidade me excita
Curvo-me às tuas palavras
Abro-me para tua entrada
Vigorosa, maldita, contravertida
Sombria, satânica


Não se aproxime!
Te acolho, me molho, teu molho
Enfeitiço teu mundo, vasto mundo
Anseia mas não ousas escapar
Não me bastas, te tenho
Enfadonho, te mantenho

Não ouse!
Te castro
Espana-se-me
Não se encaixa mais
Não me interessa mais
Sem graça

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

3 momentos

Momento 1: o encantamento/ "You never know"

A gente não sabe o que vai acontecer
Quando irá sofrer
Quando começa e quando acaba
Quando a chama arde e quando se apaga
Se chove lá fora ou se brilha
a luz que dentro de mim alumia
um sorriso gostoso
um olhar calda de chocolate
um esmalte, escarlate
que me encanta te encantar

Momento 2: a espera/ "Quando ele vier"

Quando você me quiser:
que não demore
que não seja pouco
que não seja oco
que seja doce, como de coco

Quando você vier
estarei sentada, deitada ou em pé
Me toque, mas não me açode
Me alegre, mas não me adoce
Na pista ou no interior do quarto
No agito ou no regaço
do teu abraço

Fecho os olhos agora:
o teu amor, quando ele vier

Momento 3: a desilusão/ "Era sonho"

era sonho e se acabou
era sonho quando você me abraçou
me levantou e me fez voar
acordei e você não pode ficar
nestes caquinhos de catar
estilhaços a despedaçar
a desperdiçar
as entranhas da manhã