quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Cosmos

Sonnet 116
William Shakespeare
Let me not to the marriage of true minds
Admit impediments. Love is not love
Which alters when it alteration finds,
Or bends with the remover to remove:
O no; it is na ever-fixed mark,
That looks on tempests, and is never shaken;
It is the star to every wandering bark,
Whose worth´s unknown, although his height be taken
Love´s not Time´s fool, though rosy lips and cheeks
Within his bending sickle´s compass come;
Love alters not with his brief hours and weeks,
But bears it out even to the edge of doom.
. If this be error and upon me prov´d,
. I never writ, nor no man ever lov´d.
Não há empecilhos quando mentes
Verdadeiras se afeiçoam. O amor inexiste
Quando se altera por qualquer motivo,
Ou se curva sob o ímpeto apressado:
Ah não! É um olho inabalável,
A mirar as tempestades, sem se alterar;
É a estrela-guia de todo barco à deriva,
Cujo valor se desconhece, embora alta viva sobre o mar.
O amor não serve ao Tempo, embora suas róseas faces e lábios
Curvem-se ao arco de sua longa foice;
O amor não se altera com suas breves horas e dias,
Mas sustenta-se firme até o fim das eras.
Se tudo que eu disse se provar um engano,
Jamais escrevi, nem amou qualquer humano.
Trad: Thereza Christina Rocque da Motta


Eu me lembro bem. Não poderia esquecer. Experimentava a liberdade plena, de tempo e espaço ilimitados. A cada estação de trem, abria-se o portal dimensional para um mar aberto. Deixo-me à deriva e permito-me não escolher o destino... Naquele instante à beira do abismo, faço da mochila meu sofá e retomo Clarice Lispector: minha língua, minha pátria. Encerro-me neste mundo enquanto ouço palavras irreconhecíveis. Longe, bem loooonge..


E surge sua voz que me abduz! Palavras aconchegantes, calor familiar, sotaque d e l i c i o s o... Em algum lugar em constante movimento, a lua e a estrela acompanham nossa conversa desenfreada: aventuras, experiências, expectativas, incertezas, o sonho de uma vida porvir - e quem diria que era justamente aquele momento o maior dos sonhos... Sem nos dar conta, o sol emite a luz que aquece o corredor do trem. Pouco a pouco, a mágica do movimento esvaece e o destino nos alcança.


Exausta da errância, resolvo seguir seus passos. Quero me fartar de lar. Entro no seu olhar e sinto seu desejo de abocanhar o mundo. Assim me fagocita. Quer minha pele macia, minhas curvas de destino incerto, minhas entranhas que assombram e perseguem a luz. Desliza no calor úmido que escorre pelas pernas... Assim quer mais, sempre mais e penetra no fundo do meu ser. Ex-siste, in-siste, e no rítmo desta dança cada vez mais frenética, explodimos nossos sentidos que espalham quasares no caos. Neste momento repleto de imagens na penumbra, acolhemos a infinidade de estrelas que habitam nosso cosmos.

... e nada poderia ser mais verdadeiro!

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